Com indícios de que a utilização do bambu na arquitetura esteve presente há pelo menos cinco milênios nas comunidades indígenas da América do Sul, a evolução técnica no ramo ergueu templos inteiros no Japão, China e Índia, séculos antes de Cristo, como o Taj Mahal, o mais conhecido monumento da Índia, situado na cidade de Agra, que teve sua estrutura milenar de bambu substituída por metal há pouco tempo, ressalta o arquiteto proprietário da Bamboobali, Mário Gabriel Scripilliti Júnior. Vãos enormes em pontes na China são sustentadas por cordas de bambu, prova inegável de sua resistência, e atualmente, nações em desenvolvimento, como a Colômbia, Equador e Costa Rica, exploram o potencial socializador da planta, utilizada largamente em programas de habitação, com referência a trabalhos de arquitetos e engenheiros latino-americanos de renome internacional, como Oscar Hidalgo Lopes, Simon Vélez e Ana Cecília Chaves, cita Mário Gabriel.
"Estudos científicos já compravaram que a resistência a compressão, flexão e tração do bambu são superiores a do aço, concreto e ferro. Ele é um aço vegetal, e com diâmetro acima de 10 cm é ideal para a construção. Além disso, apresenta uma vantagem ambiental enorme, já que é grande coletor de dióxido de carbono suspenso na atmosfera, em uma taxa 20 vezes superior ao eucalipto, por exemplo, devolvendo oxigênio e gerando um crédito de carbono enorme, diminuindo assim o efeito estufa", frisa.
De crescimento rápido (em três anos está pronta para o corte), uma toceira madura, depois de 10 anos, por quatro séculos vai produzir 20 varas por mês, enquanto o eucalipto demora também 10 anos para produzir uma única peça, o que faz o bambu ser altamente renovável, continua Mário. A durabilidade chega a ultrapassar 25 anos, equivalente à do eucalipto, mas deve-se prestar atenção à proteção contra as intempéries. Problemas com pragas como brocas e carunchos (já que os clássicos vilões cupins não se interessam pela planta) são resolvidos com tratamentos químicos apropriados, acrescentam os arquitetos da Ibi Arquitetura Consciente, Daniel Quintão e Frederico Prates
"Quando não há possibilidade do tratamento industrial , a sabedoria popular diz, por exemplo, que o bambu deve ser cortado na lua minguante, quando ele está menos inchado, poroso, portanto menos permeável. Em cada caso, o manejo adequado vai trazer usos ilimitados, com versões mais vernaculares, tramas de encaixe, mosaicos decorativos, vigas, treliças, telhados, divisórias, elementos para paisagismo, revestimentos de paredes, e até laminados para pisos, aliando flexibilidade, leveza, facilidade de manipulação, com efeitos estéticos extremamente originais", dizem os arquitetos da Ibi. Por terem movimentos mais flexíveis, as estruturas em bambu também revelam a peculiaridade incomum em resistir a terremotos, continuam.
VERSÁTIL
Os designers e sócios da Bambu Brasileiro, Marcelo Ribas e Rafael Vasconcelos, dizem que usam o produto em forros de parede, rebaixamento de tetos, jardins, cercas, móveis, cachepôs, bangalôs e também conjugados com outros materiais, como o metal, o alumínio e o PVC. "O segredo é saber aliar a matéria-prima aos produtos industrializados, com o tratamento adequado a cada espécie e a escolha correta delas para determinado projeto, priorizando a questão ecológica, com o manejo e coleta seletivos das varas", informam. As edificações com bambu ainda são cerca de 30% mais caras do que as de alvenaria, e é imprescindível contratar um arquiteto para calcular corretamente as medidas das varas para o uso estrutural e fazer o dimensionamento do beiral e a proteção da fundação. Em geral, os fornecedores produzem a gramínea em matas cultivadas e manejadas para fins comerciais, e as varas podem ser encontradas por preços acessíveis.
Das cerca de 1,3 mil espécies conhecidas, há pelo menos 400 no Brasil, sendo os tipos guadua, gigante e mossô os mais indicados para a construção. No país de grandes florestas inexploradas de várias espécies (como no Acre, onde os bambuzais cobrem 38% do estado), todo o potencial já conhecido no mundo para a realização de obras de aspecto moderno e único, não é explorado, e a gramínea ainda é vista como a "madeira do pobre", apesar do trabalho intenso já em algumas regiões, atenta o arquiteto da Bamboobali, Mário Gabriel Scripilliti Júnior. "A solução para muitos de nossos problemas pode ser simples