Ter qualidade de vida invariavelmente está relacionado com a experiência das pessoas com o lar. Cada vez mais antenado, esclarecido e exigente, o morador encara a casa com uma percepção que vai muito além dos aspectos práticos e funcionais, e procura no dia a dia mais alegria e prazer. Com a volta da valorização do espaço onde se vive, a arquitetura e a decoração têm papel essencial para transformar o olhar sobre os ambientes e torná-los o reflexo de quem usufrui deles.
Nesse cenário, conceitos como sustentabilidade, personalização, criatividade, tecnologia e inovação, inclusão, identidade e customização são alçados a novos patamares, tidos como premissa básica. Esse é o mote da mostra Morar Mais por Menos, que aportou em Belo Horizonte no fim de agosto e vai até 23 deste mês em um suntuoso casarão no Bairro Cidade Jardim, apresentando ao público o chique que cabe no bolso, a beleza sem exibicionismo, e uma chuva de ideias que mesclam o barato com o sofisticado para inspirar quem aprecia novidade.
O resultado são composições despojadas e contemporâneas, em uma reafirmação de que o simples é sempre mais. Este ano, na 12ª edição na capital mineira, são 39 ambientes e 75 profissionais desafiados a traduzir em seus projetos os pilares do evento, com recursos de reutilização de materiais, visando aos mínimos impactos ambientais, além de sacadas engenhosas, de baixo custo, com o retorno do artesanal e do faça você mesmo. É uma maneira de mostrar aos visitantes que a decoração é algo acessível e está ao alcance de todos, respeitando o bom gosto e o preço justo.
A designer de interiores Patrícia Bigonha participa da mostra pela segunda vez. Ela apresenta uma proposta colorida e lúdica com o Quarto do bebê. Trabalhou o cômodo sem distinção de gêneros, além de aplicar artifícios que possibilitam sua utilização depois do crescimento do rebento. "O projeto pode ser para menino ou para menina
Seguindo esse norte, o berço, por exemplo, futuramente dará lugar a uma cama, e o quarto continuará funcional. A cômoda não tem cara de trocador e, mais tarde, pode ser incorporada a qualquer outro recinto da casa. Entre as alternativas de economia nos gastos, as paredes foram retocadas apenas com tinta e adesivos, materiais baratos e versáteis, sem contar a atmosfera de personalidade - ela despendeu R$ 100 para adesivar a parede inteira e alcançou um bonito resultado, com efeito de papel. O mobiliário ressalta peças autorais, incluindo um cabideiro que faz as honras de luminária, concebido com cabo de vassoura reaproveitado, e outro preceito foi manter elementos originais da edificação, como um armário, evidenciando uma relação harmoniosa entre o antigo e o atual.
No lugar que antes era uma casa de fundos dentro da construção, provavelmente para empregados, os arquitetos da NovePontoUm, Maria Gabriela Belisário e Tiago Queiroga criaram, para sua estreia na Morar Mais por Menos, o Estúdio do hóspede. Com uma configuração que agrega quarto, estar e cozinha, o argumento é formar um apartamento totalmente independente, dispondo de tudo o que um hóspede precisa para uma estada com privacidade e comodidade. Mantendo a estrutural inicial, como portas, janelas e piso em visual "detonado", a inspiração em fazendas mineiras fornece aconchego, através da junção entre o velho e o contemporâneo
Na divisória entre a sala e o dormitório, a dupla faz uma releitura de um gabião a partir de uma tela de aço com pedra, reutilizando resíduos de material de obra. Outra concepção acessível é um cabideiro com cabo de aço. No cardápio das cores, verde, rosa e uma puxada de violeta. Um toque de estilo e frescor fica por conta das plantas, que marcam presença no projeto: cerejeiras, trepadeiras, lavanda e arranjos de alecrim reforçam a intenção de aguçar os sentidos. "É um espaço sensorial. A pessoa entra e se sente bem pelo conjunto, não só por um dos efeitos isoladamente", acrescentam Maria Gabriela e Tiago.
ATEMPORAL
As designers de interiores Alessandra Fantoni e Juliana Fantoni Peluso são entusiastas dos encantos das coisas antigas e contam que, logo que se depararam com o casarão que iria abrigar a Morar Mais por Menos, ficaram apaixonadas. Em uma área reduzida, conseguiram transformar a limitação do espaço com uma linda composição. Trata-se do Louceiro do tempo que, em forma de ser descascado, é dito como uma janela temporal - explora o que era nos anos 1950 e o que pode ser hoje, permitindo o rico diálogo entre o que é datado de períodos atrás e o que é de caráter hodierno.
O lugar é um verdadeiro reduto para guardar elegantes itens em louça. "Quisemos reproduzir traços da época no ambiente e pesquisamos como o louceiro era utilizado na década de 1950", contam, elas que estão na lista de profissionais da mostra pela quinta oportunidade. "Recorremos à marcenaria geométrica, com azulejos originais, e à marcenaria criada por nós, explorando os tipos de desenho daqueles tempos." Em uma parede lateral, brincaram com a customização, com plotagens que lembram casa de vó, completando com objetos de mais idade, garimpados ou do acervo pessoal. Com o emprego de cores cinquentistas típicas, também usaram matizes correlatas, como rosê, azul claro e escuro.
Pela primeira ocasião no catálogo da Morar Mais por Menos, os arquitetos Marcela Meira Machado e Luís Gustavo Montilha apresentam um ambiente para a confraternização e encontro. Na Pérgola da família e amigos, reconstruíram o que era o quarador da primeira casa. Eles perseguem o conforto com liberdade, recorrem a móveis com dupla função para atender a cada situação, de acordo com o número de convidados, que se desdobram em vários tipos de assento - são bancos que viram mesas, mesas de apoio que se tornam bancos. "O conforto também é alcançado através das cores, principalmente as nuances terrosas, além do azul em destaque, para dar calma e tranquilidade, e o verde, com o forte apelo do paisagismo", caracterizam. Dentro das ideias acessíveis, está a pérgola com matéria-prima que lembra um aço corten, mas na verdade é um metalon oxidado, adaptado para parecer com o material, mas com uma diminuição de R$ 10 mil no preço.
Uma parte do chão original, revestido com azulejo branco, foi conservado e se transformou em um grande tapete. Nas laterais, o piso de reflorestamento segue a linha da sustentabilidade. No mobiliário, a graça de um charmoso balanço, adicionado como um elemento lúdico. Nas proposições faça você mesmo, vasinhos trançados com macramê em corda náutica, de criação própria de Marcela. "É a nossa primeira experiência e estamos gostando muito. Superou nossas expectativas. É a possibilidade de divulgar nosso trabalho e atingir um público novo", finalizam.