Identidade

Móveis e objetos antigos são carregados de história e agradam compradores de vários perfis

Mercado de objetos dos séculos 19 e 20 em Belo Horizonte trabalha com itens dos mais simples aos de design sofisticado

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postado em 29/04/2019 13:30 / atualizado em 27/04/2019 14:02 Elian Guimarães /Estado de Minas
Afonso Costa, dono da Selma Móveis, começou o negócio com o pai, em 1970, e permanece no mesmo endereço  - Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press Afonso Costa, dono da Selma Móveis, começou o negócio com o pai, em 1970, e permanece no mesmo endereço

Visitar uma loja de móveis e objetos antigos pode nos remeter a uma verdadeira aula de história. Móveis em madeira maciça, revestidos de mármores, couro e compostos com espelhos de cristais, comuns nos séculos 19 e 20, são impensáveis na indústria mobiliária moderna ou estilos pós-guerra, mais leves e de design futurista. Alguns trazem crivados na madeira o número de patrimônio de empresas que foram superadas pela tecnologia.

O conforto surgiu na época de Luís XV, a partir de quando começa a separação do espaço público do privado. Foi a época mais rica na criação de mobiliário, em que surgiram a cadeira Luís XV, chaise, longue, bergère, cômodas, aparadores e também escrivaninhas.

Foi o período das festas e do ócio, em que os ambientes se transformavam rapidamente de uma sala de leitura para um salão de festas e, para isso, o mobiliário tinha que ser leve. O rococó era o estilo da época, tendo se inspirado no movimento das águas (sinuosos), em que as curvas foram eleitas para simbolizar esse movimento. Tudo era estofado com penas e já se dava importância à ergonomia, pois a curva é a forma do corpo humano. As pernas cabriolet traziam leveza aos mobiliários para esse movimento.

Durante a restauração de um conjunto de sala de jantar com 12 peças, em estilo renascentista, o proprietário da Selma Móveis, Afonso Costa, descobriu que entre o assento em couro e a parte inferior das cadeiras, em jacarandá maciço, protegido por chapa metálica, havia um verdadeiro tesouro. Entre as partes superior e inferior havia um preenchimento com jornais que retratavam momentos da Segunda Guerra Mundial.

Afonso começou no ramo de móveis antigos com o pai, em 1970, na Rua Itapecerica, no Bairro Lagoinha, à época o “point” desse ramo de negócios. “Era em torno de 30 lojas só desse nicho”, relembra. Hoje não chega a oito as lojas. O foco é a aquisição de móveis fabricados entre os anos 1940 e 1960. “No período pós-guerra (1945), a qualidade do mobiliário era bem específica. As pessoas começavam a ter mais acesso a esses produtos, que eram fabricados com grande dedicação.”

Os móveis com tendências europeias chegavam nos portos de entrada da importação, como Rio de Janeiro, Santos e Salvador. Grande parte do mobiliário adquirido no Rio de Janeiro tem origem em residências de embaixadores e diplomatas que atuavam na então capital do Brasil. O Rio passou a ter as melhores fábricas de móveis do Brasil, modeladas nos importados. “Ainda hoje, diversas fábricas da indústria de móveis com sede em Portugal têm filial no Rio de Janeiro”, conta Afonso.

Em Minas Gerais, a produção era mais voltada para compor as fazendas, com peças mais rústicas, em madeira pesada. Fora do estado havia muita procura pelo chippendale, formato mais leve, como o cabriolet.

RESTAURAÇÃO

Afonso diz que o perfil de compradores de móveis antigos é variado. O cliente mais jovem prefere peças específicas, que quebrem a decoração de um espaço mais moderno. Os conjuntos, geralmente, são revendidos para fazendas e casas em zonas rurais. “Os conjuntos dos séculos 19 e 20 têm em sua composição maior número de peças. É um mobiliário com 12 peças. As construções urbanas têm pouco espaço para, por exemplo, um dormitório como no passado, composto por guarda-vestido, guarda-casaca, cômoda, cama, dois criados, penteadeira, banqueta e uma mesinha. As salas de jantar eram compostas com bufê, cristaleira, mesa, 12 cadeiras e bar. Hoje, quem consome esses produtos são pessoas acima de 40 anos”, atesta.

O comerciante conta que é muito procurado por pessoas de outros estados. Sua maior ferramenta de vendas é o Facebook. Em três anos e meio já conta com mais de 8 mil seguidores. “Tentei o Instagram, mas descobri que é para um público muito jovem.” Afonso já vendeu móveis até para o estado do Pará. Ele diz que o preço desses móveis sai mais em conta do que uma fabricação atual. “Não fabricamos. O que fazemos é restaurar as peças, que são de excelente qualidade e que não se encontram na indústria moderna”, afirma.

