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Área de serviço ganha novas utilidades

Quarto de empregada ganha opções de aproveitamento nos projetos dos apartamentos, que vão da despensa a home office

Humberto Siqueira
A antiga área de serviço foi integrada à sala de jantar para criar o cantinho de leitura e descanso. Projeto concebido pelas profissionais da VS Design, Fabiana Visacro e Laura Santos - Foto: Eduardo Almeida/RA Studio

Até uma década atrás, era comum empregadas domésticas dormirem na casa dos patrões. Muitas, vindas do interior, precisavam de moradia para poder trabalhar. Atualmente, alguns fatores estão contribuindo para mudar esse cenário: o crescimento econômico do país, a consolidação das profissionais na capital, com as próprias famílias, e a mudança na atividade de muitas domésticas, que passaram a trabalhar como diarista visando melhorar os rendimentos. Com isso, os projetos dos apartamentos também começam a mudar, já prevendo uma alteração no uso do espaço, bem como buscando otimizar e tirar o melhor proveito da menor área de serviço possível.

Segundo o arquiteto Túlio Lopes, o quarto de empregada ainda está presente em novos empreendimentos com unidades acima de 90 metros quadrados, mas sempre permitindo opções de personalização. “Muitas famílias não vão mais usar o espaço como dormitório e sim como despensa, depósito, home office, entre outras possibilidades. Daí a importância de o projeto prever isso, de forma que as alterações não só sejam possíveis como também se harmonizem no ambiente”, diz.

Em prédios menores, com unidades de dois e três quartos, a tendência é criar um vestiário no pilotis onde os prestadores de serviço, incluindo aí as diaristas, possam ter um espaço para trocar de roupa, guardar seus pertences e tomar um banho antes de ir embora. Já o banheiro de empregada, avalia Túlio, deve ser passível de ser convertido num lavabo.

PROJETOS ENXUTOS

"Na década de 80, não se concebia um apartamento de três quartos com menos de 100m². Hoje, existem unidades sendo construídas a partir de 60m². Então não tem como ter quarto de empregada" - Túlio Lopes, arquiteto - Foto: Eduardo de Almeida/RA Stúdio - 3/5/11Com medidas entre quatro e seis metros quadrados, a “sobrevivência” do quarto de empregada foi dificultada também pela mudança na Lei de Uso e Ocupação do Solo, que restringiu o coeficiente de construção em boa parte de Belo Horizonte. “Some-se a isso a dificuldade de conseguir terrenos maiores, o que tem, cada vez mais, demandado projetos enxutos. Na década de 80, não se concebia um apartamento de três quartos com menos de 100m². Hoje, existem unidades sendo construídas a partir de 60m². Então não tem como ter quarto de empregada”, diz o arquiteto.

O custo do metro quadrado também tem incentivado construtoras a investir em prédios com o maior número de unidades possível, o que mais uma vez leva à compactação dos apartamentos
. “A classe C sofre mais, pois está perdendo esse espaço. Imóveis de luxo ainda mantêm o quarto no projeto”, afirma Túlio. Para o arquiteto Oscar Ferreira, a área não é o mais importante, mas sim as proporções das dimensões. “Um quarto de 2,40m x 2,50m é muito pior do que um de 2m x 3m. Teriam a mesma área, mas apenas no segundo seria possível colocar duas camas. Mas a própria Caixa Econômica Federal, por exemplo, exige o mínimo de 2,40m x2,50m dos empreendimentos que financia”, reclama.


