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Arquitetos criam ambientes à prova de acidentes

Redação
A cozinha com bancadas em altura confortável é ideal para os mais velhos. Projeto de Hélio Albuquerque. - Foto:
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Imagine que você está em lugar aparentemente seguro, mas que esconde armadilhas invisíveis. De repente, um movimento rotineiro — como subir a escada ou abaixar-se — desencadeia uma série de ciladas, que têm como resultado machucados e lesões.

Todos estamos sujeitos a acidentes desse tipo, mas para idosos e crianças os obstáculos da casa são ainda mais perigosos. Isso não significa que você precisa construir uma minifortaleza: pequenas modificações e cuidados são suficientes para diminuir quedas, queimaduras e outros imprevistos caseiros. E o que é melhor: de forma bem charmosa.

Feito para uma criança de seis anos, o quarto tem a cama baixa e com suportes de madeira, para evitar quedas durante a noite e para facilitar o acesso. Na parede, tons de verde trazem tranquilidade. "A madeira clara deixa o quarto mais leve", completa a arquiteta Gislaine Garonce, criadora do projeto. A janela tem cortineiras e tela, e está a uma altura que o pequeno não tem acesso. "O objetivo era fazer com que a janela não chamasse a atenção da criança".

Tanto arquitetos quanto decoradores são unânimes em afirmar que a segurança do ambiente está nos detalhes. No quarto das crianças, a arquiteta Arina Araújo recomenda que a escolha dos móveis seja feita com atenção redobrada a cantos expostos, quinas e partes salientes — que precisam ser arredondadas e isentas de arestas ou partes pontiagudas.

“Parafusos, por sua vez, devem estar encapados, e nunca aparentes”, completa
. O próximo passo é pensar na disposição dos móveis de modo a priorizar a livre circulação e a praticidade.

Na iluminação, lâmpadas, luminárias e acessórios devem não só seguir as tendências da moda ou as preferências estéticas do dono da casa. “Modelos de fácil manutenção e que não ficam ao alcance da criança, como lustres, plafons e arandelas, costumam ser recomendados.

Eles proporcionam uma iluminação mais agradável e não causam possíveis acidentes”, ensina Arina. Adaptar o tamanho dos móveis também ajuda a dar mais independência aos pequenos. “Sempre trabalho com camas com altura de 38cm a 48cm, para as crianças poderem subir sozinhas”, exemplifica a designer de interiores Camylla Fay.

Ter espaço para andar entre os móveis também se aplica a ambientes para idosos, uma vez que evita que eles se machuquem caso percam o equilíbrio. “O cômodo deve ser sempre bem iluminado, já que os idosos têm dificuldades para enxergar”, completa Camylla Fay. Móveis confortáveis — também preferencialmente com os cantos arredondados — e ventilação também são essenciais. “Não adianta ter conforto e um ambiente abafado. Quando a pessoa chega a uma certa idade, precisa ter condições de respirar melhor”, explica.

De acordo com a necessidade deles

Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia, Cláudio Santili, a maior parte dos acidentes envolvendo idosos acontece dentro de casa. “Os mais comuns e com consequências mais graves são as quedas”, completa
.

A necessidade de ir muitas vezes ao banheiro durante a noite, comum aos mais velhos, é uma das atividades em que o risco de acidentes está mais iminente. “Degraus ou desníveis propiciam que eles tropecem. Tapetes e calçados escorregadios também facilitam”, detalha.

Com a idade avançada, quedas e fraturas são ainda mais sérias, devido à fragilidade dos ossos. A solução para deixar o banheiro mais seguro, segundo Cláudio Santili, é garantir que os passos dos mais velhos sejam os mais firmes possíveis: além de eliminar os já mencionados desníveis, optar por barras de segurança no box e tapetes antiderrapantes são as principais providências.

“A altura da pia e do vaso sanitário também tem que ser observada para não favorecer que o idoso se desequilibre e caia”, frisa o ortopedista. Deixar uma luz sempre acesa no caminho do quarto para o banheiro, instalar um interruptor ao lado da cama ou até mesmo lâmpadas com sensores de movimento também evitam quedas noturnas e esbarrões nos móveis.

No caso das crianças, é preciso se preocupar também com a curiosidade natural dos pequenos. Objetos de decoração frágeis e que podem quebrar devem ser colocados em prateleiras ou na parte de cima dos móveis, longe do alcance delas — assim como remédios ou produtos de limpeza.

“Colocar protetores nas tomadas é obrigatório”, completa Vera Vilar Bezerra, presidente da Sociedade de Pediatria do Distrito Federal. Na sala e no quarto, a dica é investir em telas de proteção nas janelas e em piscinas, pois evitam que brincadeiras mais ousadas acabem em desastre.