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Soluções simples podem ajudar

Design universal viabiliza construção de moradias adequadas a qualquer pessoa, independentemente das limitações, e garante dignidade e máximo de autonomia

Embora haja muita resistência e desconhecimento sobre a necessidade de se garantir a acessibilidade, a execução de projetos arquitetônicos sintonizados com os preceitos do design universal – conjunto de conceitos e técnicas voltados para a concepção de espaços, artefatos e produtos que atendam simultaneamente todas as pessoas de maneira segura e confortável – pode ser feita de forma simples e sem onerar as obras
De acordo com o arquiteto Marcelo Pinto Guimarães, professor da Faculdade de Arquitetura da UFMG e diretor do Laboratório de Acessibilidade da instituição, pesquisas indicam que o acréscimo no custo total de uma obra que respeite tais critérios é de apenas 0,1%.

O arquiteto, também deficiente físico e doutor em design universal pela Universidade da Carolina do Norte (EUA), ensina que é na elaboração dos projetos, especialmente no planejamento de espaços, que reside o segredo de se construir uma edificação confortável e segura"Produtos como barras metálicas para apoio, de material cromado e anticorrosivo, trilhos fixados no teto, que permitem o deslocamento das pessoas com dificuldades de locomoção, são acessórios de segurança que estão disponíveis no mercado e podem ser comprados a qualquer horaMas é um projeto arquitetônico atento aos detalhes que garante o conforto, sem a necessidade de reformas e readequações."

Espaços amplos

Dentro dessa filosofia, todos os cômodos, por exemplo, precisam ter diâmetro mínimo de 1,50m, suficiente para permitir o giro de uma cadeira de rodas, explica MarceloO posicionamento das redes de tubulação tem de ser planejado de forma que assegure a colocação de barras de segurança, caso haja necessidadeOs pisos precisam ter qualidades antiderrapantes, para evitar quedas, e ainda não devem causar um reflexo grande de luz, inconveniente para idosos ou para quem tem visão limitadaSempre que possível, o acesso a andares superiores deve ser feito por meio de elevadores, ou no mínimo o projeto deve criar as condições para a instalação desses dispositivos.

As portas, continua o arquiteto, precisam ter largura mínima de 80 cm para permitir o acesso de cadeiras de rodas e obesos, por exemploA colocação de escadas e rampas demanda planejamento criterioso"Muitas vezes, colocar apenas rampas não resolve a situação; existem pessoas com problemas de equilíbrio que não conseguem transpor o acesso devido à sua inclinação", diz.

Nos banheiros, o uso de boxes blindex deve ser evitado, porque a quebra do material pode causar danos imensos à integridade do usuário, assim como o desnível acentuado entre a área de banho e o restante do ambiente"No Brasil, por questão estética, o blindex é o padrãoMas na Europa, as cortinas de boxe prevalecem, inclusive com a venda de produtos caros e sofisticados", informa.

Já na cozinha, além do diâmetro padrão de 1,50m, é preciso o planejamento de mobiliário e acessórios adequados
"Bancadas de apoio, com 35cm ou 40cm de largura, devem ser fixadas ao lado do fogão e da geladeira, para que a pessoa, ao retirar os alimentos, com determinado peso ou temperatura, não precise carregá-los, ou ainda não necessite de passar a mão sobre as trempes de fogo", observa MarceloOs fogões, sempre que possível, devem ser elétricos, com serpentinas, e com base de vidro temperadoO uso de microondas deve ser privilegiadoOs armários devem estar localizados abaixo das bancadas, com prateleiras móveis, e o contraste de cores em todo o projeto da cozinha, para auxiliar quem tem visão limitada.