Especialistas recomendam cuidados com eletricidade dentro de casa

Baixa tensão, presente em qualquer eletrodoméstico, pode causar ferimentos graves e até matar. Especialistas ensinam como ter segurança dentro de casa e evitar acidentes

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postado em 02/01/2012 09:00 / atualizado em 01/01/2012 18:22 Júnia Leticia /Estado de Minas
"Todo mundo se preocupa com a alta tensão. Porém, a voltagem não é a única responsável pelas mortes causadas por choque elétrico", João Carlos Lima, professor do Centro de Capacitação em Eletricidade da Loja Elétrica

Os perigos da alta tensão são conhecidos de todos. Mesmo não sendo expert no assunto, as pessoas sabem que correm sérios riscos quando expostas a voltagens elevadas. No entanto, o que muitos ignoram é que a baixa tensão, presente nos equipamentos domésticos, também pode causar ferimentos sérios e até a morte. Doutor em engenharia elétrica pela UFMG, professor do Departamento de Engenharia Eletrônica e de Telecomunicação da PUC Minas e diretor da Kascher Engenharia, Ronaldo Kascher Moreira explica que a baixa tensão é a classificação dada aos circuitos alimentados entre determinada voltagem. “De 50 a 1.000 volts em corrente alternada (situação de nossas residências) ou de 120 a 1.500 volts em corrente contínua (situação de sistemas especiais, o que não é o caso de nossas residências)”, diz.

O professor esclarece que a baixa tensão pode ser mais perigosa até mesmo que a alta. “O que mata pessoas é a corrente elétrica em ampères e não a voltagem em volts. Se a pessoa estiver, por exemplo, molhada, um choque provocado pela rede de 127 volts (baixa tensão usadas em nossas residências) pode matá-la devido à corrente elétrica, que será alta”, explica Ronaldo.

De acordo com ele, a corrente depende da voltagem e da resistência que o corpo humano oferecerá à passagem de corrente. “Para ilustrar melhor, todos já tivemos a sensação desagradável de, ao sair de um veículo ou ao tocar em uma maçaneta metálica de um armário, levar um choque elétrico. Isso se deve à eletricidade estática, cuja voltagem pode chegar facilmente a 30.000 volts”, cita Ronaldo. Nesse caso, não resulta em morte porque a corrente elétrica em ampères é baixa e o choque dura pouco tempo, conforme o professor.

"Se a pessoa estiver molhada, um choque da rede de 127 volts pode matá-la devido à corrente elétrica, que será alta" - Ronaldo Kascher, professor


E não são poucos os equipamentos de uso diário que merecem cuidados com relação aos perigos da baixa voltagem. “Todos os aparelhos domésticos elétricos são alimentados em baixa tensão: forno de micro-ondas, geladeiras, televisão, microcomputadores, chuveiros elétricos, iluminação etc.”, enumera Ronaldo.

Mas essa informação é desconhecida por boa parte das pessoas. De acordo com o professor do Centro de Capacitação em Eletricidade da Loja Elétrica João Carlos Lima, muitas delas pensam que a tensão recebida no ambiente doméstico não representa grandes riscos. “Todo mundo se preocupa com a alta tensão. Porém, a voltagem não é a única responsável pelas mortes causadas por choque elétrico. Uma corrente de 30 milésimos de ampères já é capaz de provocar fibrilação (arritmia) cardíaca”, alerta.

A engenheira eletricista Cláudia Deslandes conta que uma corrente elétrica pequena causa pequenos danos, como um formigamento pelo corpo. Entretanto, à medida que a corrente elétrica aumenta, os riscos crescem. “Uma de 50 miliampères (0,050 ampères) passando pelo coração pode causar arritmia nos batimentos cardíacos, que pode levar à morte por parada cardíaca”, diz.

ATENÇÃO Essa corrente elétrica é relativamente pequena, ainda mais considerando que os aparelhos domésticos, em sua maioria, trabalham com uma corrente muito maior que a apontada pela engenheira. “Mais perigosa, ainda, é a combinação de eletricidade e água (um chuveiro, por exemplo). Por isso, deve-se tomar cuidado ao manusear esses aparelhos enquanto estão em funcionamento. A corrente de um chuveiro padrão com tensão baixa de 127V está acima de 30A. Essa corrente é mortal”, ressalta Cláudia.