SERVIÇO
Selma Móveis
Rua Itapecerica, 558, Lagoinha
(31) 3442-0932

Garimpo minucioso
Amantes de antiguidades e colecionadores têm como aliados as redes sociais, nas quais se podem pesquisar mais detalhadamente objetos raros e exclusivos

Criada pelo casal Cláudia Dodd e Lúcio Flávio, a Pé Palito Vintage  se diferencia pelo Criada pelo casal Cláudia Dodd e Lúcio Flávio, a Pé Palito Vintage se diferencia pelo "garimpo" de trabalhos originais e restauro

A loja Pé Palito Vintage oferece peças e móveis cujo design tem força no desenho que transcende a linha do tempo. Está instalada no Edifício JK, no Centro de BH, em um espaço delicadamente decorado e que acompanha as curvas e a leveza da arquitetura de Oscar Niemeyer. São trabalhos originais assinados por profissionais de primeira linha e que remetem a estilos variados. O forte da empresa, criada pelo casal
Cláudia Dodd Lourenzo e Lúcio Flávio Lourenzo, está nos mais variados móveis, e tem nas redes sociais a força maior de movimentação da atividade.

Cláudia conta que o marido tem alma de colecionador. “Sempre colecionou coisas, mas sem qualquer preocupação de ver, nesses objetos, fonte de recursos financeiros.” Lúcio, economista, trabalhava em uma companhia petroleira e Cláudia gerenciava uma galeria de artes. O casal decidiu que montaria um negócio próprio, que fosse prazeroso, e percebeu que já tinha uma boa coleção de peças antigas. “Vejo como extensão de meu trabalho com arte contemporânea, porque o design vem atrelado a esse conceito.”

Seguindo o princípio de que a indústria cultural é importante para ancorar artistas e poetas e quem compra arte gosta de design e de obter uma mercadoria cheia de sentido, mais completa, sem ser apenas por um desejo de consumo, o casal escolheu um ramo que exige especificidade e conhecimento. “É exaustivo, mas compensatório”, observa Cláudia. Partindo do entendimento de que mercado de arte é algo que impulsiona a economia, mas tem suas fragilidades próprias, a prudência foi um dos componentes essenciais para a construção da Pé Palito Vintage. “Viemos com calma, adquirindo as primeiras coleções e identificando o público específico, que exigia qualidade no trabalho.”

O empreendimento se diferencia de lojas de móveis e objetos antigos pelo “garimpo” de trabalhos originais, restauro e armazenamento correto. Ao comprar algo a ser restaurado, há cuidado com pragas, além de pequenos defeitos. A exposição dos móveis, de forma harmoniosa, é bem pensada. “Os próprios objetos dizem onde devem ficar”, explica Cláudia. A oficina de restauro é o espaço fundamental para trabalhar nesse ramo, com ética. Nela se estuda o real estado do móvel ou objeto e identifica-se sua originalidade. O consumidor final se ancora na relação de credibilidade, que é resultado de um processo em constante construção. “Nossos clientes se tornam amigos, porque se envolvem emocionalmente com a compra, não se trata de mero consumismo”, explica a empresária. “Cada objeto carrega uma história.”

AGENDAMENTO


Pé palito é um estilo de pé de móveis delicado, cônico, que vai se afinando até tocar o chão. Muito usado na década de 1950, esses objetos substituíram móveis pesados no pós-Segunda Guerra Mundial. As mulheres passaram a integrar mais intensamente o mercado de trabalho. As pessoas passaram a se deslocar com mais frequência e a dinâmica do cotidiano exigia objetos domésticos mais leves, de fácil transporte e com design que remetesse a um mundo futurista.

A loja física fica localizada em um local histórico, tombado pelo patrimônio - Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press A loja física fica localizada em um local histórico, tombado pelo patrimônio

A loja física recebe clientes de todas as partes, mas com agendamento. Cláudia diz que seu desejo é ter a loja com portas abertas. “Estou num local histórico, tombado pelo patrimônio histórico e cultural.” Mas, além de uma equipe pequena, a loja atende a um público que valoriza os cuidados no restauro, na pequisa, na montagem, nos revestimentos e nas composições. A direção artística é ponto crucial na abstração do valor da peça. Um olhar afinado determina a escolha. “O trabalho nas redes sociais é inspirador para que as pessoas possam fazer seus garimpos. Na realidade, os garimpeiros gostam de encontrar algo raro, exclusivo.”

SERVIÇO
Pé Palito Vintage
Rua dos Timbiras, 2.500, Santo Agostinho
Ed. JK, Bloco A
(31) 2515-1993
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