Entre a rainha das flores

Orquídeas encantam moradores e visitas em qualquer canto da casa

Cores, formas e perfumes são grandes atrativos da planta. Especialistas ensinam como cuidar dessa joia natural e preservá-la por mais tempo

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postado em 18/11/2012 07:00 Joana Gontijo /Lugar Certo
Variedades disponíveis para venda no mercado facilita uso da planta na decoração doméstica e comercial - Eduardo Almeida/RA Studio Variedades disponíveis para venda no mercado facilita uso da planta na decoração doméstica e comercial

Dona de rara e exótica beleza, ela agrega, com um toque delicado, elegância e sofisticação onde está. Considerada uma das mais apreciadas espécies de flores cultivadas em todo o mundo, a orquídea se destaca pelas diferentes matizes, que carregam uma enorme gama de formas, cores e tamanhos, sem falar nos perfumes extremamente agradáveis. Com tantas qualidades, esta planta é uma excelente forma de decorar ambientes internos e externos, sejam domésticos ou de trabalho, assim como são muito procuradas para a ornamentação de eventos, mantendo sempre um tom de romantismo no ar. Harmonizada com os outros elementos do espaço, em vasos de bom gosto adornados com bonitos arranjos ou misturada com outras flores, a orquídea deixa o resultado final da decoração agradável e com um frescor inerente. Versátil, pode ser usada em qualquer tipo de projeto, e cuidados como o vaso adequado, adubo, quantidade certa de água e luz, podem fazer com que a florada anual tenha maior duração.

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As orquídeas pertencem à família das Orchidaceae, a mais numerosa de todas, com mais de 30 mil espécies em todo o mundo - desconsiderando as milhares híbridas, resultados de cruzamento entre gêneros pela ação do homem ou da própria natureza - , e são consideradas por muitos botânicos como a mais evoluída das espécies de plantas com flores, explica o orquidófilo e paisagista vice-presidente da Associação Mineira de Orquidófilos (AMO), José Francisco de Mello. “Com exceção das calotas polares, as orquídeas estão presentes em todo o mundo. Elas representam 1/12 de todas as plantas com flores. O Brasil é um dos países que tem uma das maiores variedades do planeta, devido à mata atlântica e aos diversos biomas existentes em todo o território nacional. O estado do Espírito Santo é o que tem a maior variedade no país e Minas Gerais vem em seguida”, ressalta.

Controle de luminosidade, umidade, temperatura e substrato usado é fundamental para manter as plantas saudáveis, segundo José Francisco de Mello, vice-presidente da Associação Mineira de Orquidófilos (AMO) - Eduardo Almeida/RA Studio Controle de luminosidade, umidade, temperatura e substrato usado é fundamental para manter as plantas saudáveis, segundo José Francisco de Mello, vice-presidente da Associação Mineira de Orquidófilos (AMO)
Existe uma variedade bem grande de orquídeas, continua José Francisco. Elas podem ser terrestres ou litófitas, epífitas (utilizam árvores e arbustos como suporte, mas não são parasitas, pois produzem seu próprio alimento), rupícolas (plantas que ficam em pedras), trepadeiras e, de forma mais rara, subterrâneas (saprófitas) e aquáticas. “Para manter as plantas saudáveis, é preciso tentar imitar a condição de cada espécie em seu habitat natural, considerando luminosidade, umidade, temperatura e substrato a ser utilizado. As orquídeas devem ser alimentadas com adubos próprios que podem ser foliares ou sólidos”, orienta. A diversidade de cores, formatos e perfumes das orquídeas é tanta como são tantos seus polinizadores (borboletas, pássaros, mariposas e outros insetos, para citar apenas alguns exemplos), e elas usam justamente estas estratégias para atraí-los, complementa o orquidófilo e paisagista.

A floração das orquídeas é muito variável, de acordo com as espécies, acrescenta José Francisco. “Há espécies que chegam a três meses de floração, outras duram em torno de 15 dias, e existem ainda algumas espécies em que a flor vive apenas um dia”, esclarece. Para conservá-las por mais tempo, o ideal é manter as plantas, quando floridas, dentro de casa, sem o sol direto, e evitar molhar as flores, indica. “A rega da planta é um dos fatores importantes do cultivo pois, com excesso de água, pode-se matar a planta afogada, e com a falta também. Ou seja, deve-se sempre observá-la, nunca deixando encharcada. Se o substrato estiver totalmente seco, aí sim é indicado molhar novamente”.