Quem passou pela experiência de tomar choque no chuveiro foi a auxiliar de escritório Juliana Silva. Mas, no caso dela, felizmente, tudo não passou de um susto. “O fio do chuveiro estava desencapado e o choque incomodou bastante. O problema foi resolvido com a troca de toda a fiação”, conta. Cláudia Deslandes diz que Juliana teve sorte por não ter sofrido consequências mais graves. O fato de ser jovem, não estar molhada e ter os pés calçados contribuiu para que o choque não provocasse maiores danos. “Com certeza, ela não recebeu toda a corrente elétrica do chuveiro. Caso o dispositivo DR estivesse presente na instalação, o chuveiro seria desligado automaticamente quando a corrente alcançasse 0,3A. Esse dispositivo é obrigatório pelas normas técnicas brasileiras”, explica a engenheira.

Eduardo de Almeida/RA studio


NORMAS GARANTEM SEGURANÇA
Seguir procedimentos adequados em relação às instalações elétricas é imprescindível para assegurar o funcionamento correto dos equipamentos e impedir acidentes em casa

Para evitar choques, é essencial adotar medidas preventivas, conforme explica a engenheira eletricista Cláudia Deslandes. Elas consistem na instalação do fio terra, no uso do dispositivo DR, fazer manutenções na rede elétrica desenergizada, na conservação das instalações elétricas e dos equipamentos e contar com a assessoria técnica de um profissional habilitado, capacitado e treinado. Além disso, é preciso seguir as recomendações das normas técnicas, algo que por vezes é questionado. Esse é o caso da NBR 14136, que estabelece o padrão brasileiro para tomadas e plugues elétricos. A legislação visa a aumentar a segurança contra choques porque, além de os contatos elétricos das tomadas ficarem recuados em relação à face externa do plugue, inclui um rebaixo (encaixe de plugue) na tomada.

Cláudia Deslandes acredita que esses cuidados não foram tomados na casa da auxiliar de escritório Juliana Silva, que recebeu uma descarga elétrica na tomada. “Tomei um choque insuportável ao colocar o carregador de celular. Aí, fizeram o reparo na instalação, e o problema foi resolvido”, lembra. De acordo com a engenheira eletricista, o novo padrão da tomada brasileira impede o usuário de tocar o pino (plugue macho) antes que ele fique energizado. “O pessoal reclama, mas se esquece da segurança, o motivo principal da troca das tomadas”, ressalta. Mas o incidente de Juliana também pode ter sido provocado pela falta de conservação das instalações elétricas. “Esse é um dos principais motivos de choques e incêndios”, diz Cláudia Deslandes.

A engenheira eletricista Cláudia Deslandes diz que a intensidade do choque em tomadas depende da potência elétrica do aparelho  - Eduardo de Almeida/RA studio A engenheira eletricista Cláudia Deslandes diz que a intensidade do choque em tomadas depende da potência elétrica do aparelho


A engenheira acrescenta que a intensidade do choque provocado por uma tomada depende da potência elétrica do equipamento que está sendo energizado. “Um carregador de celular provoca uma sensação de choque, enquanto uma máquina de lavar roupa pode acarretar queimaduras”, exemplifica Cláudia. Para proteger o usuário não só nesses dois casos, como em tantos outros, ela reitera que é imprescindível o uso do dispositivo DR. “Mas não podemos nos esquecer do fio terra, obrigatório em todas as instalações, de acordo com o que está previsto na Lei 11.337. Ele é o caminho para as correntes que provocam choques”, fala. Além desses cuidados, é preciso sempre seguir as orientações do manual de instalação do fabricante e dar preferência a produtos de empresas reconhecidas, com certificação de qualidade e selo do Inmetro.

Para alertar sobre esse e outros riscos que são desconhecidos por boa parte da população, a engenheira eletricista criou o Café Elétrico (contato@cafeeletrico.eng.br), espaço gratuito para discussão das instalações elétricas. “Em 2011, os encontros foram sobre cabo elétrico, tomadas e interruptores, LED, disjuntor, quadro elétrico, eletrocalha, entre outros”, diz Cláudia. O primeiro de 2012 será em 10 de fevereiro e terá como tema o dispositivo de proteção contra surto (DPS), indicado pela norma ABNT 5410 e 5419 para proteger as instalações elétricas e os equipamentos eletroeletrônicos contra surtos – oscilações na rede elétrica que são provocadas, especialmente, pelos raios sobretensões ou transientes diretos ou indiretos.

