"Para identificar uma antiguidade, pesquisamos em livros, e depois as peças acabam aparecendo. Para saber se é antigo ou não, é justamente por comparação. Já recebemos peça que achamos que tinha 40 anos, e depois descobrimos que é do século 19". Para Rodrigo, o antigo enriquece a decoração. "Tem mais qualidade. As coisas eram feitas com muito mais zelo e capricho. Hoje é tudo industrializado, antes os produtos eram mais duráveis". Ao lado da mesa, um deus tailandês de antes de cristo tem valor inestimável
Alguns especialistas consideram antiguidade a produção anterior a cem anos, dos séculos 18 e 19, mas há os que também consideram o mobiliário vintage, do século 20, antigo. Na Memoriabilia ADVintage, loja que funciona há um ano na Floresta, as peças valorizam a produção das décadas de 1950 e 1960, esbanjando cores, formas e beleza. Para buscá-las, os proprietários João Caixeta e Fabiano Lopes fazem uma pesquisa intensa, tanto interior, quanto em outras capitais, como São Paulo, Rio Grande do Sul, às vezes até no exterior.
"Esta volta ao passado é um resgate em que a questão maior gira em torno na memória afetiva, que a gente tem e doa aos objetos. As pessoas buscam recompor os cenários antigos, trazer de volta as boas lembranças. Então, acredito que o objeto guarda muito disso, em suas formas, cores. Acaba sendo o registro de um tempo. É um fenômeno de final de século de resgatar o passado para reiventar o futuro", diz João. De acordo com ele, os clientes são pessoas antenadas com o contemporâneo, não apenas a faixa etária mais velha. É o jovem que convivia na casa da avó, da tia, da mãe com objetos antigos, e também aqueles que apreciam o que há de melhor dentro do que já foi registrado no design.
"Quem busca antiguidade pode ser um colecionador de arte, de móveis que se distinguem pela sua estética, pelos seus materiais, e pela raridade
Como contam os sócios, diante da pasteurização atual da indústria que transforma tudo em lugar comum, os clientes buscam qualidade e diferencial. "Como o mobiliário vintage tem seus traços característicos, acaba trazendo uma identidade nova para o espaço, um contraponto à mesmice, um resgate de qualidade, de desenho. E para os que são mais jovens, acredito que a identificação vem justamente do que é ainda desconhecido, novo. Um ambiente diferente, com peças diferentes, desenhos inusitados, que geralmente são únicas", completa João Caixeta.
A dona de casa Maria Ricardina Garcia, de 56 anos, gosta de antiguidades desde que nasceu. "Convivo com peças antigas desde minha infância. Minha mãe gostava muito e eu fui aprendendo, peguei gosto. Meu marido gosta também, eu preservei o que meus pais deixaram e também compro. Gosto de visitar antiquários, dou muito valor ao trabalho. Porque são peças do passado que fazem parte da nossa vida". Ela adora a atmosfera dos antiquários, cheia de romantismo. "São móveis elaboradas, carregados de sentimento. Hoje não tem mais isso. É tudo muito reto, tudo muito liso, muito clean. O móvel não transparece a alma da pessoa. A casa com móveis antigos tem mais aconchego e um ar aristocrático", continua.
O sofá antigo confere austeridade à sala, que abriga ainda um cabideiro que o pai ganhou de um hotel de São Paulo, uma arca chinesa de sândalo que a mãe comprou com roupas da dona, um espelho veneziano adquirido em um leilão no Rio de Janeiro, móveis em folhas de ouro, cristais e lustres da Boêmia, oratórios da bisavó, um almofariz (pilão) da época da escravatura, além da coleção de relógios, alguns comprados em antiquários, outros de bolso. "Tenho apreço por tudo", completa.