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Mercado imobiliário: investimento é uma boa opção?

Valéria Mendes
Vice-presidente da área imobiliária do Sinduscon-MG, José Francisco Couto de Araújo Cançado, diz que o imóvel ainda é um bem que tem espaço para continuar em ritmo de valorização - Foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press

Quando o assunto é aplicar as reservas econômicas pessoais, seja para zelar ou ampliar o patrimônio, sensações de medo, euforia e risco se misturam em uma equação difícil de solucionar. É certo que essa não é uma angústia que cabe a todos os brasileiros, afinal, o país ainda encabeça as listas de países mais desiguais do mundo, onde muitos ainda batalham pela sobrevivência. Mas por outro lado, o Brasil desponta também como economia em franco crescimento e terreno fértil para um variado perfil de investimentos. Um deles chama a atenção pela aceleração acima da média nos últimos anos: o setor imobiliário, que vem refletindo rapidamente a ascensão econômica de parcela significativa da população que, agora, realiza o que talvez seja o principal projeto de consumo de toda pessoa, a aquisição da melhor moradia possível para seu padrão de renda.

Belo Horizonte é uma cidade que sente na prática o superaquecimento do setor imobiliário. Muitos mineiros devem ter encerrado o ano se perguntando: “Até quando o preço do imóvel vai aumentar”? Não é para menos. Um estudo realizado em 2010 pelo Conselho Regional dos Corretores de Imóveis de MG (Creci-MG) mostra que, em dez anos, o valor da habitação aumentou 548%. Foi a maior alta entre os pesquisados na cidade e refere-se a imóveis de três quartos em bairro classe média. Veja tabela abaixo:

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O dado leva à conclusão de que investir em imóvel é mesmo um excelente negócio. Mas o coordenador de pesquisas do Ipead (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis da UFMG), Vanderlei Ramalho, explica que é preciso avaliar bem antes de fechar negócio. “Quando se trata de investimento, não há regra absoluta”, ressalta.

O gerente regional de habitação da Caixa, Marivaldo Araújo Ribeiro, concorda. “Investir em imóvel tem sido um excelente negócio no Brasil
. Quanto tempo vai durar? Isso vai depender da capacidade do mercado em produzir unidades”, afirma.

"Investir em imóvel tem sido um excelente negócio no Brasil. Quanto tempo vai durar? Isso vai depender da capacidade do mercado em produzir unidades" - Marivaldo Araújo Ribeiro, gerente regional de habitação da Caixa - Foto: Beto Novaes/EM/D.A PressNo fundo, para essa área, não é possível chegar a resposta certa e definitiva. Mas o que não falta é especulação sobre o assunto e, quando o objetivo é lucro, não existe palavra mais adequada. Pensar sobre o futuro é exercício essencial para impulsionar atitudes e realizar os planos.

Vice-presidente da área imobiliária do Sindicato da Indústria da Construção Civil MG (Sinduscon-MG), José Francisco Couto de  Araújo Cançado, lembra que estudos recentes mostram que o imóvel ainda é um bem que tem espaço para continuar em ritmo de valorização. “O que realmente ocorreu foi uma recuperação de preço defasado por anos de crise no Brasil. O setor recuperou parte das perdas e, se pensarmos em mercado internacional, estão em patamar razoável”, afirma.

Cançado explica que é natural as pessoas reclamarem, já que o preço do metro quadrado em Belo Horizonte subiu muito e está no pico da alta. Mas ele conta que um estudo que compara em dólares o metro quadrado nos países emergentes, o valor mais barato é no Brasil. “Na China, Índia, Rússia, ainda é mais caro”, afirma.

O presidente do Creci-MG, Paulo Tavares, analisa o estudo realizado pelo órgão que apresenta um número exorbitante - 548% de valorização - e faz brilhar os olhos daqueles, que em meados dos anos 2000, optaram por investir no setor .“Aquilo foi uma euforia. Vamos sair dela e entrar na realidade. Todo mundo prefere a realidade, ninguém quer instabilidade”, observa.

Apesar do “boom” ou “bolha” - expressões usadas pelos analistas do mercado imobiliário para esse período - Tavares enfatiza: “Tenho 45 anos de militância na área, 15 de chaves (referindo-se ao trabalho como corretor). Eu não conheço nenhum ser humano que tenha comprado um imóvel e tenha perdido dinheiro”.