Uma arte milenar, a marchetaria (do termo francês “marqueter”, que significa embutir) é a técnica de montar, incrustar ou aplicar peças recortadas de madeira lançando mão das suas cores, veios e traços naturais para compor desenhos e figuras, comprovando extrema versatilidade de aplicação na decoração da casa. O apelo vintage das peças pode ser mesclado a projetos contemporâneos, criando ambientes carregados de história e identidade. Também com a possibilidade de ser trabalhada com outros materiais, a marchetaria sempre cria um tom acolhedor e esse potencial é muito explorado pela arquitetura e o design de interiores.
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Trata-se de uma técnica datada de mais de 3000 anos a.C., encontrada primeiramente nas pirâmides e templos do Egito, e desde a mais alta antiguidade na Europa, Ásia e China, como explica o artista Luiz Henrique de Assis. Muito tempo depois, a marchetaria renasce na Itália durante o Império Romano. No século 14, painéis passam a decorar o interior das igrejas da Toscana, no norte do país. “No começo, a marchetaria baseava-se em um estilo muito geométrico, que combinava a madeira com filetes de osso, de marfim e diversos metais. Evoluiu depois para um modelo mais figurativo, baseado em correntes decorativas e naturalistas. Atingiu seu apogeu na França, nas célebres cortes dos reis Luis XIV, XV e XVI, com peças únicas jamais igualadas”.
Para a confecção de inúmeros tipos de peças, é utilizada a madeira laminada ou em blocos (em pedaços com espessura de até 1mm), em tons originais ou artificiais, criando diversas possibilidades de figuras
Para os sócios da Memoriabilia ADVintage, em BH, onde é possível encontrar diversos artigos em marchetaria, João Caixeta e Fabiano Lopes, sua inserção na decoração atual está em composição com a tendência vintage, pois se trata de um elemento
De acordo com João e Fabiano, no espaço contemporâneo se busca tudo aquilo que representa o gosto e as necessidades dos moradores, destacando sempre algo que revela sua intimidade. “O vintage trabalha com a memória. As peças que portam esse traço, como a marchetaria, adicionam uma possibilidade de personalização. O ideal é que a composição seja bem dosada. Por estar ligada intimamente como ofício que envolve a arte, apresentando o figurativo e o geométrico em situações distintas, a valorização desse tipo de peça agrega a delicadeza de seu feitio e o resultado traz cenas e imagens ricas em combinações criativas. É algo exclusivo”, acrescentam.
Na loja, os produtos em marchetaria estão presentes em diversos estilos, como o artdecó, o mobiliário dos anos 1950 e peças mais antigas
DESIGN
No Brasil, esta prática vem sendo utilizada por diversos profissionais que a introduziram em criações de arte e design, exibindo geometrismo, figuras estilizadas e ainda apresentando características estruturais ou dupla face, frisam as designers de interiores sócias da VS Design, Fabiana Visacro e Laura Santos. “A industrialização vem contribuindo com seus equipamentos para atualização e aperfeiçoamento da técnica, permitindo um acabamento nobre e resultando em peças de alto valor no mercado, sobretudo quando utilizadas sobras de madeira em respeito ao meio ambiente”, contam.
Para as designers, a arte da marchetaria tem como principal atributo a própria característica acolhedora da madeira e confere, através de seus desenhos únicos e cores diversas, originalidade e personalidade aos projetos. “As peças em marchetaria podem ser encontradas em diversos ambientes e serem expostas de formas variadas. Aparecem em detalhes cheios de valor como bijouterias trabalhadas, tabuleiros de xadrez e até um cabideiro com motivos lúdicos. Ganham impacto quando
A nobreza e a inovação
A designer e artista Tissi Mousinho criou em seu ateliê ladrilhos de madeira, chamados de madrilos, que associam a tradição e a nobreza do trabalho em marchetaria a novas tecnologias, para oferecer um produto criativo a um mercado que quer originalidade, exclusividade e respeito ambiental. Trata-se de um mosaico de lâminas de madeiras de vários tipos, como imbuia, mogno, freijó, marfim e wengue, com texturas e cores diferentes, montados sobre uma superfície de MDF. “Comecei com pequenos desenhos inseridos em objetos de uso diário. Os desenhos foram crescendo em superfícies maiores: tampos de mesas, painéis, portas, até atingirem paredes inteiras como grandes murais. Estes murais são montados por módulos (os madrilos), que podem variar de tamanho”.
Natural de Santos, mas morando na Grande BH, o artista autodidata Luiz Henrique de Assis utiliza a técnica da marchetaria para produção de quadros. Cenas campestres, agrárias, casarios, florais e formas geométricas, trazem a inspiração. Filho e neto de marceneiros, Luiz conheceu a técnica há cerca de dez anos pela televisão e explorou a familiaridade que já tinha com a madeira para soltar a criatividade e desenvolver suas peças que antes eram um hobby e depois passaram a ser sua profissão.
ARTESANAL
A produção de quadros e painéis, seu carro chefe, é toda artesanal . No processo de fabricação, Luiz procura utilizar sobras de lâminas que são descartadas pela indústria moveleira, ou compra laminados de cores e texturas mais específicas, às vezes até importadas. “Tenho trabalhado muito na decoração de igrejas, fazendo quadros com via sacras, sacrários e painéis decorativos utilizando símbolos litúrgicos. Tenho criado também caixas decoradas com marchetaria para lojas de vinhos. Quanto aos preços, a marchetaria requer muita paciência e tempo. É um trabalho de precisão e dependendo da complexidade da figura trabalhada, varia entre R$ 500 e R$900 o metro quadrado”. Para o artista, a arte confere ao espaço um clima de nobreza. “Um móvel decorado com marchetaria no estilo Luis XV agrega muito valor ao ambiente. E também em móveis no estilo moderno, a marchetaria feita com materiais como casca do coco e certos cipós fica muita bonita”, completa.