Praticidade valorizada

Imóveis com quarto de empregada e área de serviços menores demandam planejamento para melhor aproveitamento dos espaços. Mesmo pequenos, apartamentos devem ser funcionais

Se há 10 anos cobrar R$ 4 mil pelo metro quadrado era inconcebível, hoje, com preços alcançando R$ 10 mil o m², o quarto de empregada está se tornando viável apenas para quem tem poder de compra, segundo o arquiteto Oscar Ferreira. “É uma questão de público”, garante. “Quem compra imóvel com quarto de empregada e área de serviços mais enxuta pode buscar também um mobiliário adequado para otimizar o ambiente. Os utensílios e eletrodomésticos estão ficando mais inteligentes
. O apagão de energia que tivemos mostrou que freezer é totalmente dispensável. Máquina de lavar roupa já entrega tudo quase seco. Máquina de lavar louça é uma grande bobagem, pois é preciso realizar uma pré-lavagem. Então, é melhor já fazer o serviço completo”, defende.

Na avaliação de Oscar, área de serviço é sempre necessária, independentemente do perfil de público que visa atingir. “Até flat acho importante que tenha um tanque para pequenas demandas”, sugere. Uma solução em alguns empreendimentos, para Arquiteto Oscar Ferreira sugere a escolha de mobiliário adequado para otimizar o ambiente - Foto: Eduardo de Almeida/RA Stúdio - 12/1/11reduzir a área de serviço, é criar uma lavanderia para uso de todos os condôminos. “Mas o mineiro tem dificuldade em aceitar. Não gosta de dividir muito. E enquanto em países da Europa os próprios moradores lavam suas roupas nessas lavanderias, no Brasil as pessoas querem ter alguém que faça para elas. Então, é preciso avaliar bem, pois se a estrutura não for bem usufruída pode acabar sendo mais prejudicial que benéfica.”

A integração de cozinha com área de serviço, em alguns imóveis, também tem servido como opção para encurtar espaços. Segundo Bráulio Franco Garcia, diretor da Área Imobiliária do Sindicato da Indústria da Construção Civil em Minas Gerais (Sinduscon-MG), essa solução é bem aceita para apartamentos pequenos, mais funcionais.

De acordo com o arquiteto Túlio Lopes, as mudanças não são assimiladas instantaneamente e precisam ser bem introduzidas e trabalhadas. Em alguns apartamentos, mesmo não sendo do gosto do mineiro, é preciso forçar a integração entre cozinha e área de serviço por simplesmente não ter como fazer diferente. Mesmo cozinha americana não é muito bem aceita.

Bráulio explica que em apartamentos médios, com metragem de 110m², 120m², o quarto de empregada está ficando obsoleto. Então, está dando lugar a outro tipo de cômodo ou é projetado para ser facilmente reversível em outra coisa. “Atualmente, muita gente está trabalhando em casa, e o quarto de empregada tem sido usado como escritório”, lembra.

SOLUÇÕES CRIATIVAS

A designer Laura Santos, da VS Design, diz que os espaços podem ser mais bem aproveitados com soluções criativas e inteligentes. “Fizemos muitos projetos para transformar quarto de empregada em rouparia, para guardar todas as roupas de cama e banho da casa, bem como em quarto de leitura e escritório. Quem usa como despensa pode usar gôndulas giratórias que vão armazenar em boa quantidade e sempre deixar os produtos à mão. Podem ter ainda uma cama retrátil, para quem vai usar esporadicamente. A tábua de passar roupa também pode ser retrátil. Existe, ainda, uma série de opções de aramados que podem acomodar desde calçados a louças”, ensina.

PALAVRA DE ESPECIALISTA: Espaço movimentado

Luiz Antônio Rodrigues diretor-presidente da Lar Imóveis

“A área de serviço, com exceção do flat, é essencial em qualquer apartamento. Muitos dos interessados ainda têm o cuidado de verificar, pessoalmente, o tamanho e se bate sol no local. Principalmente na compra. É um espaço muito movimentado, e todos querem ter suas máquinas em casa. Para imóveis acima de 100 metros quadrados, exigem um espaço grande. Já o quarto de empregada não é muito demandado para apartamento de até três quartos, pois em geral são famílias menores e sem empregada que durma no trabalho. Para apartamentos de quatro quartos, é essencial. Alguns edifícios, de alto luxo, têm até mais de um quarto para funcionários. Geralmente um para a empregada e outro para uma babá ou motorista.”