Além da escassez de profissionais nos canteiros de obra, o mercado imobiliário pode estar enfrentando um novo entrave no crescimento: o limite do valor dos imóveis passíveis de financiamento com recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Com a escalada de preços nos últimos anos, o teto atual de R$ 500 mil tem dificultado o enquadramento de unidades em uma das melhores alternativas de financiamento pelo Sistema Financeiro da Habitação (SFH) com taxas de juros mais atrativas, que giram em torno de 9,5% a 10,5% ao ano, mais Taxa Referencial (TR).
Para especialistas e empresários do setor imobiliário, este valor deveria ser pelo menos 60% superior para atender a recente realidade do mercado. “O valor ideal seria na faixa dos R$ 800 mil, o que possibilitaria alcançar uma parcela maior da classe média”, pondera o presidente da Câmara do Mercado Imobiliário e Sindicato das Empresas do Mercado Imobiliário de Minas Gerais (CMI/Secovi), Ariano Cavalcanti. Patamar semelhante é considerado pelo presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis de Minas Gerais (Creci-MG) e diretor da Sótão, Paulo Tavares. “O valor atual está muito abaixo do necessário e deveria chegar a R$ 800 mil, o que fomentaria as vendas”, avalia.
Apesar de ter sido revisado em março de 2009, quando passou de R$ 350 mil para R$ 500 mil, a expansão do limite não acompanhou a valorização do mercado imobiliário nos últimos dois a três anos. “Neste período, temos casos de imóveis que subiram mais de 100%”, afirma Paulo.
Atualmente, quem deseja comprar imóveis nas regiões mais nobres da cidade e usar o FGTS para dar uma boa entrada ou financiar as parcelas deve procurar unidades usadas, em edifícios antigos – com pelo menos 10 anos – com até três quartos, uma vaga de garagem e cerca de 90 metros quadrados. “Hoje estamos vendendo um imóvel com essas características no Bairro Funcionários por R$ 500 mil, mas, se fosse novo, estaria cotado a, no mínimo, R$ 700 mil”, observa Tavares.
Em bairros como Santo Agostinho, Lourdes e Funcionários o preço do metro quadrado está esbarrando na casa dos R$ 10 mil. “Há dois anos, lançamentos de alto luxo na região eram vendidos por cerca de R$ 6 mil o metro quadrado. Hoje, este custo chega a R$ 8 mil a R$ 9 mil”, observa o vice-presidente de Incorporação da CMI/Secovi, Evandro Negrão de Lima Júnior. No caso de bairros como Sion, Anchieta e Cruzeiro, também na Região Centro-Sul, a variação foi de R$ 6 mil para R$ 8 mil.
Insuficiente O proprietário da imobiliária Miriam Dayrell, Adriano Sampaio, confirma o cenário. “Meio milhão é muito dinheiro, mas não é mais suficiente
Se os usados estão chegando ao teto, os lançamentos já ultrapassaram esse limite há muito tempo. Uma grande surpresa para o geólogo Eduardo Paim Viglio, que buscou financiamento de seu imóvel na Caixa Econômica Federal (CEF). “Comprei o apartamento na planta por R$ 360 mil no início de 2008. Quando a Caixa veio avaliar, o preço já estava em R$ 550 mil, acima dos R$ 500 mil”, conta. “Ficamos apavorados porque estávamos contando com a utilização do FGTS”, acrescenta Eduardo.
Somente com muita conversa foi possível encaixar o apartamento no limite exato de R$ 500 mil. “É o meu primeiro imóvel e acho que eu deveria ter o direito de dispor do valor para a compra da moradia, independentemente do preço”, protesta. Situações como a de Eduardo, em que é preciso usar o “jeitinho” brasileiro para adequar o imóvel ao limite de R$ 500 mil, estão sendo frequentes, como reconhecem as próprias imobiliárias
Casa Própria
Quais são os requisitos para utilizar o FGTS na compra de imóveis?
>> Ter três anos na condição de optante pelo regime do FGTS
>> Não ser proprietário de imóvel residencial no município onde pretende efetuar a compra ou onde reside e/ou tem seu domicílio
>> Não ter financiamento habitacional em qualquer localidade do território nacional
>> O trabalhador que for assumir um financiamento habitacional pode utilizar o FGTS para reduzir o valor tomado emprestado. Assim, diminui sua dívida e o valor da prestação mensal