O paisagista explica que, no caso das orquídeas, a poda não existe, e sim a divisão da planta. “Quando a planta está muito grande para o vaso em que está, é preciso dividir a touceira, trocar o substrato, seguindo as regras que podem ser aprendidas nos cursos para iniciantes de cultivo”. Para José Francisco, a orquídea é uma planta mágica que confere beleza, perfume e paz ao ambiente em que está inserida, proporciona um encanto que emociona e cativa a todos. “Por estes motivos, cada vez mais pessoas estão procurando informações sobre como cultivar e como fazer florir a orquídea de sua casa”.
Delicadeza das flores impressiona até mesmo os cultivadores mais experientes - Eduardo Almeida/RA Studio Delicadeza das flores impressiona até mesmo os cultivadores mais experientes

Ainda em relação aos cuidados, as sócias da Trópica Paisagismo, Kátia Matos, Regina Rocha e Juliana Aguiar, lembram que, dentre as inúmeras espécies, algumas têm necessidade de muita luz, outras não, muita ou pouca água, e também é importante fazer o reenvasamento a cada dois anos no máximo, ou se as raízes ficarem escuras. “A adubação pode ser feita de forma foliar a cada mês, através de pulverização com NPK 20/20/20, vendido no mercado. A dica é pulverizar o adubo, após a rega, no início da manhã ou no fim do dia. Através destes cuidados, e evitando o ataque de pragas ou doenças, as plantas ficarão saudáveis, poderão florir todos os anos, e até passar de geração para geração”, explicam.

Com combinações de cores diversificadas, passando pelo branco, amarelo, laranja, vermelho, rosa, lilás, roxo, preto e, mais recentemente, uma variação azul, modificada em laboratório, seja qual for a espécie, a orquídea sempre carrega um apelo estético espetacular, destacam Kátia, Regina e Juliana. “Quanto ao tamanho, as flores podem variar de 2 milímetros a mais de 20 centímetros. Orquídeas podem ser minúsculas, compridas, com formas estranhas, mas em sua maioria são flores de
Juliana, Regina e Katia, da Trópica Paisagismo, dizem que é possível garantir a longevidade das orquídeas e até passá-las de geração para geração - Eduardo Almeida/RA Studio Juliana, Regina e Katia, da Trópica Paisagismo, dizem que é possível garantir a longevidade das orquídeas e até passá-las de geração para geração
rara beleza e encantamento”. Para as paisagistas, elas podem ser destaques em jardins verticais ou afixadas em troncos de árvores, em vasos, cachepôs, em arranjos como plantas únicas ou em composições com outras espécies, usadas como renques, bordaduras, em conjuntos isolados ou como plano de fundo. “As orquídeas são bem vindas em todos os ambientes, desde os mais simples aos mais formais, e são também muito utilizadas na decoração de festas e igrejas, sendo cada vez mais frequentes em buquês de noivas. Aproveitando suas formas e cores, é possível criar espaços agradáveis e únicos. Podem conferir bom gosto, sofisticação, elegância, simplicidade ao ambiente, deixando transparecer que ele foi cuidadosamente preparado”.

Para o arquiteto paisagista Benedito Abbud, as orquídeas sempre foram objetos de desejo, mas eram muito raras. Com a evolução do mercado de flores, elas se multiplicaram, com mais facilidade de acesso, frisa o profissional. Ele explica que as espécies mais comuns são as chamadas olho de boneca (dendrobium), chuva de ouro (oncidium), cymbidium, arundina
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(orquídea bambu), phalaenopsis, cattleya, epidendrum, laelia e vanda. “Estas são encontradas com mais frequência em floriculturas e mais usadas também na decoração interna, principalmente as que têm mais flores”. José Francisco de Mello explica que é difícil dizer qual é a espécie mais rara, pois são muitas com risco de extinção, então a mais procurada por colecionadores se torna a mais cara, sendo que hoje a orquídea com o maior valor de mercado é a cattleya walkeriana, conhecida como feiticeira, que pode atingir valores acima de R$20 mil, de acordo com sua forma e cor.

Abbud acrescenta que as formas de aplicar as orquídeas são extensas. Elas podem ser plantadas no chão, amarradas em troncos de árvore, compor totens - elementos verticais apoiados a partir do chão, que podem ser um tronco ou uma viga, revestidos com fibra de coco, onde as espécies são plantadas -, ou como tubos de tela plástica - que podem ser cheios também com fibra de coco, onde são colocadas as plantas -, criando “charutos” de flores para ser pendurados, por exemplo, em pergolados, agregando muito charme à proposta, diz Benedito. “Uma outra opção é a criação do próprio orquidário, que pode ser projetado como se fosse um pergolado, sendo que as ripas superiores devem ser dispostas no sentido norte-sul, de forma que a orquídea receba luz e sombra durante todo o dia. Não é indicado que a planta fique totalmente exposta ao Sol, porque ela não resiste. As orquídeas também podem ser aplicadas em muros e paredes verdes, e nos chamados ecotelhados”.

