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Mercado imobiliário

A era do pós-shopping

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O boom imobiliário registrado no Brasil desde 2008, que resultou em crescimento significativo da indústria da construção civil, se refletiu em todos os segmentos desse vasto mercado, começando pelo setor residencial, passando pelo comercial e industrial, e chegando aos shopping centers, que se multiplicam não só nas grandes cidades, onde sempre pontificaram no cenário urbano, mas também nas de menor porte.

Em algumas localidades, a possibilidade entre empreendimentos dessa natureza levou a um questionamento até mesmo de sua viabilidade. Isso porque resultava em uma sobreposição no consumidor primário, aquele que mora ou trabalha bem próximo ao centro de compras, o que também resultou em uma discussão de especialistas sobre o modelo tradicional dos shopping centres, cujo mix atrai compradores que ali levam seu dinheiro para trocá-lo pelos mais diversos produtos.

Talvez a resposta para essa evolução esteja em um prédio de seis andares na cidade de Berlim, capital da Alemanha, erguido nos anos 50, situado junto à estação de metrô do zoológico local, famosa por ter sido cenário do filme que retratou a vida de Christiane F., a jovem adolescente viciada em heroína, que se tornou símbolo de uma geração.

Com 25 mil metros de área construída, e dividido ao meio por um vão, esse edifício localizado próximo à Gedachtniskirche, a famosa igreja bombardeada durante a Segunda Guerra Mundial – cuja torre semidestruída continua intacta para marcar a memória dos combates –, ganhou o curioso apelido de “biquíni” pelos habitantes locais, exatamente por lembrar essa peça do vestiário feminino, que seria o “repartido em dois”.

O prédio foi adquirido no início dos anos 2000 por uma grande empresa imobiliária alemã, sendo estudado por sete anos por seus executivos sobre o futuro aproveitamento. Ele deu origem a um novo conceito de shopping center, denominado Bikini Berlin, que não traz a concepção tradicional que conhecemos hoje, com iluminação artificial e as mesmas lojas de sempre, até porque existiu ali a preocupação com o significado histórico do local.

Após longas pesquisas com as ideias mais inovadoras em varejo que se praticou no mundo, concluiu-se que as pessoas querem mais do que um lugar para fazer compras. Elas esperam um espaço para comer, onde possam relaxar e que signifique um refúgio para o ritmo da cidade. Assim, foi mantida a fachada clássica, o teto de vidro permite iluminação natural, o corredor é único, com 200 metros, lembrando uma galeria de rua e a existência de uma parede de vidro integra a vizinhança ao ambiente do shopping.

Embora o empreendimento abrigue lojas no formato tradicional, com contratos de locação clássicos, seu conceito dispensa, por exemplo, as lojas-âncoras, estando alicerçado na apresentação de produtos novos, especialmente em boxes que variam de 19m² a 39m², na criação de um ponto turístico alicerçado em um terraço de 7 mil m², onde situam-se restaurantes e cafés, com uma bela vista e uma associação com a arte.

Na análise dos mais céticos, a existência de marcas desconhecidas inviabiliza esse conceito, mas seus defensores acreditam que os lojistas ali instalados procuram mais do que vender seus produtos. Eles querem é divulgar suas marcas. Somente o tempo poderá comprovar se essa fórmula será eficaz, uma vez que seu sucesso estará relacionado à capacidade de apresentar constantemente novidades ao público usuário.

 

*Engenheiro e advogado, sócio da Precisão Consultoria e autor do livro Guia de negócios imobiliários - Como comprar, vender ou alugar seu imóvel

E-mail para esta coluna: coluna@precisaoconsultoria.com.br

Tags: Francisco Maia Neto

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