Quando o assunto é aplicar as reservas econômicas pessoais, seja para zelar ou ampliar o patrimônio, sensações de medo, euforia e risco se misturam em uma equação difícil de solucionar. É certo que essa não é uma angústia que cabe a todos os brasileiros, afinal, o país ainda encabeça as listas de países mais desiguais do mundo, onde muitos ainda batalham pela sobrevivência. Mas por outro lado, o Brasil desponta também como economia em franco crescimento e terreno fértil para um variado perfil de investimentos. Um deles chama a atenção pela aceleração acima da média nos últimos anos: o setor imobiliário, que vem refletindo rapidamente a ascensão econômica de parcela significativa da população que, agora, realiza o que talvez seja o principal projeto de consumo de toda pessoa, a aquisição da melhor moradia possível para seu padrão de renda.
Belo Horizonte é uma cidade que sente na prática o superaquecimento do setor imobiliário. Muitos mineiros devem ter encerrado o ano se perguntando: “Até quando o preço do imóvel vai aumentar”? Não é para menos. Um estudo realizado em 2010 pelo Conselho Regional dos Corretores de Imóveis de MG (Creci-MG) mostra que, em dez anos, o valor da habitação aumentou 548%. Foi a maior alta entre os pesquisados na cidade e refere-se a imóveis de três quartos em bairro classe média. Veja tabela abaixo:
O dado leva à conclusão de que investir em imóvel é mesmo um excelente negócio. Mas o coordenador de pesquisas do Ipead (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis da UFMG), Vanderlei Ramalho, explica que é preciso avaliar bem antes de fechar negócio. “Quando se trata de investimento, não há regra absoluta”, ressalta.
O gerente regional de habitação da Caixa, Marivaldo Araújo Ribeiro, concorda. “Investir em imóvel tem sido um excelente negócio no Brasil
Vice-presidente da área imobiliária do Sindicato da Indústria da Construção Civil MG (Sinduscon-MG), José Francisco Couto de Araújo Cançado, lembra que estudos recentes mostram que o imóvel ainda é um bem que tem espaço para continuar em ritmo de valorização. “O que realmente ocorreu foi uma recuperação de preço defasado por anos de crise no Brasil. O setor recuperou parte das perdas e, se pensarmos em mercado internacional, estão em patamar razoável”, afirma.
Cançado explica que é natural as pessoas reclamarem, já que o preço do metro quadrado em Belo Horizonte subiu muito e está no pico da alta. Mas ele conta que um estudo que compara em dólares o metro quadrado nos países emergentes, o valor mais barato é no Brasil. “Na China, Índia, Rússia, ainda é mais caro”, afirma.
O presidente do Creci-MG, Paulo Tavares, analisa o estudo realizado pelo órgão que apresenta um número exorbitante - 548% de valorização - e faz brilhar os olhos daqueles, que em meados dos anos 2000, optaram por investir no setor .“Aquilo foi uma euforia. Vamos sair dela e entrar na realidade. Todo mundo prefere a realidade, ninguém quer instabilidade”, observa.
Apesar do “boom” ou “bolha” - expressões usadas pelos analistas do mercado imobiliário para esse período - Tavares enfatiza: “Tenho 45 anos de militância na área, 15 de chaves (referindo-se ao trabalho como corretor). Eu não conheço nenhum ser humano que tenha comprado um imóvel e tenha perdido dinheiro”.