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Mostra apresenta bordados de artesãs de Minas Gerais; governo quer mapear setor

São 100 trabalhos expostos no Centro de Arte Popular da Cemig, em BH, que celebram o fazer manual de expoentes do artesanato do estado

Agência Brasil
- Foto: Divulgação

Os primeiros bordados de Marilene Alair da Silva sugiram ainda na infância. A habilidade com as mãos começou a se desenvolver em uma brincadeira. Vendo sua mãe trabalhar na máquina de costura, ela tentava imitar usando agulha e linhas. Hoje, aos 49 anos, seu prazer é sua fonte de renda.

Nascida em Sabará (MG) e residindo em Lagoa Dourada (MG) há seis anos, a bordadeira lembra que as encomendas começaram a surgir com frequência ainda na cidade natal após ter feito o enxoval de seu próprio casamento. "Muitas pessoas acharam bonito e vieram me procurar para saber se poderia fazer para elas. Aos poucos, eu fui diversificando minha produção", conta.

Constantemente se renovando, Marilene fez cursos de cerâmica e outras técnicas e atualmente trabalha também com esculturas. Em uma delas, retrata três beija-flores cujos corpos de argila sustentam asas bordadas. Ao centro da obra, há um pequeno tronco de madeira.

Este trabalho é um dos 100 que estão expostos no Centro de Arte Popular da Cemig, em Belo Horizonte, até o dia 28 de abril
. São peças produzidas por profissionais de diferentes gerações e de diversos municípios mineiros. A exposição Bordado Reinventado foi motivada pelo Dia do Artesão, celebrado no último domingo (19). Bordado apresentado em exposição em Minas Gerais  

A mostra é organizada pela Secretaria de Desenvolvimento Integrado e Fóruns Regionais (Seedif) de Minas Gerais e a entrada é franca. "É uma forma de aproximar a população da atividade e ampliar o acesso a uma arte e uma tradição. O bordado é uma manifestação que corre riscos em função da modernização tecnológica, da expansão da indústria têxtil e dessa globalização que traz produtos similares de outros países como a China", diz o titular da pasta, Wadson Ribeiro.

As palavras do secretário encontram eco na experiência de Marilene. A ideia de inovar e passar a utilizar bordados em esculturas junto com outras técnicas foi também uma resposta aos desafios que o mercado apresentou. "Algumas peças tiveram redução nas vendas. Cada vez menos noivos buscam essa confecção manual de enxoval, por exemplo. Então eu procurei me renovar para atingir novos públicos", explica
.

Por outro lado, a bordadeira garante que a atividade está bem viva e atraindo novas gerações. Sua filha de 26 anos, que também participa da produção, é um exemplo. Mas não só ela. Marilene conta que também ministrou cursos e oficinas nestas duas cidades e em outras também. "Já ensinei grupos nos quais 80% dos participantes eram jovens".

Mutirão

O artesanato mineiro dominou, no ano passado, o 4º Prêmio Sebrae Top 100, um dos mais cobiçados do setor. Foram 13 premiados, superando Pernambuco, com dez agraciados, e Pará e Santa Catarina, com sete cada um. Segundo estimativas da Seedif, o estado de Minas Gerais reúne ao todo 300 mil artesões fomenta uma cadeia produtiva responsável por movimentar cerca de R$ 2,2 bilhões por ano.

- Foto: Divulgação"Estamos falando de uma profissão ainda não regulamentada em lei, mas que desenvolve uma atividade cultural de grande impacto econômico. E quando falamos de Minas Gerais, estamos falando de algo em torno de 10% do artesanato brasileiro", afirma o secretário Wadson Ribeiro.

A Seedif, porém, busca estratégias para mapear com mais precisão o setor. Criada em 2012 como desdobramento do Programa do Artesanato Brasileiro (PAB), a Carteira Nacional do Artesão é o principal mecanismo para este mapeamento. Ela é fornecida gratuitamente e funciona como uma identificação nacional do trabalhador. Entre os benefícios de possuí-la estão facilidades para participar em feiras de artesanato no país e no exterior e para realizar oficinas e cursos na área.

No último domingo (19), houve um mutirão para cadastro em Belo Horizonte. O desafio ainda é grande. Até o momento, apenas 2,9 mil carteiras foram entregues em Minas Gerais, o que significa que menos de 1% dos artesãos do estado foram alcançados.

Por esta razão, a Seedif dará início a uma caravana para atender artesãos de regiões mineiras onde a atividade tem mais força. "Quanto maior o alcance do cadastramento, maior será o poder de pressão deste segmento. Daí os artesãos poderão reivindicar políticas públicas que criem novas oportunidades de negócio, potencializem as atividades e organizem melhor a cadeia produtiva. Eles podem, por exemplo, obter crédito para aquisição de matéria-prima, mais reconhecimento, participação em feiras internacional", diz o secretário Wadson Ribeiro.