Tanto é assim que, em 2010, a Accor realizou pesquisa para avaliar as expectativas dos hóspedes sobre o tema desenvolvimento sustentável. “O trabalho foi conduzido pelo instituto francês de pesquisa de mercado Ifop em seis países – Austrália, Brasil, China, França, Alemanha e Reino Unido – e apontou que sete em cada 10 clientes iriam selecionar um hotel ambientalmente responsável, mesmo que mais mal situados e um pouco mais caros”, afirma Jânio Valeriano, diretor de empreendimentos do Grupo Maio/Paranasa.
E a boa notícia é que investir nesse recurso não significa aumento no valor da diária. A arquiteta Estela Netto cita o uso do aquecimento solar, uma excelente fonte de energia com custo bastante viável. “Além disso, grandes aberturas de vidro favorecem a qualidade do espaço do ponto de vista do conforto térmico, e a captação de água pluvial para irrigação de jardins são outras soluções”, exemplifica.
O diretor de operação da Vert Hotéis, Acácio Pinto, confirma que investir em sustentabilidade não onera a diária. “Ao contrário, com a operação mais enxuta o benefício poderá ser revertido ao cliente. Na construção de um hotel sustentável, os custos iniciais aumentam em até 15%. Mas com a economia na operação, o retorno do capital investido é em no máximo cinco anos.”
Opinião diferente tem a arquiteta Roziane Faleiro
A arquiteta Patrícia Guerra observa que, atualmente, vários setores já trabalham no sentido de desenvolver produtos e técnicas sustentáveis. “Isso requer uma decisão de investimento, pois, na prática, os custos são relativamente maiores. É necessário que haja uma difusão disso para que os produtos tenham competitividade no mercado”, reitera.
Jânio diz que já há interesse do setor nesse sentido. Um exemplo desse movimento é o Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil (Fohb). “Há cerca de um ano, o Fohb vem desenvolvendo um trabalho bastante competente junto aos representantes das principais operadoras hoteleiras do setor, para implantar e difundir as melhores práticas de sustentabilidade”, informa.
FÓRUNS Diretora-executiva do Fohb, Ana Maria Biselli conta que o fórum é composto por oito grupos de trabalho, dos quais fazem parte representantes das redes associadas, que discutem, periodicamente, questões relativas ao setor hoteleiro. “Dentro de um deles (recursos humanos e responsabilidade socioambiental), foi formado, este ano, um comitê voltado exclusivamente para o fomento e discussão de projetos na área socioambiental”, diz.
De acordo com Ana Maria, o tema é de suma importância para os empresários do setor
Preservação é fundamental
O hotel sustentável tem a premissa de priorizar a preservação do meio ambiente, desde o processo de planejamento – envolvendo a arquitetura, o meio onde será implantado, a construção –, até o processo operacional. Essa consciência está deixando de ser privilégio de destinos de ecoturismo e se espalhando por grandes cidades. É uma nova postura que pode ser assumida em todos os momentos da vida. Para o turismo de negócios, as grandes empresas têm preferido optar por hotéis que se comprometem com a preservação do meio ambiente, consumo sustentável, bom aproveitamento de recursos naturais e um programa eficiente de reciclagem. Sistema de captação de água de chuva, piso permeável, paisagismo com plantas nativas da região, máximo aproveitamento de luz natural, sistema de descarga com economizador de água, reaproveitamento da água do banho para descarga, sombreamento da fachada do prédio para menor incidência de calor, além do uso de madeira 100% certificada, são alguns dos itens e sistemas que compõem um hotel sustentável. Por isso, cresce o número de empreendimentos que procuram aliar conforto com o respeito ao meio ambiente, adotando práticas sustentáveis. Empresas sustentáveis procuram parceiros sustentáveis.
Soluções ecológicas
Apesar de já estar disseminada a importância da responsabilidade social na construção civil, na prática é preciso entender o que faz com que um hotel seja sustentável. A arquiteta Estela Netto conta que, para que possa ter essa designação, a edificação precisa ter alguns itens. “Captação de água pluvial e aquecimento solar são alguns deles”, aponta.
Há, ainda, itens como bacia sanitária que tem caixa acoplada com acionador de descarga e opção de litragem, e janelas e portas que permitem grande entrada de iluminação e ventilação naturais. “A utilização de mão de obra local ou material desenvolvido por comunidades do entorno também auxiliarão em um resultado ambientalmente viável”, acrescenta.
Entre os muitos aspectos a serem considerados, Acácio Pinto diz que um hotel sustentável tem de ter suas fachadas projetadas para reduzir a absorção de calor. “Seja pela pintura em tons claros, seja pelo estudo da utilização de brises, entre outros, lembrando sempre de conjugar esses elementos ao conjunto arquitetônico e não colocá-los como anexo pós-projeto.”
Outro ponto que merece destaque é o sistema de gerenciamento do entulho da obra, que deve ser pensado de modo a gerar o mínimo de resíduos possível. O processo também deve apontar a destinação para o que não for imediatamente aproveitado, conforme afirma o diretor de operações da Vert Hotéis.
Um dos vilões do meio ambiente em hotéis, o ar-condicionado merece atenção especial. Como não é possível ficar sem ele, Acácio indica o uso de equipamentos mais eficazes. “O sistema de ar condicionado deve ser o mais eficiente possível energeticamente, de preferência do tipo central e split, com saída de ar refrigerado pelo piso”, diz.
Na linha da sustentabilidade, nem mesmo a decoração fica de fora. Para desenvolvê-la, é preciso utilizar materiais alternativos, “como cerâmicas e porcelanatos reciclados, fibra natural, bambu, couro ecológico, pneus reciclados, ladrilhos hidráulicos, pastilhas de coco, fibras de garrafas PET, aço inoxidável e borracha reciclada”, cita o diretor de operações.
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