Profissionais consagrados em BH mostram que não só de beleza vive a arquitetura

Sócios desde 2004, os arquitetos Cristiano Sá Motta e Ricardo Gruner têm assinado vários projetos de restaurantes descolados e badalados na cidade. Na lista, Belo Comidaria, A Tasca, MeetMe e C’est Si Bon!, além da casa noturna Gamboa, para citar apenas alguns. A dupla também é responsável por criar lofts pitorescos, apartamentos e casas residenciais cujo leiaute denunciam, de cara, o estilo de vida do proprietário. Em comum, conceitos como originalidade, reaproveitamento, integração de elementos, garimpagem de matéria-prima e objetos antigos, personalidade de sobra. “Em qualquer área, residencial ou comercial, um projeto deve ser único e não baseado em modelos, tendências ou no ideal do vizinho”, opinam, em coro.


Parceiros no escritório Motta & Gruner, eles acreditam na personalidade de um projeto.“Só a beleza cansa. Um projeto precisa ir além, dar a possibilidade de reinvenção, de rearranjo, de a pessoa experimentar ambientes diferentes em um mesmo espaço”, reforça Cristiano.

Fruto de orgulho recente para a dupla é o projeto do Belo Comidaria, misto de padaria e restaurante, localizado no bairro São Pedro. Entre os diferenciais, eles apontam a transparência dos locais de produção (padaria e cozinha), a circulação, a variação de tipos de assentos (cadeiras, bancos, sofás e deque) e a despretensão do mobiliário e dos materiais usados (azulejo comum, ladrilho, paredes caiadas). “O conjunto deixa o cliente mais relaxado, com a sensação de que está em casa”, avaliam.

Traços característicos

Em todos os tipos de projeto, a atuação dos profissionais não contempla apenas a arquitetura e a ambientação. “Interferimos em tudo. Entramos na vida da pessoa, queremos saber a história dela e daquele local, os objetos e móveis que ela tem. Em projetos comerciais, nossa proposta muitas vezes inclui todos os detalhes da identidade visual. O objetivo é integrar espaço, clientes, comida, bebida, a experiência como um todo”, detalha Ricardo.

Não raro, tal maneira de trabalhar ajuda um cliente a definir exatamente o que pretende, a gastar menos e até a reaproveitar móveis e objetos antigos, que podem ou não ser repaginados. A dupla também é fã de garimpagens, e procura peças ou matérias-primas de demolição por todo o país. Na capital mineira, o antiquário Marco Grili e o Fuxico Venda de Garagem estão entre os endereços visitados constantemente. “Não temos um estilo engessado de trabalhar, somos muito flexíveis até, mas prezamos por originalidade, por sair do feijão com arroz, do padrão”, destaca Cristiano.

A dupla também desenha móveis (muitos com base em ferro e/ou madeira), e gosta de contemplar peças de artistas como Ganso e Helder Profeta na ambientação dos espaços. Outra característica comum em projetos assinados por eles é o uso de ladrilho hidráulico, natureza em forma quase bruta (troncos e outros), elementos do universo naval (escotilhas, corrimãos), luminárias de estética especial e quadros-negros nas paredes, em que é possível desde assinalar um cardápio em giz até rabiscar interferências pessoais cotidianas – frases, desenhos, letras de música. Entre as matérias-primas nunca usadas estão granito polido, porcelanato, metal cromado. “Somos contra tudo o que brilha. Um ideal nosso é levar humor, surpresa e uma certa informalidade para os projetos. Buscamos identificação e proximidade real com quem usará aquele espaço”, citam.

Perfis

Com 13 projetos no momento (incluindo a reforma do tradicional restaurante italiano Anella, na Pampulha), os arquitetos aceitam todo tipo de demanda, de obras com início do zero a reformas, além de projetos para a criação de mobiliário e/ou ambientação. Sem revelar média de preços, já que cada projeto é único, eles dizem que uma pergunta básica no primeiro encontro é: quanto você pretende ou gostaria de gastar. “A partir daí, começamos a estudar a viabilidade”, revelam. Há, inclusive, a possibilidade de dividir um projeto em etapas, mas nesse caso eles fazem questão de estar presentes em todas.

Dica dos arquitetos para quem está pensando no assunto é colocar o pé no chão, gastar menos e ser mais fiel ao próprio estilo, seja ele qual for. “É claro que ponderamos com o cliente, inclusive chamamos muitos para a realidade, mas o fundamental é que uma obra reflita o perfil e o estilo de vida do proprietário, seja autêntica. A pior coisa é ver gente infeliz porque comprou chiquê, copiou uma casa de revista que não tem nada a ver com ela”, afirma Ricardo. Para completar, Cristiano finaliza: “Não existem fórmulas, mas coerência. Tendência é seguir você mesmo, senão vira palhaçada. É preciso tirar a fantasia do como sou chique e pensar em como posso ser agradável, divertido”.