Reutilização inteligente

Imóveis podem ser transformados pela técnica do upcycling

Profissionais apostam na tendência para criar projetos sustentáveis, sem perder a funcionalidade e a beleza da matéria-prima

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postado em 11/03/2012 14:23 Júnia Leticia /Estado de Minas
A arquiteta Flávia Soares mostra antigo tanque de gasolina que foi transformado em reservatório de água em sítio: A arquiteta Flávia Soares mostra antigo tanque de gasolina que foi transformado em reservatório de água em sítio: "Essa prática transforma o velho em novo. Isso é o que mais chama a atenção das pessoas"

Transformar resíduos ou produtos descartáveis em novos materiais ou objetos práticos e de qualidade sem a utilização de processos químicos. Essa é a definição de upcycling. Apesar do nome complicado, o conceito é simples e muito útil. Ao contrário da reciclagem, no qual o material primeiro é destruído para depois ser convertido em algo novo, nesse processo, aquilo que foi considerado lixo é usado na sua forma original, tendo sua utilidade substituída. Em outras palavras, a prática do upclycling confere mais valor aos produtos antigos.

Assim, a técnica possibilita evitar desperdício de materiais potencialmente úteis e reduzir o consumo de novas matérias-primas na criação de produtos. Uma consequência direta desse processo é a menor emissão de poluentes que aumentam o efeito estufa e a redução do consumo de energia. Para quem é adepto das práticas sustentáveis, é a garantia de melhores condições de vida.

Os benefícios do upcycling já vêm sendo reconhecidos pelos consumidores, como observa a arquiteta Flávia Soares. Tanto é assim que sua utilização tem crescido e ganhado a aceitação do mercado. Um dos pontos que contam a favor da técnica é a economia, já que os custos e a quantidade de materiais utilizados durante este processo são menores. “Essa prática é capaz de transformar o velho em novo sem a utilização de processos químicos. Isso é o que mais chama a atenção das pessoas”, conta.

Diferença principal desse estilo de trabalho para a reciclagem é a não transformação do produto em outro sem as características iniciais do objeto. Busca é sempre usar peças, como os cochos acima, de forma nova e criativa - Eduardo Almeida/RA Studio Diferença principal desse estilo de trabalho para a reciclagem é a não transformação do produto em outro sem as características iniciais do objeto. Busca é sempre usar peças, como os cochos acima, de forma nova e criativa
Essa descoberta por parte do consumidor tem incentivado ainda mais o desenvolvimento de projetos que busquem tornar o upcycling mais acessível. “Os profissionais das áreas de arquitetura e decoração têm utilizado o conceito em seus projetos, pois, além de ser uma forma de contribuir com o meio ambiente, é capaz de dar nova roupagem ao velho e criar designs inovadores e com estilo”, acrescenta Flávia Soares.

A arquiteta Marina Dubal explica que o conceito de upcycling consiste no aproveitamento de um resíduo sem alteração de seu material e sua forma. “Diferente do que ocorre na reciclagem, em que os resíduos são submetidos a processos químicos, se transformando em novos materiais em aspecto e forma”, reitera. O termo upcycling surgiu em 1994, em uma entrevista do empresário e ambientalista alemão Reiner Pilz. “Nela, ele critica a reciclagem ou downcycling, por não valorizar os resíduos como são, necessitando destruí-los para depois reconstruir algo do zero”, explica Marina.

Flávia Soares diz que, em meados da década de 1990, no momento em que se falava da quebra de concreto e tijolos, Reine Pilz disse que isso seria downcycling. “Ele afirmou na entrevista que o que precisamos é de upcycling, em que é dado mais valor aos produtos antigos e não menos”, completa a arquiteta.

RENTABILIDADE

A arquiteta Maria Aparecida Teles observa que atualmente, com a conscientização sobre a importância da sustentabilidade, verificou-se que o aproveitamento de materiais seria mais rentável e prático. “Upcycling é o processo de transformar resíduos ou produtos inúteis e descartáveis em novos materiais ou produtos de maior valor, uso ou qualidade. Isso é, sem precisar passar pelos processos químicos e físicos da reciclagem”.

Antes, para que materiais como embalagens plásticas pudessem ganhar novas utilidades, era necessário o emprego de produtos químicos e combustíveis para fazer essa conversão. “Agora, para que embalagens plásticas ganhem nova utilidade basta criatividade. Utilizando-se do que é upcycling, os profissionais conseguem transformar as garrafas PET em sacolas ou até mesmo bolsas luxuosas”, diz Flávia Soares.

