Aparador criado pela Alva Design - Foto: Jomar Bragança/Divulgação Um jeito diferente no fazer, fresco, jovem, único. O design brasileiro é conhecido por ser criativo, original e bem-humorado. A produção autoral no setor tem história recente no país, mas, mesmo diante de cenários limitados e acesso difícil à tecnologia, profissionais se despontam para o resto do mundo. Jovens talentos criam linguagens próprias no desenho de objetos e mobiliários, reforçando e renovando a identidade nacional, e continuam o trabalho de seus precursores, hoje clássicos do design no Brasil.
O desenho de mobiliário brasileiro precisou se transformar para se adequar às novas exigências surgidas no mercado moveleiro ao longo dos últimos 50 anos, segundo a designer de interiores e mestre em design de produção de ambientes Maria Lúcia Machado. “No Brasil antigo, a fabricação de móveis era amadora e, até a década de 1920, estávamos totalmente alienados da revolução produtiva na Europa e nos EUA. O mobiliário feito aqui era cópia dos desenhos ingleses e franceses”, explica. Com algumas sementes na Semana de Arte Moderna, em 1922, o design brasileiro começa a ganhar força em 1935, mais intensamente com a fase principal do modernismo, a partir dos anos 1950, segundo Maria Lúcia.
As principais referências desse começo são Joaquim Tenreiro, Sérgio Rodrigues, de 86 anos, que morreu no início do mês, e José Zanine Caldas. Em paralelo, aparecem o trabalho de Lina Bo Bardi, Oscar Niemeyer, com suas linhas de móveis, e Jorge Zalszupin, autor de vasta coleção. “O clima tropical do Brasil não combinava com aquelas peças robustas, torneadas, em veludos e brocados, tão pesadas e austeras. Os móveis precisavam ter identidade, o que foi a busca central de Tenreiro, com suas linhas simples, retas, leves e ergonômicas. Sérgio Rodrigues, pouco depois, trilha o caminho aberto por ele na afirmação do movimento modernista no campo do mobiliário, e é pioneiro em divulgar o design feito no Brasil em nível mundial”, diz Maria Lúcia
. Zanine Caldas, com móveis esculturais em troncos de árvores aproveitados de devastações, engrossa a primeira corrente como outro grande criador.
Divã Yung, da designer Etel Carmona - Foto: Divulgação Com a evolução nos meios de formação acadêmica, na qualificação, na viabilização de associações profissionais, o Brasil assistiu ao nascimento de uma nova geração de designers, como os Irmãos Campana, a partir de 1990. Em três exposições de curadoria e concepção do mineiro Pedro Lázaro, programadas no Circuito DMAIS, ícones da cena brasileira do design são celebrados. Na São Romão, a mostra traz coleções de Etel Carmona, com desenhos próprios e outros assinados por Jorge Zalszupin, Oscar Niemeyer, Claudia Moreira Sales, Arthur Casas e Alva Design.
Mesa Cubo Libre, da designer Cláudia Moreira Salles - Foto: Divulgação Conceitos de mineiridadeEm Minas, a produção de design é intensa, segundo o arquiteto Pedro Lázaro, com nomes e com conteúdo, em uma corrente que começa a aparecer, mas é embrionária. “Em Minas, assim como no Brasil, o fazer do design ainda é um pouco restrito. Por isso a importância do circuito. O evento quer democratizar o design, despertar o interesse do grande público e criar valor para cada pessoa, já que é um meio de expressão, uma maneira de se comunicar”, diz.
A especialista Maria Lúcia Machado lembra que a entrada do design em Minas tem como referência a inauguração da Escola de Artes Plásticas da UEMG na capital, em 1955, hoje Escola de Design, quando a prática do design de produto e mobiliário ainda levava o nome de desenho industrial. “É a partir dos anos 1990 que começa uma produção própria mineira mais expressiva, com trabalhos pontuais, como o de Porfírio Valladares.” Mas apenas depois do ano 2000 a rede local de design ganha maior consistência.
Mesas Arquipélago, do arquiteto Arthur Casas - Foto: Divulgação Dentro da exposição que Pedro Lázaro preparou com a coleção de Etel Carmona, que ocupa a loja São Romão durante o Circuito DMAIS, ele destaca dois jovens designers de Belo Horizonte: Marcelo Alvarenga e Suzana Bastos, da Alva Design, mesclam características da cultura mineira e brasileira em um traçado de mobiliário diferenciado. “Com peças multifuncionais, resgate de madeiras nacionais de tradição e uma pegada do art déco, a dupla tem um olhar barroco e bem mineiro.”
RENOME À frente de um escritório multidisciplinar, que vai do design de interiores à construção e cenografia, Pedro Lázaro é um profissional de renome no design em Minas. Ele acaba de lançar uma linha de móveis para a Lider Interiores, que inclui poltrona, sofá, cama, chaise e biombos
. Também está preparando uma coleção especial.
Mesa Pétalas, do designer Jorge Zalszupin - Foto: Divulgação E a cena mais recente do setor no estado já tem outros representantes de peso: Ana Vaz, que usa o tricô e o crochê artesanais para transitar entre design, arte e moda; Cyra Lobo e Nora Fernandes, que usam o bordado tradicional mineiro para dar vida nova a peças antigas; Domingos Tótora, com sua excursão pelas possibilidades do papelão; Graça Kazan e Luiz Mário Moura, experientes em levar um mobiliário de luxo do Triângulo Mineiro para vários países; Isabela Vecci, com sua coleção de móveis cheios de identidade; Marcelo Ligiere, bem-sucedido em unir os processos industriais e as tendências internacionais do mercado de mobiliário de alto padrão; Mary Figueiredo Arantes, que começa a transportar as sobras das bijuterias da marca Mary Design para tramas que cobrem móveis supercoloridos; e Olavo Machado Neto, que mistura o contemporâneo a conceitos de mineiridade em belo conjunto de mobiliário e objetos utilitários.