Antes de iniciar a construção de um empreendimento, é importante que os arquitetos desenvolvam um estudo prévio que considere aspectos como iluminação e ventilação do terreno. “A partir do resultado é elaborado o projeto”, afirma a arquiteta Michella Vieira, da Construtora Atrium. Segundo ela, tais aspectos interferem do desenvolvimento do projeto à conclusão da obra e têm reflexos no preço que é repassado ao consumidor.
Como exemplo, ela cita que, para aproveitar a área de subsolo para fazer o estacionamento em um terreno com o nível de água elevado, é preciso rebaixar esse nível ou armazenar o volume de água, dependendo do caso. “Também é necessário instalar contenção e fundação apropriadas, que, por vezes, têm um custo alto e poderão influenciar no valor de venda”, fala Michella.
Gestora de projetos da MRV Engenharia, Juliana Furiati Lopes Siqueira diz que, no caso da topografia e composição do solo, elas definem o tipo de fundação e implantação do projeto. “Se o terreno tiver um solo muito ruim ou uma topografia muito acidentada, o projeto pode ficar inviável”, destaca.
Mesmo assim, é preciso considerar as soluções possíveis. A inclinação do terreno, ponto que parece complicado, pode favorecer, por exemplo, o posicionamento da garagem no subsolo, como observa Luciano Muniz, da Prisbel. “E a inclinação da rua pode permitir a colocação de dois portões de garagem, facilitando o fluxo de entrada e saída de veículos nos pavimentos.”
No caso da orientação solar e posição de ventos, Juliana fala que a implantação pode ser definida em função de minimizar os efeitos do clima no empreendimento. “Favorecendo a insolação em locais de clima frio e minimizando a insolação em locais de clima quente”, considera.
Mas há desafios naturais para os quais não há saída possível, como informa Juliana. Este é o caso de áreas de preservação ambiental permanente. “Elas interferem muito no projeto, pois, dependendo da posição das árvores, o adensamento pode ser diminuído”, ressalta.
De posse de um estudo prévio, é possível propor soluções que podem, até mesmo, contornar eventuais problemas. “Ao projetar um edifício no qual exista uma construção ao lado, avaliamos o local mais adequado para colocar a área social e os cômodos ‘íntimos’, que devem estar mais distantes de prédios vizinhos, para garantir a privacidade do morador”, conta Luciano.
O mesmo cuidado não é tão necessário em áreas de serviços, cozinha e banheiros, que têm janelas mais altas e menores
CARÊNCIA Mas os desafios naturais à construção civil são agravados pela falta de áreas para novos empreendimentos. Com isso, o arquiteto tem pouca liberdade para criar, porque os imóveis já construídos provocam interferência nos que estão para ser edificados, como nota o diretor da Prisbel. “Em regiões pouco adensadas é mais fácil contornar essas situações”, afirma.
Em relação aos projetos, o diretor financeiro da Prisbel fala que a Prefeitura de Belo Horizonte é muito rígida, “no que diz respeito às normas de acessibilidade em todo o edifício, e às áreas permeáveis, que devem ter de 20% a 30% da área do terreno, dependendo do zoneamento.”
Apesar de tais exigências limitarem o projeto, Luciano reconhece que são muito importantes para a cidade. “Pois garantem o acesso às pessoas com limitações físicas e evitam que grande parte das águas pluviais seja conduzida para as redes subterrâneas, podendo causar alagamentos nas vias”, completa.
Para minimizar esses desafios, ele aposta no desenvolvimento de estudos que avaliem as diversas condições que envolvem uma edificação. “Criando soluções para atender aos anseios do comprador. Até porque, com a falta de terrenos e o adensamento da cidade, a tendência é de que cada vez mais itens influenciem os projetos”, conclui.