Estilo

Fuxico permite criar ambientes alegres e muito criativos

Trabalho artesanal típico do Nordeste brasileiro ganhou novo uso na decoração e pode ser visto das paredes ao chão

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

RECOMENDAR PARA:

- AMIGO + AMIGOS
Preencha todos os campos.
postado em 06/05/2012 07:00 / atualizado em 29/04/2012 09:09 Joana Gontijo /Lugar Certo
Eduardo Almeida/RA Studio
Uma boa alternativa para deixar o lar mais belo e colorido, o fuxico tem diversas possibilidades de aplicação na decoração. Com retalhos de tecido, linha, agulha, tesoura e um molde redondo, dá para soltar a imaginação e deixar a casa original e criativa. Técnica artesanal que ganhou força no interior do Nordeste brasileiro há cerca de 150 anos, herança dos escravos, o fuxico invadiu o design de interiores por ser fácil de fazer e por ter um custo baixo, lembrando os ares da casa da vovó. São muitas as opções para renovar e alegrar a composição dos ambientes.

O fuxico é composto da união de vários círculos de tecido alinhavados em suas extremidades que são franzidos, formando "trouxinhas". A união delas constitui a formação de flores que proporcionam a criação de pequenas a grande composições, como explicam as designers de interiores Márcia e Melina Mundim, da Mmmundim Interiores. O termo “fuxico” é proveniente da cultura popular brasileira, e surgiu pelo fato de que as mulheres se reuniam para costurar e confeccionar as peças, apontam as designers. “Durante o tempo que despendiam juntas, colocavam os mexericos em dia. Em qualquer parte do país é possível encontrar artesãs utilizando esta arte como meio de sobrevivência, já que é uma prática de custo de produção barato. A junção das "trouxinhas" origina formas diversas, possibilitando uma variedade enorme de produtos para serem vendidos”.

Veja mais fotos


A gama de produtos que podem ser feitos com fuxico é enorme e eles podem ser usados em praticamente todos os ambientes, como cozinhas, salas, quartos, banheiros e varandas, o que varia de acordo com a criatividade do artesão e do profissional de interiores, segundo Márcia e Melina. As possibilidades vão de decoração de toalhas para lavabo a luminárias, revestimento de pufes e bancos, colchas, mantas para sofá, cortinas, flores, almofadas, reposteiros, jogos americanos, porta-guardanapos, bandejas, ímas de geladeira, e até mesmo tapetes ou trabalhos mais específicos, como acabamento de bonecos de pano, estandartes ou quadros. “Orientamos apenas ter sensibilidade no seu uso para não pecar pelo exagero”.

O arquiteto e designer Cioli Cássius Stancioli abriu mão da policromia para aplicar colcha luxuosa de fuxico - Cilo Cássius Stancioli/Divulgação O arquiteto e designer Cioli Cássius Stancioli abriu mão da policromia para aplicar colcha luxuosa de fuxico
De acordo com as designers, a tendência da cartela de cores na decoração para 2012 está voltada para tons quentes e contrastantes, sendo que o colorido do fuxico, combinado com tonalidades mais frias, afasta o projeto do habitual, conferindo-lhe um ar original e suave ao mesmo tempo. Para elas, inserir peças de artesanato em uma composição é aprazível, pois elas quebram a rigidez da linha reta característica do mobiliário moderno, além de proporcionarem calor, personalidade e aconchego. Com o cuidado de não poluir visualmente o espaço, o fuxico pode ser utilizado como peças de arte e design, atribuindo estilo próprio a cada ambiente.

A mistura de estilos é atualmente muito bem-vinda na concepção da decoração da casa, favorecendo o artesanato que vem sendo utilizado também em ambientes requintados, continuam Márcia e Melina. “Resgatamos nossa cultura e transformamos esta técnica com criatividade. A arte de costurar, misturar cores e formas é característica marcante de tudo o que é feito à mão. Contrário ao industrial, o produto artesanal, como o fuxico, demanda tempo e dedicação, tornando-se único e personalizado, uma exigência essencial do mercado contemporâneo do luxo”.

TRADIÇÃO

Resgate da arte centenária do fuxico ocorreu nos anos 1970, segundo a artesã Silvana Aparecida Alves - Eduardo Almeida/RA Studio Resgate da arte centenária do fuxico ocorreu nos anos 1970, segundo a artesã Silvana Aparecida Alves
O algodão tornou-se uma das principais culturas no início da colonização brasileira e a atividade de tecelagem manual se desenvolveu para a formação de uma variada indústria doméstica de produção de fios e tecidos, explica o arquiteto e designer Cioli Cássius Stancioli. “Basicamente em todas as propriedades havia um tear para a produção manual de tecidos de algodão, que eram utilizados na confecção de peças de vestuário, roupas de cama, mesa e banho, entre outros. Originalmente o fuxico é atribuído à cultura africana, sendo que ao ser disseminado no Brasil ganhou o toque tropical, com a utilização de matérias-primas locais, e principalmente a gama de pigmentos naturais extraídos de plantas”, aponta.

