Religiosidade

Oratórios são expressão de arte e devoção

Demonstração de fé trazido das igrejas, eles ganham espaço dentro de casa em formatos menos sisudos. Design das peças atuais trazem beleza e sensação de paz ao lar

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

RECOMENDAR PARA:

- AMIGO + AMIGOS
Preencha todos os campos.
postado em 18/03/2012 07:00 / atualizado em 19/03/2012 09:59 Joana Gontijo /Lugar Certo
A artesã Ivana Dantés diz que eles podem ser usados contrastando moderno e rústico ou combinando estilos - Eduardo Almeida/RA Studio A artesã Ivana Dantés diz que eles podem ser usados contrastando moderno e rústico ou combinando estilos

Seja qual for a religião praticada, ter um local em casa reservado para momentos de oração é sempre expressão de uma atitude positiva. Esse é um dos motivos que fez com que os oratórios estivessem presentes nos lares desde o tempo dos nossos antepassados. Antes eram sisudos e símbolos característicos, mas atualmente, além de serem explorados por religiosos, como demonstração de fé, eles ganharam modos de objetos de arte e decoração. Compostos como um nicho para abrigar um ou mais santos de devoção, em estilos, tamanhos e materiais variados, os oratórios são cada vez mais procurados por pessoas espiritualizadas que buscam levar para onde moram boas energias, sem esquecer da beleza.

Veja mais fotos de oratórios

Para a designer de interiores Renata Afonso, os oratórios levam para dentro das moradias o clima de devoção e fé praticadas nas igrejas. “Hoje em dia, as pessoas estão buscando cada vez mais os valores religiosos e os incorporando como parte da decoração. Os oratórios transmitem calor humano, paz, segurança e união entre os familiares”. Podendo ser utilizados em ambientes internos e externos, ao inseri-lo em um projeto de design é importante verificar o estilo do espaço, já que o próprio oratório tem uma carga inerente, que pode ser explorada com a aplicação de adornos complementares e iluminação pontual ou interna para conferir o efeito de tranquilidade, acrescenta Renata Afonso. “Muitas pessoas querem algo diferente que demonstre as velhas culturas e que traga à lembrança coisas do passado”, frisa.

Os oratórios surgiram na Europa nos primórdios da Idade Média, em uma época em que as famílias que não podiam construir capelas representavam-nas através destas peças, explica a designer de interiores Rosane Mota Guedes. “Eles vieram para o Brasil em 1500, quando as caravelas de Cabral chegaram trazendo um exemplar com a imagem de Nossa Senhora da Boa Esperança, iniciando uma tradição que se espalhou pelas fazendas, senzalas e residências da colônia. Instalaram-se na cena doméstica, na cidade e no campo, das cozinhas aos quartos de dormir, das varandas às salas de jantar. Ao longo de dois milênios, aparecem e ressurgem em todos os territórios da cristandade, seguindo tendências, influências e costumes de cada região”.

Artista e escultor, Vanderley Campos de Sena já esculpiu peças de apenas 10cm e outras do tamanho de altares - Eduardo Almeida/RA Studio Artista e escultor, Vanderley Campos de Sena já esculpiu peças de apenas 10cm e outras do tamanho de altares
Além do santo protetor, estes objetos também abrigam tudo o que se relaciona à devoção cotidiana, ocupando local de destaque e sendo passados entre as gerações como um bem muito importante, continua Rosane. “Eles apresentavam uma grande diversidade de formas, tamanhos e decorações, que variavam conforme a condição financeira do fiel. Muitos eram policromados ou dourados e imitavam o usual nas igrejas barrocas. Já outros eram extremamente simples: pequenos armários, toscos e pouco decorados, mas que guardavam o mesmo sentido de invólucro para o santo de devoção. Havia também uma enorme diversidade de santos protetores nesses diminutos espaços de devoção”.

Rosane lembra que, nos salões de classes mais abastadas, buscava-se ornamentar os oratórios de maneira mais elaborada. Ainda que de caráter popular, a decoração era esmerada e mantinha certos padrões formais na iconografia, nos motivos e na policromia, por exemplo. Eram baseados em oratórios eruditos, que criativamente eram reformulados. “Em geral, mantinham o formato de um pequeno armário com as portas externamente entalhadas e compondo almofadas policromadas. Internamente, apresentavam vasos de flores ou referências iconográficas ao santo de devoção em pinturas ingênuas. Os motivos barrocos ou rococós apareciam em detalhes como volutas, concheados, rendilhados ou cortinas”.

Entre as variedades existentes para a peça, destacam-se os oratórios populares domésticos; oratórios itinerantes ou de viagem, encontrados em duas vertentes, oratórios de algibeira, usados como amuletos de proteção pelos viajantes, e oratórios-bala, com formato semelhante às balas de cartucheira. Há ainda os oratórios afro-brasileiros, símbolos do sincretismo religioso; oratórios ermidas, de uso comunitário, comuns nas casas grandes do Nordeste e nas fazendas de Minas Gerais; oratórios-conchas, decorados com conchas, guirlandas e buquês; oratórios-lapinhas, tipicamente mineiros, compostos por duas partes - no alto a cena do Calvário e embaixo o presépio; e os oratórios de convento, elaborados por freiras de acordo com a tradição decorativa portuguesa.

