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Mercado imobiliário

Até que a morte os separe

Na Itália, um curioso movimento de vendas tem apresentado expansão em meio à crise econômica que se agrava: a venda nua

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A atual crise econômica mundial tem frequentado as conversas ao redor do mundo. Já são conhecidos diversos fatos relacionados aos últimos acontecimentos, muitos deles trágicos, noticiando casos de pessoas que deram cabo à própria vida em função de perdas milionárias no mercado financeiro. No que se refere ao mercado imobiliário, já se tornaram comuns as cenas de retomada de imóveis hipotecados, que colocaram na rua milhares de famílias, especialmente nos Estados Unidos. Entretanto, na Itália, um curioso movimento de vendas tem apresentado expansão em meio à crise econômica que se agrava.

Trata-se de um fenômeno que atinge os italianos mais velhos, abatidos pela pior recessão ao longo dos últimos 30 anos, que estão sendo forçados a vender suas casas com desconto. A única condição é que o comprador somente adquira a posse do imóvel após o falecimento do vendedor. Um apartamento no Centro de Roma, por exemplo, com 60 metros quadrados e um quarto, cujo valor de mercado é da ordem de 250 mil euros, pode ser encontrado nessas condições com desconto de 20%, e dificilmente se encontra um negócio melhor na capital romana.

Trata-se de uma pechincha, uma vez que basta “esperar um pouco” para ocupar o imóvel. Isso pode ser deduzido por uma simples análise da documentação, na qual aparece, em letras pequenas e entre parêntesis, a idade do proprietário do imóvel. Esse tipo de transação é denominado “venda nua”, significando aquela situação em que o vendedor deixa de ser proprietário do imóvel, mas mantém sua posse por meio do usufruto vitalício. Essa prática também existe na França, onde é conhecida como em viager (para toda a vida), cujo comprador paga uma prestação mensal enquanto o proprietário residir no local, e quando ele falecer o imóvel é transferido para aquele que fez os pagamentos.

Embora na Itália essa forma de aquisição imobiliária represente apenas 5% do total das vendas, seu crescimento em meio à crise se mostra expressivo, tendo ocorrido acréscimo de mais de 120% entre os anos de 2000 e 2008, em decorrência do envelhecimento conjugado ao empobrecimento da população. Além disso, as estatísticas oficiais demonstram que, entre os italianos com mais de 65 anos, 85% são donos das próprias casas, indicando que são ricos em imóveis e pobres em dinheiro, haja vista que sua renda é 25% menor que a dos franceses.

Nessa operação, o risco envolvido é a potencial longevidade do vendedor. Exemplo disso foi um caso iniciado em 1965, quando um advogado francês, então com 47 anos, adquiriu um imóvel de uma senhora de 90, certo de que o negócio se concretizaria plenamente dentro de poucos anos. Entretanto, ela viveu até os 122 anos, chegando a ser a mulher mais velha do mundo quando faleceu, em 1997. O desafortunado comprador havia morrido dois anos antes.

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