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Mãos à obra

Transformar a vida de pessoas com limitações físicas é mais fácil do que se pensa. Basta utilizar bom senso e contar com profissionais competentes

Júnia Leticia
Maria Fernanda Loureiro destaca que a deficiência ocorre caso o ambiente não permita a execução das atividades cotidianas - Foto: Fotos: Eduardo Almeida/RA Studio
Um exemplo de solução simples, mas que representa muito para pessoas com limitações físicas, é dado pela engenheira eletricista Cláudia Deslandes. "Para adaptar interruptores já instalados, basta fazer uma pequena intervenção na parede ou colocá-los aparentes. Com a supervisão de um profissional habilitado é muito simples", conta. Quanto à altura em que devem ser instalados, a ABNT 9050 determina que os interruptores, assim como as tomadas e as maçanetas das portas, não devem ultrapassar 1 m de altura.

A colocação de barras de apoio e corrimãos ou mesmo o rebaixamento do piso para colocar tapetes são outras opções. A escolha adequada do mobiliário antes da compra também é fundamental. "Uma cadeira que não tem braço de apoio para a pessoa se levantar ou mesmo cadeiras muito leves que serão utilizadas por pessoas obesas são escolhas erradas e significam perdas", exemplifica a coordenadora do curso de design de interiores da FEA/Fumec, Maria Fernanda Loureiro.

A professora trabalha com o conceito de que a deficiência ocorre caso o ambiente não permita a execução das atividades necessárias para viver. "Se a pessoa tem pouca visão e chega a um elevador que tem numeração em braile ou tem uma gravação que diz o número dos andares, não está deficiente. Se usa cadeira de rodas, mas consegue se locomover graças à instalação de rampas, não encontra empecilhos para chegar aonde quer. O lugar é que proporciona as limitações. Nossa tarefa é transformar as restrições em habilidades". Tomados todos os cuidados e obedecidos os critérios para tornar os ambientes acessíveis, é preciso atenção, ainda, para não fazer com que a casa pareça um hospital
. Segundo Maria Fernanda Loureiro, para isso, a condição estética não pode ser esquecida. "A estética, relacionada ao conceito de design universal, refere-se à seleção de materiais, acabamentos, cores, iluminação, acessórios, sinalização, entre outros, que promovam a interação das pessoas com seu meio construído, sem que ele aparente ser diferente ou utilitário".

ÁREA EXTERNA
"Barras de apoio e pisos apropriados nos locais molhados merecem atenção" - Dante Lapertosa e João Alberto Figueiredo, designers de interores - Foto:
Além dos ambientes internos, é necessário pensar na circulação de pessoas com dificuldade de locomoção fora de casa. Para isso, o ideal é a criação de rampas. Mas é preciso ficar atento quando se trata das calçadas, que seguem projetos específicos da prefeitura que já contemplam acessibilidade, como conta o designer de interiores Dante Lapertosa.

Segundo ele, qualquer modificação no passeio terá de ser comunicada à prefeitura. "Já alterações internas, quando não mudam a volumetria da edificação ou da área construída, não", diz. O arquiteto Mozart Vidigal completa, falando que há leis que regulamentam a execução de passeios e todos os projetos devem ser aprovados na prefeitura. "Como exemplo, podemos citar as faixas com piso tátil de alerta, a faixa tátil direcional e os rebaixos para acesso de cadeirantes", acrescenta.

Para quem já se conscientizou sobre a importância da acessibilidade, o designer de interiores João Alberto Figueiredo tem uma boa notícia: "Não existe diferença de custo de projeto para ambientes acessíveis ou não. A diferença de custo da obra varia de acordo com materiais e acessórios que serão empregados".

No caso de imóveis que serão construídos, o valor corresponde entre 3% e 4% do projeto, dependendo da solução a ser colocada. Para a adaptação de espaços, o projeto varia de R$ 650 a R$ 1,2 mil por ambiente. "O valor depende do que se deseja fazer e do nível de complexidade
. A adaptação aparece como um equipamento de autoajuda que agrega conforto e segurança".