"Os oratórios são peças únicas. Como tal, são muito valorizados e devem ser tratados como obras de arte" - Rosane Mota Guedes, designer de interiores
Os oratórios modernos, por sua vez, são coloridos e confeccionados em materiais que vão muito além da madeira. Fabricados com técnicas como decupagem, marchetaria ou entalhe (entre outras), usando miçangas, flores, fuxico, tecidos variados e até latas recicladas, as peças ganham ares de pop art, inspiradas em universos diferentes, desempenhando inúmeros papéis, desde guardiões dos santos patronos de cada fiel, portanto individualizados, até versões coletivas instaladas em locais públicos, pontua a designer. Em cima de um móvel, no final do corredor, ou fixo na parede, Rosane os considera obras de arte de rara e, ao mesmo tempo, simples beleza. “Os oratórios são peças únicas. Como tal, são muito valorizados e devem ser tratados como obras de arte. Mesmo em um projeto contemporâneo, certamente um oratório antigo será bem vindo, pois nem mesmo nossa vida acelerada deverá nos impedir de valorizar nosso passado e principalmente nossa religiosidade. Atualmente almejamos estar cercados de objetos que contam nossas histórias”.

DIVERSIDADE

Segundo a arquiteta Tatiana Andrade, os oratórios servem para montar um altar de acordo com o tipo de religião que se tem. Não possuem um tamanho padrão e podem ter diferentes símbolos, de acordo com a crença de cada pessoa. “Alguns exemplos que os oratórios podem conter são os santos, terços, crucifixos, anjos, budas, bíblia ou evangelho, orixás, dentre outros”, diz. As peças, então, também podem ser utilizadas para abrigar divindades de outras religiões, como budismo e hinduísmo. Altares com imagem de Buda e estatuetas dos deuses indianos Ganesh e Shiva são misturados a velas, incensos e flores.

Eduardo Almeida/RA Studio
“Os oratórios nos ajudam a ter um espaço aonde o momento é só nosso, em que podemos parar para meditar ou orar, pedindo ajuda e proteção aos planos superiores. Com a rotina intensa do mundo de hoje, muitas vezes não conseguimos parar um pouco para nos dedicar às nossas orações. Oratórios em casa ou na empresa nos ajudam com isso, além de tornar aquele espaço em que se insere harmônico e aconchegante. E, com o uso de diferentes cores e materiais, podem até dar um toque divertido ao ambiente, em uma atmosfera de paz e proteção”, complementa Tatiana.

Criatividade para criar itens únicos

Para a artesã Ivana Dantés , independente de seu estilo, o oratório cabe em qualquer tipo de composição, contrastando o moderno e o clean, ou combinando o antigo e o rústico, o que vai de acordo com o gosto do dono da casa. Para ser mais valorizado, é bom que esteja como peça única, de destaque, recomenda. Ivana conta que, como historiadora, sempre foi fascinada pela questão da fé e do sagrado. “Trabalhava com velas fazendo, além das tradicionais, algumas com imagens sacras. Resolvi fazer um oratório na cabaça e as vendas e encomendas não pararam. Aos poucos fui incorporando outros materiais até substituir as velas pelos oratórios, que são peças que me dão muito prazer em fazer”.

Modelos esculpidos em madeira estão entre os mais procurados pelos consumidores nas lojas de artigos religiosos - Eduardo Almeida/RA Studio Modelos esculpidos em madeira estão entre os mais procurados pelos consumidores nas lojas de artigos religiosos
Para a confecção dos oratórios, Ivana usa materiais variados, como madeira, barro, MDF, bambu, parafina, cabaça, cascas, sementes, caixas de fósforo, tampinhas de garrafa e rolhas, para criar o nicho. Os santos são de resina, madeira e tecido. Na ornamentação, fitas, flores de tecido ou sempre vivas, peças de bijouterias recicladas, medalhas, para citar apenas alguns exemplos. “Dependendo da técnica da pintura e da decoração da peça, o trabalho fica pronto em entre dois e quatro dias. Os tamanhos dos altares variam de 2 cm até 1,15 m. De acordo com o tamanho e, claro, com o trabalho e material utilizado, os preços ficam entre R$ 5 a R$ 480, agradando a um público bastante variado, incluindo quem aprecia a arte, o sagrado e as tradições”.

O artista e escultor Vanderley Campos de Sena começou a esculpir peças sacras em seu ateliê em Belo Horizonte, como imagens de santos e, juntos, vieram os oratórios. Ele diz que seu processo de produção é lento e muito trabalhoso, já que é manual. “Por menor que seja o tamanho da peça, ela demora no mínimo um dia para ficar pronta. Já fiz oratórios com dez centímetros de altura, até chegar a tamanhos que podem ser chamados de altar. Além do tamanho, os modelos também variam, mas uso principalmente a madeira. Por ser objeto de religiosidade, decorativo e com traços culturais, o meu público é formado por vários tipos de admiradores. Unindo arte e beleza, os oratórios devem estar à vista de todos”, completa.

Tags: decoração,

Comentários Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação
600
 
Edgar - 18de Março às 10:35
Joao 14:5 Disse-lhe Tomé: Senhor, nós não sabemos para onde vais; e como podemos saber o caminho? João 14:6 Disse-lhe Yeshua: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim.

Últimas Notícias

ver todas
13 de julho de 2023
04 de julho de 2023