Transformação sem limite
De objetos de decoração a móveis, os resultados do upcycling são surpreendentes. Com paciência e criatividade é possível fazer por conta própria peças bonitas e com um alto valor comercial
A arquiteta Marina Dubal diz que garimpar peças em lojas de artigo de demolição, como este cocho transformado em jardineira, ou em caçambas e topa-tudo é essencial - Eduardo Almeida/RA Studio A arquiteta Marina Dubal diz que garimpar peças em lojas de artigo de demolição, como este cocho transformado em jardineira, ou em caçambas e topa-tudo é essencial

Apesar de ser recente, o upcycling tem sido difundido rapidamente, acompanhando a necessidade do desenvolvimento de projetos sustentáveis. Por isso, não é difícil encontrar soluções que contemplem o conceito. “Já se veem muitos produtos e até móveis com o conceito aplicado. Os designers brasileiros Irmãos Campana são mundialmente conhecidos por transformarem resíduos em poltronas, cadeiras, entre outros, aproveitando a forma e estética do material utilizado”, diz a arquiteta Marina Dubal. Entre os artigos e peças de tamanhos menores, ganham destaque objetos feitos com pneus de bicicleta, como fruteiras, e cadeiras feitas com resíduos de cordas. “Outro exemplo mais recorrente é o uso da madeira de demolição e até peças prontas, como portas e janelas antigas”, comenta.

Mesclar estilos e objetos nos móveis dão charme a peças que estavam esquecidas - Eduardo Almeida/RA Studio Mesclar estilos e objetos nos móveis dão charme a peças que estavam esquecidas
Um exemplo bastante conhecido é o emprego de garrafas PET, que passam a ser utilizadas como lâmpadas e vasos de plantas. “Podemos ver também o conceito nos pneus que passam a ser usados como muro de arrimo e pufe. A madeira de demolição é um upcycling muito difundido na nossa cultura, dando mais valor aos produtos antigos, e não menos”, diz a arquiteta Flávia Soares.

Materiais mais diversos e até mesmo inusitados, como embalagens de salgadinhos, plásticos variados, madeiras, lonas e tecidos, compõem a extensa lista de possibilidades, segundo a arquiteta Maria Aparecida Teles. De acordo com ela, há empresas que coletam roupas e sapatos que as pessoas não querem mais e as reinserem no processo produtivo. “Menos de 10% vai, efetivamente, para o lixo. Lojas de design em projetos arquitetônicos e decoração também.”

Esse processo de transformação de resíduos e produtos descartáveis em novos materiais ou objetos, sem a utilização de processos químicos, pode ser realizado por qualquer pessoa, segundo Maria. “As peças podem ser encomendadas de empresas, lojas, artistas plásticos, estilistas, arquitetos, designers, entre outros. E nós, como profissionais, devemos incentivar cada vez mais sua utilização”, ressalta.

Eduardo Almeida/RA Studio
Garimpar é essencial para achar verdadeiras joias escondidas, que podem estar em caçambas, topa-tudo e ferro-velho, como indica a arquiteta Marina Dubal. “O que vai fazer a diferença é a criatividade do uso para fazer do resíduo algo de valor. O upcycling pode ser feito por qualquer um, mas é mais recorrente no meio de designers, artistas e arquitetos, que utilizam madeiras de demolição, metais, azulejos, entre outros.”

TENDÊNCIA

E perspectivas para esses profissionais é o que não falta, como observa a arquiteta. “Recentemente, com o aumento da demanda por objetos mais originais, antigos, o número de lojas que fazem upcycling ou vendem os insumos para esse tipo de prática vem crescendo progressivamente”, conta Marina. Um produto produzido por meio de upcycling pode ser feito por artistas, artesãos, arquitetos, marceneiros, pedreiros e outros profissionais.

Para isso, vale procurar em lojas de material de demolição, grandes fornecedores de produtos para upcycling. Mas antes de encomendar as peças, é preciso pensar na ideia e no material que será transformado. “A partir daí, é só procurar a pessoa certa para fazer o novo produto. Se pretende transformar um vaso em luminária, pode precisar da ajuda de um eletricista”, indica Flávia Soares.

