Mimos

Bibelôs mantêm espaço nobre na decoração de residências

Pequenas e delicadas, muitas vezes artesanais e com detalhes que enchem os olhos, essas peças ainda são admiradas por muitos e há quem não abra mão de espalhá-las pela casa

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postado em 06/11/2011 09:30 / atualizado em 07/11/2011 10:19 Júnia Leticia /Estado de Minas
Eduardo Almeida/RA Studio

Quem nunca viajou e deixou-se levar pelos encantos das lembrancinhas típicas de um determinado lugar que atire a primeira pedra. Seja para presentear alguém, ter uma recordação de um passeio inesquecível ou mesmo por achar o objeto um mimo, o fato é que sempre tem quem volte para casa com, pelo menos, um desses bibelôs para colocar em casa. Alguns são considerados até mesmo amuletos, e ai daquele que tirar o objeto da sorte do lugar. Outros simbolizam uma época ou crença, sendo considerados sagrados. Independentemente do valor atribuído a eles, é inegável que muitos estão impregnados de uma carga afetiva. Além de dar um toque pessoal à casa, finalizam a decoração do ambiente como se fosse uma marca registrada.

Definidos pelo dicionário como pequenos objetos de adorno, eles são delicados, têm diversas formas, são feitos dos mais variados materiais e podem ser artesanais ou industrializados. Ninguém sabe ao certo quando e onde eles surgiram, mas apesar de, aparentemente, estarem perdendo espaço na decoração para objetos como obras de arte, livros e flores, essas peças charmosas ainda têm seu lugar.

Clique e veja mais fotos dos bibelôs


A designer de interiores Gleice de Almeida acredita que esses pequenos objetos de decoração, geralmente de baixo custo, surgiram por volta da década de 1930. “Quando a arquitetura é influenciada pelo crescimento da produção industrial e com os materiais passíveis de serem reproduzidos em massa”, contextualiza. Esse cenário, aparentemente despretensioso e meramente comercial, foi, aos poucos, conferindo status sentimental a essas pequenas peças, que ganharam lugar na decoração. “Muitos desses bibelôs são estimados devido à história a que eles remetem”.

A arquiteta Letícia Dias diz que está mais fácil e barato comprar esses mimos - Eduardo Almeida/RA Studio A arquiteta Letícia Dias diz que está mais fácil e barato comprar esses mimos


Na definição da designer de interiores Iara Santos, os bibelôs são pequenos objetos, quase sempre de porcelana, com design mais rebuscado, que passam pelos estilos clássico e barroco. “Esses objetos tornam a decoração mais personalizada, pois nós temos várias linhas de adornos para decorar e gosto muito quando se pode colocar alguma coisa diferente do que está nas lojas”, admite.

Além da porcelana, a designer de interiores Ana Karina Chaves diz que eles podem ser feitos de vidro. E além de decorativos, geralmente têm grande valor sentimental. “Por trazer boas lembranças de pessoas, lugares e viagens, muitas vezes são passados de geração para geração em uma família”, reconhece.

Para Gleice de Almeida, muitas peças são de grande estima para o dono à história - Eduardo Almeida/RA Studio Para Gleice de Almeida, muitas peças são de grande estima para o dono à história


O ritmo de vida atual, em que o tempo tem de ser otimizado, é um dos motivos apontados pela designer de interiores para que os adornos, que lembram o tempo das vovós, não façam tanto sucesso como antigamente. Afinal, para mantê-los é preciso cuidado com a limpeza, o que significa um certo trabalho para tirá-los e colocá-los novamente nos lugares onde estavam. “As pessoas buscam a praticidade. Por isso, estão usando objetos maiores. Mas eles não foram totalmente extintos”, observa Iara.

PESSOAL

Mais do que simples enfeites, a arquiteta Flávia do Prado admite que os bibelôs personalizam e dão identidade ao ambiente, como se fosse uma marca registrada. Mas ela reconhece que eles estão perdendo espaço diante da rotina corrida. “Hoje, buscamos praticidade, e os bibelôs, por serem peças frágeis e geralmente em grande quantidade (coleções), precisam de um certo cuidado”, considera.

