Na maioria dos projetos de design e decoração, é possível perceber a conexão com o universo da moda. Todos os anos, o que aparece nas passarelas transpõe o caráter inicial e se traduz nos ambientes, residenciais ou comerciais. Depois do monocromatismo e dos tons neutros, das estampas florais e da mistura entre texturas, padronagens e materiais, uma tendência atual e marcante simboliza com elegância e descontração esta interligação. Quebrando a monotonia dos espaços com o uso de cores expressivas e suas combinações, o color blocking chegou para ficar. A cor pode vir em qualquer coisa, e é aí que está a graça. Almofadas vermelhas, um sofá azul, um vaso amarelo, ou uma parede verde, vale tudo. Especialistas explicam, então, como ter harmonia para que a decoração não destoe do estilo da proposta.
A tendência color blocking trabalha a sintonia entre várias cores expressivas e contrastantes, tornando o ambiente mais vivo e espontâneo, através da quebra de combinações óbvias e monocromáticas, explica o arquiteto Reinaldo Saturnino. “Com bom gosto e criatividade, tomando o devido cuidado com excessos, o color blocking cabe em variados tipos de ambiente, tanto corporativos, quanto residenciais”, ressalta. Se bem dosadas, as cores servem, por exemplo, para quebrar a sobriedade de um escritório, conferir personalidade a uma sala de jantar, dar um toque moderno em banheiros e lavabos ou tornar a área da piscina mais atraente.
Reinaldo Saturnino sugere que, se o ambiente for espaçoso, vale pintar uma das paredes de cor intensa. Já para ambientes com menos espaço, o ideal é apostar apenas nos objetos, por serem mais discretos e fáceis de remanejar, continua. “As cores primárias são o ponto de partida, sempre jogando tonalidades que se complementam
Misturando cores vibrantes em uma mesma composição, contrastando tons bem diferentes ou parecidos, na opinião da designer de interiores Bárbara Campos o color blocking é uma grande oportunidade de levar vida aos ambientes e retratar a personalidade de cada um. No piso, na parede, no mobiliário e nos adornos, quando usada em ambientes comerciais a tendência é uma oportunidade de não passar despercebido para os clientes e deixar a marca registada, ressalta a designer. “O color blocking cabe em todos os ambientes, independente da proposta
O color blocking caracteriza-se predominantemente pelo uso das tonalidades mais alegres, mas, segundo Bárbara Campos, as combinações não precisam ficar apenas entre as cores lisas, valendo também aplicar estampas, principalmente minimalistas e listras. “Esta tendência cai bem sempre. É uma boa hora para repaginar aquele sofá antigo ou uma mesinha de canto com uma cor bem alegre, para virarem novamente o destaque da sala. No revestimento, pode-se brincar com as cores no ladrilho e nas pastilhas sem medo. Em relação a adornos e acessórios, a liberdade é total. Só reforço o bom senso”, afirma.
Na tradução ao pé da letra, color blocking seria algo como “a cor que obstruiu a outra” ou “briga de cores”, como se um tom quisesse chamar mais atenção que o outro, explica a designer Tatiana Valadares. “O bloco de cor veio para ficar. Misturando cores da mesma família, fica mais fácil acertar na combinação. Como exemplo, temos verde com azul, roxo com vermelho, vermelho com laranja. Variações do mesmo tema também funciona, interligando diferentes tons da mesma cor. Agora, se a intenção é arriscar em propostas mais ousadas, a dica é misturar tonalidades opostas da roda de cores”, ensina Tatiana.
RENOVAR
No projeto da Varanda Maneira Mineira, espaço de Bárbara Campos, Tatiana Valadares e do paisagista Paulo Leal na Morar Mais por Menos deste ano, na capital, a proposta é mostrar a hospitalidade do mineiro em sua forma de receber bem, com conforto e aconchego. “O mineiro é muito antenado para as tendências e o color blocking está presente nas cores uva e vermelho, retratando alegria, criatividade e bom gosto”, pontua Bárbara. No jardim vertical projetado por Paulo para a varanda, a mistura entre plantas naturais e artificiais, ideal para quem não tem muito tempo para cuidar delas. As cores estão presentes nos cachepôs amarelos, em contraste com o vermelho e o roxo do projeto.
LIBERDADE PARA BRINCAR
Para as designers de interiores Cacilda Menezes e Raquel Lamac, na decoração cores fortes sempre são sinônimo de cautela, mas nem por isso a criatividade deve ser deixada de lado. “Podemos usar o color blocking em qualquer ambiente, sempre com bom senso, pois engana-se quem pensa que o simples fato de usar cores indiscriminadamente provoca o efeito que a tendência propõe”. Uma boa dica para quem não tem muito costume em usar as cores é pegar uma caixa de lápis de cor e ir montando as combinações, orientam as designers.
MAIS LEVE
Segundo a designer de interiores Ana Paula Gropen, o color blocking deve ser aplicado com muito critério, já que confere uma identidade especial ao ambiente, tornando-o mais descontraído e arrojado. “Quando aplicada corretamente, os resultados desta tendência podem acrescentar inclusive uma sensação energética à concepção. Embora o color blocking esteja sendo mais utilizado atualmente nas versões de cores vibrantes, há diversas opções, entre elas variações de uma mesma cor e distintas combinações de cores suaves, as denominadas candy colors”, acrescenta Ana Paula. Como explica, quando
De acordo com as arquitetas Cristina Barbosa e Taciana Ribeiro, sócias da Arquitrix Projetos e Design , em qualquer tipo de ambiente, desde que seja pensado como um todo, pode ser inserida esta tendência, que quebra a sobriedade do espaço, além de lhe conferir personalidade, tornando-o mais interessante. Para elas, não há muita regra para usar as cores, mas eles devem estar harmonizadas para que a proposta não fique enjoativa, e, ao contrário do que muitos pensam, tons opostos jogados juntos podem dar ótimos resultados, ressaltam. As arquitetas dão exemplos de como o color blocking pode ser especificado no projeto de forma menos óbvia. “Móveis de estilo ganham uma aparência inusitada quando laqueados com cores fortes. Uma mesa posta com pratos coloridos, taças com textura e cor, guardanapos e flores multicoloridas, dão um toque sofisticado, alegre e moderno ao conceito. As paredes podem tanto serem pintadas com cores fortes, como serem revestidas com papel de parede em tons coloridos. Papéis usados com estampas diferentes, também num mesmo espaço, sugerem um ambiente descolado, bem ao estilo 'não sigo tendências'”.
INSPIRAÇÃO HOLANDESA
O color blocking teve sua origem com o pintor holandês Piet Mondrian que, direcionado pelo movimento cubista, exerceu profunda influência na pintura, arquitetura e desenho gráfico no século 20, por intermédio de sua abstração geométrica e as cores sem mistura, explica a designer Ana Paula Gropen. Na moda, esta tendência surgiu na Europa, na década de 1960, quando o estilista Yves Saint Laurent usou como inspiração para as suas criações as obras do pintor, e foi reacendida após a crise econômica global de 2008, como uma forma de realçar o otimismo, pregando um estilo de vida mais leve, deixando de lado os tons mais sóbrios impostos até então, continua Ana Paula. A partir de 2010, quando passou a aparecer com mais frequência nas passarelas internacionais, o mercado brasileiro se entusiasmou por esta tendência que, finalmente, chegou à decoração.