A lareira de mármore de Carrara, do século 19, é francesa, mas foi comprada de um casarão no Rio de Janeiro
Eles não frequentam lojas tradicionais de decoração, com objetos de design futurista. Tampouco encomendariam ao marceneiro um armário sob medida. Para os colecionadores, insuperável mesmo é o cheiro ardido dos tempos passados, que invade o nariz quando se entra em um antiquário. São pessoas que reconhecem de longe uma peça que carrega, além de beleza, uma história que atravessa séculos.
Embora país abrigue uma diversidade de museus, é sob os tetos de algumas casas aparentemente comuns que estão guardadas coleções ímpares, que incluem, por exemplo, uma cama francesa em bronze do século 19, presente de um ditador uruguaio à sua amante. Ou uma mesa encomendada à Casa Jansen, em Paris, por Coco Chanel. Antes de estar à venda, a peça enfeitava a suíte do hotel Ritz, onde a estilista viveu por mais de três décadas.
Entrar na casa do professor de medicina Vicente Carrascosas é como viajar no tempo. Sócio de um antiquário, esse espanhol começou sua coleção há mais de 40 anos. "Uma coisa que eu adoro nisso é o prazer que dá a compra de uma peça. Algumas estão acabadas e você precisa ter uma visão do futuro dela, do potencial depois de restaurada; outras você se esforça muito para encontrar e, quando encontra, precisa fazer um esforço financeiro muito grande para adquiri-las - é como uma conquista", revela.
Betty Betiol no conjunto de poltronas moles, na sala. A obra é um clássico do mobiliário de Sérgio Rodrigues
A sala de visitas abriga imponentes móveis ingleses do século 18, que Vicente mistura com cuidado a quadros brasileiros e tapetes da Arábia Saudita. Na sala de jantar, duas poltronas maçônicas do final do século 19 trazidas da Guiana Inglesa enfeitam os cantos do ambiente, cujo destaque é um conjunto de jantar austríaco biedermeier, do século 19. Até as escadas respiram história, adornadas por móveis Luís XV e, lá no alto, um vitral italiano de meados de 1800 retirado de uma demolição no Uruguai.
Adquiridas em leilões ou garimpadas em viagens ao exterior, diversas peças pertenciam originalmente a famílias aristocráticas, agora decadentes. Apesar de ser dono de um acervo digno de museu, Vicente não se apega a nenhum item em especial. "Algumas coisas têm até mais valor decorativo do que financeiro. Mesmo que tivesse, não me apego a nada em especial porque da mesma forma que esses móveis vieram de pessoas que já morreram, um dia eu também vou morrer e isso aqui tudo vai ser vendido. Não sofro com isso", garante.
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