Colecionadores dessas peças sempre estão atentos aos detalhes, segundo a designer de interiores Iara Santos - Eduardo Almeida/RA Studio Colecionadores dessas peças sempre estão atentos aos detalhes, segundo a designer de interiores Iara Santos


Apesar de reconhecer que essas peças ainda têm seu lugar na decoração, a arquiteta Letícia Dias fala que esse não é o único motivo para que alguns não abram mão de seu uso. “Elas têm um grande valor afetivo e têm apelo sentimental, como a lembrança de uma época ou lugar, e até mesmo de uma crença.” Para quem, independentemente de críticas, não consegue viver sem esses pequenos objetos e, de quebra, economizar, Iara Santos tem uma ótima notícia. “Antigos ou moderninhos, está mais fácil adquirir esse mimos, pois o preço está mais acessível. Os clientes pedem sempre adornos, mas não gostam de investir grandes somas. Agora, há mais opções para personalizar a casa gastando menos”.

ORGANIZADOS COM PRATICIDADE

Mas não foi só a falta de tempo para limpá-los e a dificuldade para conservá-los os únicos motivos que contribuíram para que os bibelôs fossem desaparecendo. Assim como nas artes, há estilos que surgem de tempos em tempos, e na decoração não é diferente. A mudança do design de interiores visível nas últimas décadas contribuiu para que outros tipos de materiais e objetos tomassem o lugar dessas pequenas peças. "Com a modernidade dos móveis nas décadas de 1950 e 1960, os desenhos de linhas retas foram muito valorizados e os adornos acompanharam essa tendência. Com isso, os bibelôs, peças com design mais rebuscado, foram deixados um pouco de lado", diz a designer de interiores Iara Santos.

A designer de interiores Klazina Norden (E) diz que muitos não se guiam por motivos e se atêm ao valor afetivo dos objetos. Para a designer de interiores Ana Karina Chaves (D), muitos bibelôs foram substituídos ao longo dos anos por itens de material mais nobre - Eduardo Almeida/RA Studio A designer de interiores Klazina Norden (E) diz que muitos não se guiam por motivos e se atêm ao valor afetivo dos objetos. Para a designer de interiores Ana Karina Chaves (D), muitos bibelôs foram substituídos ao longo dos anos por itens de material mais nobre


De lá pra cá, muita coisa mudou e o resultado é que os bibelôs ficaram sendo vistos por muitos como objetos ultrapassados e até bregas, como observa a designer de interiores Ana Karina Chaves. "E foram substituídos por objetos de materiais mais nobres, como os cristais, e de design contemporâneo, como as toy arts, que, na minha opinião, não deixam de ser uma releitura dos bibelôs."

A arquiteta Flávia do Prado explica que a toy art é um misto de brinquedo e obra de arte. Coloridos, descolados e muitas vezes inspirados em heróis, desenhos animados ou personagens em geral, os bonecos estão fazendo a cabeça de muita gente grande. "Eles têm as mais variadas formas e tamanhos e são uma ótima opção para quem quer deixar o ambiente com um ar mais 'descolado'", indica.

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O estilo clean, que preconizou ambientes com o mínimo de detalhes, foi a razão apontada pela designer de interiores Gleice de Almeida para o declínio dos bibelôs. "Eles são objetos pequenos que, no contexto da decoração moderna e contemporânea, perdem um pouco do seu espaço em ambientes mais limpos, sem muitos objetos, tendo a decoração mais esculturas e obras de arte."

Mas como há aqueles que não abrem mão da tradição, mesmo que conjugando o antigo com o novo, os bibelôs ainda estão na casa de muita gente, que atribui grande importância a eles. Tanto, que podem até fazer parte de uma coleção. "As pessoas que colecionam esses objetos, normalmente, admiram muito os detalhes. Por isso, optam por utilizar esses elementos decorativos", observa Iara.

Eduardo Almeida/RA Studio


Outro motivo para que os bibelôs sobrevivam no design de interiores é o fato de que muitos não se guiam pelas tendências do mercado, pelo menos na hora de decorar a casa, como analisa a designer de interiores Klazina Norden. "Muitas pessoas não se prendem a modismos e valorizam o lado afetivo desses objetos, estando eles em alta ou não. Por esses motivos, não dá para dizer que os bibelôs, apesar de cada vez mais escassos, vão sumir de vez dos lares. Afinal, quem os coleciona ou usa na decoração atribui a eles um grande valor".

Tudo bem que muitas vezes eles podem ficar em locais inapropriados, que os desvalorizem ou causem certo tumulto visual, mas o fato é que estão lá. Nesse caso, a solução apontada por Iara Santos é reservar um local só para eles. "Escolher um cantinho para expô-los, como um móvel fechado ou uma mesinha."O problema é que, como geralmente são muitos, fica difícil definir onde colocá-los de maneira a valorizá-los. Nesse caso, a sugestão da arquiteta Letícia Dias é procurar o contraponto. "A dica para que eles não poluam o espaço seria mesclar com outras peças mais contemporâneas e atemporais", indica.

