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Construções em terra crua: uma opção consciente

Um sistema milenar, a variedade e a aplicação dos materiais e técnicas construtivas em terra crua são numerosas. Nos dias atuais, esse tipo de arquitetura chega com força como solução para minimizar os impactos ambientais

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postado em 08/03/2010 14:27 / atualizado em 14/04/2015 17:30 Daniel Quintão /Especial para o Lugar Certo , Frederico Prates /Especial para o Lugar Certo
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Nunca falou-se tanto em desenvolvimento sustentável como nos dias atuais. Afinal, o que vem a ser sustentabilidade? Qual a sua implicação em nossas vidas? Será que estamos vivendo uma era de transformações na maneira de pensar o comportamento da humanidade diante da utilização dos recursos naturais? Sustentabilidade é um conceito sistêmico relacionado com a continuidade dos aspectos econômicos, sociais, culturais e ambientais da sociedade humana. No plano das ações que competem a nós, cidadãos, somos responsáveis em incorporar tal conceito em nossos hábitos diários. Pequenas atitudes implicam resultados consideráveis.

Diante do atual panorama de desenvolvimento mundial, observamos uma incessante busca por alternativas para uma sociedade harmônica com seu habitat natural. E para tal, nada mais justo que buscar novas tecnologias e ciências que considerem um ambiente de desenvolvimento sustentável para nosso planeta.

Analisando nosso referencial histórico e cultural, encontraremos inúmeras possibilidades construtivas que permitirão um uso mais consciente e sustentável dos métodos e meios de produção, permitindo uma co-relação amigável entre ser humano, seu abrigo e meio ambiente. Tal possibilidade pode ser calcada nas construções sistematizadas em terra crua, sistema construtivo ancestral, baseado em alvenarias e vedações constituídas por barro não cozido, ou seja, cru.

Foi nos saberes populares, na história construtiva de cidades históricas e nos edifícios que verificamos sistemas construtivos baseados nas alvenarias em terra crua, uma cultura construtiva que permeou os saberes não só no Brasil, como também em todo o mundo. A arquitetura em terra, nesses primórdios, consistiu num processo não industrializado de produção arquitetônica, e que ainda resiste como patrimônio mundial da humanidade.

O uso da terra crua como matéria-prima para construções remonta a mais de 10 mil anos, sendo a África e o Oriente Médio as regiões onde foram encontrados os registros mais remotos do domínio das técnicas da construção de edificações com terra crua. É sabido também que, nas Américas, existiram construções de adobe em quase todas as culturas pré-colombianas.

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Influenciados diretamente pelos conhecimentos acumulados nos continentes africano e asiático, os colonizadores europeus fizeram uso dessas técnicas não apenas na construção de muitas de suas cidades, como também nos territórios de suas conquistas a partir do século XV.

A utilização da terra crua como elemento construtivo chegou ao Brasil de várias formas. Com o processo de colonização, foram introduzidas as técnicas do adobe e também da taipa-de-pilão, porém acredita-se que o fenômeno dos arquétipos evidenciou que os nativos locais (os índios brasileiros e os africanos que aqui chegaram como escravos) já dominavam as técnicas do pau-a-pique e da taipa.

Com a difusão das técnicas em terra crua por todo território nacional, formou-se também um vasto acervo histórico-cultural constituído por edificações que têm estes sistemas construtivos enraizados em sua matriz estrutural.

Tais técnicas, transpostas para um contexto contemporâneo, podem proporcionar, além de ambientes construídos diferenciados, uma mudança no modo de construção latente no momento, visando, além do próprio espaço construído, edificações que zelem pela sustentabilidade, reduzindo a emissão de carbono no seu processo de produção e proporcionando o resgate de uma tradição cultural.

Aliado a um projeto arquitetônico eficaz, a edificação em terra crua miniza impactos ambientais em âmbitos multilaterais, tais como uma menor emissão de carbono devido ao baixo consumo de matéria-prima provenientes de petróleo ou cimento, além do aproveitamento das propriedades de isolamento termo-acústico presentes na densidade elevada do barro, que geram abrigos com alto índice de conforto ambiental, o que minimiza o uso de equipamentos de refrigeração que acabam por consumir índices elevados de energia.

Tal fato, aliado às tecnologias já disponíveis no mercado (reuso de água, captação das águas pluviais, aquecimento das águas de banho por radiação solar, a automação de equipamentos, etc) podem gerar edificações, de pequeno a médio porte, extremamente dinâmicas e sustentáveis, que tenham menor impacto ao nosso meio ambiente.

O sistema contrutivo baseado em terra crua visa a utilização da matéria prima disponível no local, no caso a própria terra do terreno, equalizando melhor os custos finais da obra, inclusive no que diz repeito aos deslocamentos, fretes e custos com a compra de material. E por se tratar de um método construtivo menos impactante, as edificações em terra crua podem ainda ser aliadas a revestimentos que seguem a mesma linguagem, tais como os rebocos e tintas a base de terra, que também não utilizam compostos químicos ou poluentes.

A variedade e aplicação dos materiais e técnicas construtivas em terra crua são numerosas, visto a grande diversidade territorial brasileira e, sobretudo, as peculiariedades climáticas e geológicas de cada um dos locais. No entando, a partir da uma análise pormenorizada de cada um dos casos, adaptando-se às condições físicas locais, é possivel adotar tais técnicas como alternativa na produção arquitetônica de pequeno a médio porte, sendo mais uma posssivel solução mitigadora de impactos.

*A O3L Arquitetura é uma empresa que atua área da construção contemporânea de baixo impacto ambiental e do patrimônio cultural, sediada na cidade de Belo Horizonte/ MG. Daniel Quintão especializou-se em Arquitetura de Terra - técnicas vernáculas, pela Ecole Nationale Supérieure d'Architecture de Grenoble e Laboratório CRATerre, França. Participou do desenvolvimento de projetos e obras de construções em terra junto à empresa francesa AKTerre - Construction et Matériaux en terre, instalada na região de Grenoble, Ródano - Alpes, além de elaborar inventários de bens culturais no âmbito do programa do ICMS Cultural no estado de Minas Gerais. Frederico Prates especializou-se em História da Cultura e da Arte pela Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG. Desenvolve trabalhos na área da restauração e intervenção em bens culturais e possui ampla experiência nos trabalhos do ICMS Cultural junto a vários municípios mineiros.

O3L Arquitetura: Rua Congonhas, 798/sl. 4 - Santo Antônio - Belo Horizonte-MG. (31) 2531 7070/(31) 9196 6935/(31) 9625 7382. Emails para esta coluna: o3l@o3l.com.br

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