Além de ter uma peça muitas vezes única e original, há a vantagem – principal, na opinião de Flávia – de poder diminuir o lixo produzido pela sociedade. “É possível, ainda, é claro, reaproveitar um material que seria descartado. O ganho em originalidade e, em alguns casos, em exclusividade, é imensurável”, considera.

Preconceito atrapalha a reutilização

Aproveitar peças antigas na decoração é uma das dicas da arquiteta Maria Aparecida Teles - Eduardo Almeida/RA Studio Aproveitar peças antigas na decoração é uma das dicas da arquiteta Maria Aparecida Teles
Apesar das vantagens de se investir no conceito, a arquiteta Maria Aparecida Teles observa que, pelo fato de ter como matéria-prima objetos descartados, há quem não simpatize com o upcycling. “Há preconceito de que, por ser um material reaproveitado, não é ‘chique’. Mas esse conceito está mudando”, constata. Mas a resistência do brasileiro relativa ao upcycling pode ser trabalhada, e é isso o que procurar fazer a arquiteta. “Quando chego à casa do cliente e vejo algo antigo, já vislumbro a utilização em outra função dentro do projeto do ambiente a ser realizado”.

Para Marina Dubal, é muito interessante explorar o uso do upcycling na arquitetura e no design de interiores. “Uma porta antiga pode se transformar em uma mesa, uma janela em um espelho para um lavabo e um cocho antigo se transforma em jardineira. Já existem propostas bem interessantes que auxiliam a criar um clima aconchegante e cheio de personalidade.” Por isso, ao projetar o espaço, o ideal é valorizar alguns detalhes e evitar os excessos, que podem resultar em um ambiente pesado.

A arquiteta Flávia Soares confirma as diversas possibilidades de emprego do upcycling. Segundo ela, o conceito pode ser adotado de várias formas na arquitetura e na decoração. “Pode ser por meio de uma casa com material demolição ou mesmo na decoração, em que algumas peças podem ser reutilizadas. Por exemplo: a antiga penteadeira pode virar a pia do banheiro.” O que deve ser levado em consideração na hora de projetar a partir do conceito são as peças disponíveis para se trabalhar, como diz Flávia. “O projeto deve garantir o melhor uso dos materiais. Nos dias de hoje, viver de forma sustentável é algo bastante valorizado pela sociedade. Por isso, a prática do upcycling vem ganhando força”.

Entenda a diferença

Eduardo Almeida/RA Studio
» Upcycling


É o processo de transformar resíduos ou produtos inúteis e descartáveis em novos materiais ou produtos de maior valor, uso ou qualidade. Utiliza materiais no fim de vida útil na mesma forma que ele está no lixo para dar uma nova utilidade. Um exemplo bem conhecido é o emprego da lona de caminhões na fabricação de roupas, bolsas, chapéus, bonés e outros artigos. Ou o uso de
resíduos para o artesanato
ou design de novos produtos.

» Downcycling

Envolve a conversão de materiais e produtos em novos materiais de menor qualidade. Ou seja, a integridade do material é, de certa forma, comprometida com o processo de recuperação. Algumas resinas plásticas, como a PEAD – usada como matéria-prima de embalagens primárias de leite, iogurte e sucos –, não podem ser verdadeiramente recicladas. O resultado de sua recuperação não pode ser usado novamente como embalagens de produtos alimentícios. Essas resinas são transformadas em coisas, como mesas, cadeiras, lixeiras e requerem tratamento extra em termos de energia e dos produtos químicos que compõem as resinas.

BOBBY YIP/Reuters
» Reciclagem


O termo acaba sendo usado em todos esses processos (upcycling e downcycling), até mesmo para poder simplificar para um
leigo. Mas na hora da escolha do material para a fabricação das peças, é importante entender essas diferenças e usá-las como critério de escolha. A reciclagem pode requerer muita energia em seu processo, produzindo artigos com menor valor ambiental.

Fonte: www.embalagemsustentavel.com.br

Tags: imóveis,

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Marcos - 11de Março às 19:52
Porque sempre essa babaquice de rotular/copiar tendências em língua estrangeira?Agora até jogador de futebol é mencionado assim: no Cruzeiro um tal Rudinei passou a ser chamado por 'Rúdinei' . Porque isso jornalistas? Aculturamento por falta de conhecimento ou fraco desconhecimento da língua-mãe?

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