A violência urbana muda os hábitos das famílias brasileiras e, por
conseqüência, transforma a arquitetura das construções, especialmente
nas médias e pequenas cidades. Para fugir do trânsito engarrafado, dos
assaltos, seqüestros relâmpagos e de toda a vasta gama de perigos do
cotidiano, as pessoas passam mais tempo em casa, mas convivem em
espaços também cada vez mais reduzidos. Para conciliar essas duas
tendências, a resposta da arquitetura foi a introdução dos ambientes
integrados, que permitem maior sensação de amplitude e criam uma
comunicação entre os vários cômodos da casa, favorecendo assim uma
maior interação da família.
Um fato recente no país, que pode
colocar ainda mais em evidência a necessidade de integração dos
espaços, é a introdução da chamada Lei Seca, que estabeleceu punições
rigorosas para motoristas alcoolizados. Com ela, o hábito de freqüentar
o barzinho na saída do trabalho para aquele aperitivo com os amigos,
comum entre os brasileiros e muito cultivado pelo belo-horizontino,
gradualmente vai sendo substituído pela confraternização em casa, com a
família e amigos que moram nas vizinhanças. Assim, ganham prioridade
nos projetos arquitetônicos residenciais ambientes onde essas reuniões
possam ser realizadas com conforto, aconchego e funcionalidade.
“São
cozinhas gourmet integradas com a sala ou instaladas na varanda,
grandes salas, resultantes da integração do living com as salas de
jantar e TV, onde se pode ouvir uma boa música, assistir a um show no
DVD, bater um papo com uns amigos, preparar uma comida, comer e tomar
uma bebida”, diz a arquiteta Cristina Menezes. Ela observa que o tipo
de integração a ser feita depende das preferências dos usuários da casa
ou apartamento.
ESPAÇO GOURMET “Já remodelei um
apartamento de três quartos no Belvedere, de cerca de 100 metros
quadrados (m²), onde as divisões da dependência de empregada, da
cozinha e de um dos quartos foram eliminadas e os ambientes integrados
com a sala. O resultado foi um grande espaço gourmet, com a cozinha
dentro da sala, onde os moradores recebiam os amigos”, conta ao
observar que o apartamento era de um casal sem filhos que, no
dia-a-dia, não cozinhava em casa.
Para famílias com crianças,
que necessitam fazer refeições diariamente, mas querem um espaço onde
os dotes culinários de um gourmet possam ser comprovados, uma solução é
o planejamento de duas cozinhas – uma para o dia-a-dia e outra
integrada com a sala ou varanda. A idéia, porém, admite Cristina, é
mais dispendiosa e exige um apartamento de maior porte.
Isso não
quer dizer que quem tem um imóvel menor não possa reservar um cantinho
da casa para tomar o seu aperitivo tranqüilamente, depois de um dia
cansativo de trabalho, ou receber os amigos. “É possível redefinir o
uso dos espaços com a mudança na distribuição e a substituição ou
reforma do mobiliário, para criar, numa sala, por exemplo, um cantinho
para conversar com o parceiro e os filhos ou receber os amigos, tomando
um bom vinho e comendo um tira-gosto”, diz.