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Mudar é preciso, mas sem exagero

Renovação não é algo que deva ser visto como negativo em casa. Porém, é necessário seguir alguns critérios para evitar desperdícios e desgastes desnecessários no dia a dia

Júnia Leticia

Para decoradores e designers de ambientes, uma dica importante é investir em aspectos que tenham relação direta com os moradores, para evitar impessoalidade - Foto: Eduardo Almeida/RA Studio


Como extensão do ser humano, é natural que de tempos em tempos haja a necessidade de mudança. Segundo a arquiteta Iara Santos, o problema é quando essa necessidade vira uma questão de status. "Desse modo, o designer de interiores se torna um elemento de diferenciação e a mudança tem que ocorrer conforme os lançamentos de produtos", observa. A grande disponibilidade de artigos, muitas vezes com preços bastante atrativos, também estimula o consumo. "Acredito que a decoração retrata o que o homem pensa e como ele vê o mundo. Estamos numa época em que o efêmero é um fato e até mesmo as coisas mais duráveis antes hoje assumem um caráter mais descartável. É fruto do nosso tempo", diz a arquiteta Estela Netto.

Mas seguir a moda na decoração não é um aspecto negativo, desde que a pessoa saiba dosar e escolher com bom senso o que usará em sua casa com bom-senso."Uma peça lançada na feira de Milão, uma sugestão de cor, uma nova capa de linho para o sofá, sem dúvida podem enriquecer e dar uma nova cara a qualquer ambiente. O importante é medir isso para que boa parte da estrutura do ambiente seja mais atemporal", ressalva Estela.

O problema ocorre quando, assim como em showrooms, há exposição de um grande número de peças, que por vezes ficam soltas no ambiente e não têm comunicação entre si, como diz a arquiteta Sheila Mundim. "Geralmente, também há ausência de cores. São ambientes com tons mais neutros (marrom, branco e cinza) para agradar a todos os gostos. Por isso, torna-se um ambiente frio e impessoal."

Outra característica de showrooms é que neles o mobiliário usado é sempre o mais simples possível, privilegiando linhas retas."Também não são usadas muitas novidades em papéis de parede, textura nas tintas, além de painéis de madeira revestindo paredes", acrescenta Sheila.

Para que o ambiente não fique impessoal, Iara Santos recomenda não adquirir tudo que está ao alcance das mãos
. "Se você vai à loja e compra tudo o que está na vitrine, sua casa vai virar uma vitrine. Enche os olhos, mas não fica pessoal. E o morador acaba se sentido estranho na própria casa." A arquiteta Flávia Soares também destaca como prejuízo a perda de identidade da casa e do conforto para os moradores e visitantes. "Ou seja, ela ficar com cara de showroom. Outra consequência é que esse ambiente acaba não ficando aconchegante para o usuário", pondera.

Para evitar um ambiente carregado e cansativo, com excesso de informações, é preciso investir na personalização. Nada de simplesmente copiar o ambiente que viu na TV ou em uma vitrine."Às vezes as pessoas vão à casa de um amigo ou veem um espaço na loja e querem algo igual", diz Iara Santos.

DIFERENÇAS

No entanto, ela lembra que o efeito obtido em um determinado imóvel não é o mesmo em outro. A luminosidade, por exemplo, varia conforme o local."Nada é exatamente igual. Então, mesmo que se faça uma decoração tendo esses lugares como referência, na sua casa não vai ficar igual e é isso o que mais decepciona as pessoas", constata Iara.

Independente do estilo, para deixar a casa mais acolhedora, a recomendação é usar cortinas, resultam em uma bela textura na parede. "A cortina tem a capacidade de tirar a frieza do ambiente. Uso muito cortinas de tecidos com cores neutras, como tons de bronze e cinza
. Fica charmoso e elegante", sugere Iara. No entanto, essa não é sua única função. Flávia Soares acrescenta que elas filtram a luz natural e mudam a cor do espaço. "Causando a sensação de aconchego".

Mas como esquecer o modismo na hora de decorar os ambientes? O segredo, de acordo com Iara Santos, é pensar bem antes de comprar. "As pessoas devem fazer uma reflexão sobre aquilo que gostam, não gostam e o que precisam. São esses elementos que devem direcionar a decoração."

A arquiteta Estela Netto diz que para seguir a moda é preciso saber dosar e escolher o que usar em casa - Foto: Eduardo Almeida/RA Studio
TOQUE FINAL

Para Sheila, o morador pode sempre imprimir sua personalidade na decoração escolhendo as cores que mais gosta e objetos que tenham uma história sentimental ou que sejam "a sua cara". "Nas salas, as peças-chave são os móveis: sofás, poltronas, mesinhas laterais ou de centro, e para os banheiros, os revestimentos conferem a marca pessoal do morador. Geralmente, faz-se detalhe com pastilhas, acima da bancada ou na parede dentro do box", diz.

Em outros ambientes, como nas cozinhas, além dos adornos que ficam aparentes, o que pode ser diferenciado é o uso de algum detalhe no revestimento, como uma pastilha. "Nos quartos, o conjunto da cabeceira é a peça-chave para se conseguir um ambiente personalizado. Seja na escolha da cabeceira da cama, do criado, um painel de madeira com espelho, papel de parede ou até mesmo de um pendente na lateral da cama", diz Sheila.

Para Estela, cada escolha transforma o espaço, resultando em algum estilo. Segundo ela, texturas, acabamentos, iluminação, obras de arte, enfim, tudo influenciará no resultado do projeto."De forma muito simplista, poderíamos associar no clássico simetria, tons claros, muito mármore, algumas peças de antiguidade." Mas se o estilo escolhido for o contemporâneo, Estela Netto sugere a adoção de vãos livres, menos objetos, mobiliário de design atual e arte contemporânea. "No vintage, peças assinadas da década de 1950, concreto aparente, estampas relacionadas a outros momentos da decoração, luminárias retrôs são as sugestões", completa.

DECORAÇÃO COM EQUILÍBRIO

Esqueça o modismo. A casa tem que transmitir a personalidade do morador e cada peça precisa imprimir emoção.

Tenha em mente que a decoração tem de ser vista
como um bem durável.

Deixe de lado o status. É natural que o ser humano tenha necessidade de mudança, mas mostrar posição social por meio de uma decoração com excesso de elementos vistos na TV ou em revistas pode surtir efeito contrário.

Evite o consumismo. A grande disponibilidade de artigos, muitas vezes com preços bastante atrativos, contribui para transformar a casa em um verdadeiro showroom.

Saiba dosar e escolher o que usará na decoração. Uma peça lançada na feira de Milão (Itália), uma sugestão de cor, uma nova capa de linho para o sofá sem dúvida podem enriquecer e dar uma nova cara a qualquer ambiente.

Pense bem. Comprar por impulso pode ter consequências negativas para a decoração e o conforto dos moradores.