Símbolo de luxo e nobreza em épocas passadas, a cristaleira conquista espaço na decoração moderna com novas funções, compondo com graça propostas mais clássicas ou com tom contemporâneo. Com design antigo, embutida na marcenaria, ou em releituras que abrangem outros tipos de materiais, o móvel tem conotação ao mesmo tempo decorativa e utilitária. A cristaleira agora já não está mais apenas na casa da avó e agrada também aos mais jovens, tornando o lar menos impessoal e cheio de personalidade. Originada no século 17, a memória em relação à cristaleira quase sempre remete a uma peça de madeira maciça com portas de vidro, prateleiras e espelhos ao fundo, integrando a sala de estar ou jantar. Mas ela resiste ao tempo e agora tem atraído a atenção dos atuais projetos de ambientação, ganhando formas diferentes de apresentação e outros ambientes.
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De acordo com a arquiteta Tânia Eloísa e o designer de interiores Charles Cruz, tradicionalmente as cristaleiras eram usadas para guardar louças, copos e taças de cristal, entretanto hoje em dia ficaram mais modernas e adquiriram outros objetivos, passando a abrigar vários tipos de peças. Além de decorar um ambiente, elas se tornaram multifuncionais, ressaltam. “Transpondo o uso mais comum, a cristaleira pode guardar coleções de pequenos objetos, colocar livros raros, souvenires de viagens, assumir a função de um bar, abrigar CDs, bijuterias, roupas e até mesmo sapatos. Em projetos comerciais, também temos aplicado cristaleiras em lojas de enxovais, cafeterias, livrarias e em lojas de vestuário feminino”, contam.
As cristaleiras podem estar em diversos lugares da casa, como na sala de estar, jantar, home theater, quartos, closets, cozinhas e em outros ambientes, dependendo do projeto e da criatividade, assinalam Tânia e Charles. “Antigamente, elas eram feitas de madeira maciça e no tom original do material, em modelos clássicos no estilo Luiz 15, com portas de vidro e espelhos por trás. As atuais aparecem com releitura moderna, pintadas com cores vibrantes e materiais tecnológicos como o aço, o metal, ferro fundido e o vidro. Hoje, a cristaleira pode ter acabamento em laca em tons como amarelo, vermelho, turquesa, entre outros
A arquitetura contemporânea não fica restrita a convenções e, assim, muito além de um repositório de louças ou cristais, a cristaleira pode ser vista como um armário envidraçado encerrando várias possibilidades, frisam as arquitetas Luciana Machado e Carla Casal. “Desse modo, não apenas seu uso, como também sua localização, se descolaram da origem. Podemos utilizá-la para guardar bebidas, lembranças, coleções, troféus, etc. O limite é a imaginação
Para Luciana e Carla, não há como separar a função utilitária da decorativa em relação à cristaleira, pois ela sempre guardará algo que embeleza o ambiente, podendo ser bastante versátil. De acordo com o conceito do projeto, uma ou outra finalidade poderá ser enfatizada, continuam. “Com o propósito de destacar e valorizar o espaço, torna-se uma peça decorativa. Já quando inserida em um móvel maior que abriga também outras funções, a cristaleira será mais uma das peças, integrando-se como parte de um todo. Quando vemos o conjunto e não a unidade, ela se torna mais utilitária. Iluminação, ambientação, cor, acabamento diferenciado e valor afetivo dos moradores também definirão a função preponderante”.
Mistura de estilos
Na opinião da arquiteta Fabiana Quick, há inúmeras possibilidades em relação ao local onde uma cristaleira pode ser inserida dentro do lar. “É comum, por exemplo, a utilização de cristaleiras antigas em ambientes mais atuais, de forma harmoniosa. Elas vêm desempenhando um novo papel, e os jovens começam a dar outras formas de utilização para a cristaleira, inserindo-a no cotidiano. O móvel já não é usado apenas para abrigar cristais”, salienta Fabiana. A designer de interiores Deusicléia Horta acrescenta que já teve a oportunidade de ver uma cristaleira em um ateliê para noivas, onde foi aplicada como vitrine para tiaras e buquês, agregando muito charme à proposta, exemplifica. “Não há um lugar específico para sua aplicação. Em uma varanda gourmet, pode acomodar pratos, copos, talheres, e em um closet feminino fica muito interessante com as bijuterias, bolsas, chapéus. Não há restrições”, cita.
A arquiteta Andrea Pinto Coelho acredita que a cristaleira assume um lado mais decorativo quando expõe objetos de coleção e peças de valor, tanto emocional, quanto financeiro, e um teor mais funcional quando guarda objetos que podem ficar aparentes e bem organizados. A arquiteta salienta que os materiais e o design diferenciados permitiram a mudança entre os traços dos móveis antigos e contemporâneos. “As cristaleiras podem ser de diversos materiais e com diferentes acabamentos, como laca, pátina, verniz. E hoje aparecem em diversos desenhos e formas, podendo ser de canto, estreitas, fixadas na parede, embutidas na marcenaria, altas, baixas, grandes, pequenas. A escolha deste tipo de mobiliário é uma questão de estilo e também tem sido muito aceita pelos jovens, principalmente se for uma cristaleira herdada. Ela garante requinte, vida e personalidade ao projeto, envolvendo um tipo de resgate da história. Sendo ou não herança de família, o móvel não foi esquecido e é constantemente lembrado em novos projetos, por causa de sua versatilidade”, enfatiza a arquiteta.
No ambiente Copa da Chefe, assinado por Tânia Eloísa e Charles Cruz na mostra Morar Mais por Menos de 2012, em BH, duas cristaleiras foram grandes destaques. Como explicam os profissionais, a proposta era criar um projeto para uma chefe mineira que buscava inspiração para novos pratos, onde sensações, sabores e aromas se mesclassem em um ambiente tipicamente mineiro. “Para isto foram usados móveis de madeira de demolição, um lustre de xicrinhas e as duas cristaleiras que foram coloridas para dar um ar mais contemporâneo, assim como as cadeiras de design. A parede de forminhas de papel, o verde dos chás e das hortaliças e a parede verde, lembrando os quadros escolares para escrever receitas, listas de compras e recadinhos, completaram o cenário”, finalizam.
Originada no castelo