Boas energias

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Na opinião de Benedito Abbud, as orquídeas, quando usadas em casa, criam um recanto gostoso, um lugar bom para conversar, bom de ficar. Ele assinala que muitas pessoas que não têm a orientação adequada acabam ficando com a orquídea só quando abre a flor e, depois que ela acaba, jogam fora, sem saber que com os devidos cuidados ela vai florescer novamente no ano seguinte, o que ele considera lamentável. “Elas trazem uma sensação forte de sofisticação, beleza, requinte, principalmente quando usadas em certa quantidade da mesma espécie, criando um clima diferenciado. Uma tendência atual é usar vasos com água, altos e estreitos, ou arredondados e mais baixos, e colocar a orquídea cortada, como se estivesse afogada. Mas eu não gosto muito desta tendência, porque quando a planta é cortada, já entra em processo de morte. Prefiro plantada no vaso, na terra mesmo, pois fica mais viva. Em uma sala de estar, por exemplo, um bonito vaso com uma orquídea chama a atenção e se transforma no ponto focal do ambiente”.

PAIXÃO ATRAVESSA GERAÇÕES

O comerciante Raimundo Alexandrino Vieira, 80, começou a cultivar orquídeas há cerca de 15 anos, movido principalmente pela curiosidade. Ele possui pouco mais de 100 exemplares, reunidos na casa em que vive no bairro Caiçara, em BH, e na chácara em Santa Luzia, na região metropolitana. Raimundo conta que sempre gostou de flores, em geral. Quando ia capinar um canteiro para retirar as pragas, via uma flor e ficava com pena de arrancar, lembra. “Certa vez, conheci um rapaz sírio que gostava de orquídeas e de vez em quando ele me dava alguma. Foi quando comecei a pegar gosto e a ter em casa. A orquídea me atrai muito, porque demora para abrir o botão, e eu gosto desta espera pela flor, desta curiosidade, de ver que a raiz está boa, que a planta está sadia. Tenho prazer em cultivá-las. Eu compro a flor, mantenho, e quando é possível divido a muda, replanto, troco com alguém. É uma coisa interessante, porque antes eu preferia as flores grandes, agora tenho preferência pelas pequenas. Tenho de várias cores, e adoro o perfume. Para mim, elas trazem tranqüilidade.”

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Vizinha de Raimundo, a aposentada Therezinha Francisco de Almeida, 81, diz que desde pequena adora orquídeas, uma herança da mãe, que sempre teve muitas plantas em casa. “A primeira orquídea que conheci foi logo uma valquiriana, que surgiu no tronco de uma laranjeira no quintal de minha mãe, e desde então me apaixonei por esta flor”. Therezinha cultiva orquídeas há aproximadamente 20 anos e já teve mais de 100 plantas, mas o primeiro orquidário acabou depois que o marido faleceu, lamenta. Ela costumava participar de feiras e exposições e, dos seis filhos, dois herdaram esta paixão, sendo que um deles tem um grande orquidário em Cataguases, na Zona da Mata mineira. “Hoje tenho cerca de 40 exemplares na minha casa, no Caiçara. Eu mesmo que cuido e esta é uma flor que amo com um amor muito grande. O meu orquidário é o meu cantinho especial. Quando estou ali, me sinto fora do mundo”.

Em Minas Gerais, a Associação Mineira de Orquidófilos (AMO), fundada em 1988, atua no incentivo a novos orquidófilos, na preservação das orquídeas na natureza, realiza cursos e palestras sobre plantio e novas técnicas, e possui ainda um acervo bibliográfico que, segundo José Francisco de Mello, pode ser considerado um dos melhores do ramo dentre as instituições congêneres, constituindo excelente material de consulta e pesquisas. O vice-presidente da AMO ressalta que o número de orquídófilos em Minas Gerais é muito grande. “Há associações orquidófilas em quase todas as cidades mineiras. Seria uma injustiça dizer um número exato, pois em cada município do estado temos uma grande quantidade de pessoas que são apaixonadas por esta planta. Já o número de produtores é menor, pois para ser produtor é necessário ter um laboratório com equipamentos de última geração para se fazer meristemas (clones) e semeaduras cruzadas. Acredito que em Minas existem cerca de 10 produtores de maior porte”.

Concurso

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Contando com aproximadamente 280 associados ativos, sem contar as pessoas que não são cadastradas mas que estão sempre em busca de informações sobre cursos e exposições, a AMO promoveu entre os dias 28 e 30 de setembro, no Minascentro, em BH, a 33ª Exposição Nacional de Orquídeas, que teve público de 30 mil pessoas e participação dos principais orquidários e orquidófilos do Brasil e da América Latina, incluindo mais 100 mil exemplares. “Dentre nossas ações de preservação, estamos preparando para a exposição do ano que vem o 1º Concurso fotográfico de orquídeas na natureza, com o objetivo de incentivar as pessoas a valorizar as orquídeas em seu habitat, preservando a fauna e a diversidade das matas que já estão muito devastadas pelas mineradoras, e pela especulação imobiliária em todo estado. Serão premiados profissionais e amadores”, finaliza José Francisco.
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