Vindo do imaginário popular, hoje o fuxico está presente até em locais mais sofisticados, sendo feito não mais só de retalhos, mas até mesmo de tecidos nobres e brocados, utilizados na forma mono ou policromática, continua Cioli Cássius Stancioli. “Com a policromia que é o fuxico mais característico, ele pode ser utilizado para dar vida e cor a um ambiente, de maneira pontual. Pode ainda ser usado monocromicamente, sempre conferindo um clima de conforto, de receptividade e de conexão com nossa cultura”.

Ter uma base neutra e usá-lo em detalhes, para realçar cores e texturas, é a dica da artesã Ivana Dantés - Eduardo Almeida/RA Studio Ter uma base neutra e usá-lo em detalhes, para realçar cores e texturas, é a dica da artesã Ivana Dantés
Na edição de 2011 da Casa Cor Minas Gerais, Cioli fez uma homenagem ao estilista mineiro Ronaldo Fraga, que traz para as suas coleções muito da vivência e do imaginário popular, trabalhando com tecidos e tramas diversas, e o modo de fazer artesanal. “Além do meu gosto pessoal pelos produtos produzidos manualmente, no meu ambiente utilizei, então, a colcha de fuxico como elemento principal, um contraponto ao sofá chersterfield. A colcha foi feita por Dona Carmem, do vilarejo de Bichinho (próximo a Tiradentes), que é uma artista. Ela confeccionou aquele tesouro, uma colcha sem forro, com unidades maiores e toda na cor preta, exatamente conforme a minha encomenda de sonho. A colcha se tornou um símbolo do ambiente”, destaca.

EM DESTAQUE Na década de 1970, o fuxico ressurgiu, virou febre mundial e tornou-se novamente uma estrela, afirma a artesã Silvana Aparecida Alves, que produz peças usando a técnica, em Belo Horizonte. Na opinião de Silvana, produzir um fuxico é tarefa que requer habilidades simples, mas muita paciência e capricho. “Você utiliza um retalho de tecido, tesoura, agulha e linha. O molde pode ser qualquer objeto que tenha forma circular. Vale usar pires, copo ou xícara. Alinhave toda a borda do tecido e puxe a linha franzindo. Arremate com um pontinho no centro e está pronto o fuxico”.

A professora aposentada Maria Aparecida Coelho, a Fufuca, diz que o fuxico tem clima de casa de vovó - Eduardo Almeida/RA Studio A professora aposentada Maria Aparecida Coelho, a Fufuca, diz que o fuxico tem clima de casa de vovó
Para Silvana, qualquer cantinho da casa fica mais charmoso quando exibe um trabalho com fuxico. “Ele confere ao ambiente uma atmosfera acolhedora, de algo feito em casa. Um convite para voltar à época em que o tempo parecia não correr tanto e a vida era mais tranquila”. Para se ter uma composição harmoniosa usando fuxicos, a artesã diz que é importante observar alguns detalhes: utilizar tecidos com estampas miúdas e que combinem entre si; tramas macias e 100% algodão produzem um melhor resultado; peças muito grandes tendem a cansar mais e podem pesar no ambiente; capricho e acabamento devem ser impecáveis.

ARTE FEITA À MÃO

Entre trabalhos de patchwork como bonecos de pano, galinhas gorduchas em forma de puxa-sacos ou móbiles, jogos americanos, aventais, estandartes, frutas, legumes e flores, quadrinhos, colares, broches e bolsas, os produtos de Silvana Aparecida são totalmente feitos à mão e quase sempre sob encomenda, sendo que os preços variam conforme a complexidade, a técnica e o tempo gasto na execução. “Não abro mão do capricho, pois sou muito perfeccionista. Alguns detalhes fazem toda a diferença”, diz.

Eduardo Almeida/RA Studio
Na visão da professora aposentada Maria Aparecida Coelho, mais conhecida como Fufuca, que também trabalha com o fuxico, ele combina com ambientes mais rústicos, mas também pode ser mesclado com propostas contemporâneas para quebrar a monotonia e criar contraste no ambiente. Antes mais usado para fazer tapetes, colchas e vestuário, agora o fuxico oferece grande variedade de emprego na casa, diz Fufuca. Para sua confecção, podem ser usados tecidos naturais ou sintéticos, ou o que estiver à mão, dependendo da vontade de cada um. “O fuxico lembra o tempo da vovó, tem um clima de interior. Com a retomada, na decoração, de elementos que resgatam o passado, ele ganhou força e tornou-se marcante”, aponta.

Juarez Rodrigues/EM/D.A Press
A aplicação do fuxico no design de interiores depende de como cada pessoa quer compor o espaço, diz a artesã Ivana Dantés. Para ela, o ideal seria ter uma base mais neutra e usá-lo em detalhes, de maneira a realçar suas cores e texturas. Como conta, já existe uma máquina própria para produzir o fuxico, mas, na sua opinião, a qualidade do produto artesanal é superior. Variando em estampas e tamanhos, a tendência se destaca com o maior apelo para a identidade nacional e volta às raízes. Dentre as peças que Ivana produz com fuxicos, como bandejas e ímãs de geladeira, os preços ficam entre R$ 5, R$ 25 e R$ 35. “Meu público é variado e formado por pessoas que gostam e valorizam o artesanato, e o fuxico acabou adquirindo destaque até em terras estrangeiras”, completa.

Tags: criatividade

Comentários Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação
600

Últimas Notícias

ver todas
13 de julho de 2023
04 de julho de 2023