LEVEZA
Para haver um equilíbrio, Klazina diz que as peças podem ser misturadas entre livros de uma estante no home office. Mas a escolha do local para expor a coleção de bibelôs deve sempre ser cuidadosa, como enfatiza a designer. "Vidros de perfume e bonecas de porcelana ficam melhor em ambientes íntimos, como o quarto. Já pratos, xícaras e colheres são mais adequados às salas de jantar, copas e cozinhas. Hall e circulações são ótimos locais para expor as coleções; podem ser transformados em minigalerias", fala a designer.

A arquiteta Flávia do Prado sugere tirar partido deles agrupando-os em lugares específicos, como nichos ou quadros. "E mostrar a coleção por meio de montagens, dando a eles um espaço de destaque no ambiente, e não os distribuindo por toda casa, em cima de mesinhas e lareiras", comenta a arquiteta.

Eduardo Almeida/RA Studio


BIBELÔS NAS PAREDES

Mas não são só cristaleiras, armários, mesas e prateleiras podem abrigar pequenos e delicados enfeites. Para quem gosta de colecionar ou mesmo registrar em casa a passagem por algum lugar especial durante as viagens, até as paredes são uma ótima opção para lembrar os bons momentos. As alternativas para isso são muitas. Porta-chaves, xicrinhas, casinhas com fogão a lenha, azulejos, miniestandartes, vasinhos de flores, imagem do Divino Espírito Santo, bonequinhos como bruxinhas e pratinhos são alguns exemplos. Para fazer essa decoração com critério, a designer de interiores Iara Santos recomenda equilíbrio. “É preciso harmonizar os volumes com cores, escolher os temas e fazer um conjunto com eles”.

É necessário, ainda, verificar ao que se relacionada cada peça para colocá-la no ambiente adequado, e não destoar do contexto. É preciso que os objetos sejam conjugados com o restante dos móveis e adornos do espaço. “Peças específicas devem se colocadas em cozinhas, salas de almoço ou varandas”, indica Iara Santos, fazendo referência a, por exemplo, minixícaras e miniaturas de fogão a lenha.

E como quem gosta desses objetos pode exagerar na quantidade de peças, a designer de interiores ressalta que é essencial ter cautela, com atenção aos demais aspectos que fazem parte do ambiente. “Ponderando com peças que complementam, cores e texturas. Ressaltando sempre que se deve adequar com temas de cada peça”, reitera Iara.

Eduardo Almeida/RA Studio


Outra dica para não errar na composição, o que pode poluir o ambiente, é prestar atenção, também, na harmonização dos volumes. Para isso, o ideal é colocar as peças de maneira simétrica. “Porém, sem deixar estático. Sempre tem que dar a sensação de movimento e leveza, mesmo fixos nas paredes. Além disso, fica ruim o excesso de volumes e de cores muito fortes. Acho que os bibelôs devem sempre ser superdelicados”, considera Iara.

Para que eles continuem a fazer a alegria de quem fica feliz só em contemplá-los, é preciso harmonizá-los com a decoração, de forma a refletir a personalidade do morador. “Para isso, pode-se conjugá-los com vasos com plantas e flores, esculturas e livros, observando a harmonia entre eles por meio das cores e formas. E para quem tem muitos, o ideal é setorizar, escolhendo um canto ou um móvel para expor a coleção, valorizando as peças”, aponta Gleice de Almeida.

À MOSTRA

Além de escolher um local específico, que pode ser um cantinho ou ambiente da casa, a design de interiores Iara Santos sugere pontuá-los em algum móvel. “Como em uma estante com livros, por exemplo”, indica. Este local deve ser fechado – pode ser com uma porta de vidro – para que as peças não acumulem poeira.

A designer de interiores Ana Karina Chaves também recomenda que eles fiquem agrupados. “Por serem, normalmente, peças pequenas, os bibelôs devem ser postos juntos, dando, assim, um visual melhor e valorizando as pecas. Nunca espalhados pela casa”, ressalta. Segundo a designer de interiores, o ideal é planejar um local de destaque para os objetos. “Como uma estante, nichos iluminados ou uma cristaleira de vidro, valorizando a coleção e deixando-a exposta e organizada”, completa.

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Aí vale até mesmo criar um espaço específico, feito sob medida, para abrigá-los, de acordo com Klazina Norden. “A maneira mais comum de organizá-los é projetar um móvel especialmente para eles, como uma espécie de vitrine. Podem ser simples prateleiras ou vários nichos dispostos harmonicamente”, indica a designer.

Eduardo Almeida/RA Studio

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