DESCARGA Uma das instituições parceiras do Café Elétrico é a Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade (Abracopel). Sobre o tema DPS, que está ligado às instalações de baixa tensão, o diretor executivo da associação, o engenheiro eletricista Edson Martinho, explica que eles são dispositivos que têm a função de desviar para a terra as tensões que excedem as nominais. “Ou seja, quando ocorre uma descarga atmosférica ou uma elevação de tensão na rede da concessionária, os equipamentos eletroeletrônicos podem queimar e o DPS vai protegê-los, desviando o excesso para a terra.”

Em outras palavras, o professor Ronaldo Kascher diz que os DPSs são dispositivos que atuam no caso da ocorrência de uma elevação brusca de tensão da rede elétrica. “Normalmente, ocasionada por indução de raios nos condutores que alimentam a residência. São úteis para evitar a ‘queima’ dos eletroeletrônicos da casa, mas não para evitar choque elétrico nos usuários. O dispositivo que evita isso é o DR, que é de uso obrigatório nos circuitos que alimentam as áreas molhadas da casa”.

PALAVRA DE ESPECIALISTA
João Carlos Lima
professor do Centro de Capacitação em Eletricidade da Loja Elétrica

Funcionamento adequado

“A NBR 5410, regra da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) revisada em 1997, especifica as condições nas quais as instalações elétricas de baixa tensão devem ser feitas. O objetivo é garantir o funcionamento adequado do sistema elétrico, a segurança de pessoas e animais, além da conservação de bens. Entre os itens estabelecidos pela Norma Brasileira de Referência da ABNT estão a separação dos circuitos de iluminação e tomadas em todos os tipos de edificações e aplicações, a inclusão do fio terra em equipamentos como fogão, geladeira, chuveiro e máquina de lavar, e a instalação de dispositivos residuais nas áreas molhadas. Tudo o que é mencionado pela NBR 5410 tem força de lei quando citado pela NR-10 e por isso não pode ser descumprida. Mas, mesmo depois de 14 anos, ainda existem pessoas que ignoram essas regras. Entretanto, o consumidor pode cobrar o cumprimento delas pelas construtoras, porque elas são obrigatórias.”

Eduardo de Almeida/RA studio


Solução caseira e perigosa

Mas não é só o mau uso dos equipamentos que pode provocar estragos. Soluções caseiras também podem ter consequências nada agradáveis. Na hora do aperto e com pressa para resolver problemas com aparelhos eletrodomésticos ou eletroeletrônicos, alguns chegam a fazer substituições inusitadas, como usar fita crepe e até mesmo esparadrapo no lugar da fita isolante.

De acordo com Cláudia Deslandes, ambos os materiais não são fabricados para serem utilizados em instalações elétricas. E mesmo as fitas isolantes, para serem empregadas, devem ser produzidas em conformidade com a norma NBR 60454. “Uma emenda com fita crepe, por exemplo, está em desacordo com as normas técnicas. Portanto, o risco de acidentes é maior. Um caso interessante é que, se houver um incêndio e for encontrado material não indicado por normas técnicas, o seguro poderá ser cancelado.”

O superintendente da Associação Brasileira de Certificação de Instalações Elétricas (Certiel), Eduardo Daniel, diz que o mais indicado é que as conexões sejam feitas utilizando conectores adequados, que protejam o usuário da instalação. “No caso da fita isolante, sua função principal é isolar eletricamente as partes energizadas de uma conexão (por exemplo, entre dois condutores).”

Isolado

O superintendente da Certiel explica que o produto é feito com material que apresenta propriedades isolantes especiais, que impedem que a corrente elétrica passe para uma pessoa que toque a parte energizada ou para o restante da instalação. “O uso de outros materiais, por exemplo, fita crepe, esparadrapo e sacolas plásticas, não garante essa isolação e pode ocorrer choque elétrico e curtos-circuitos”, alerta Eduardo Daniel. Além da indicação de material apropriado para o serviço, especialistas dizem ser fundamental a contratação de mão de obra especializada para fazer serviços elétricos dentro de casa. Essa atitude também garante a segurança e evita danos aos aparelhos domésticos.

A auxiliar  de escritório Juliana Silva levou um choque ao recarregar o celular devido a defeito na tomada - Eduardo de Almeida/RA studio A auxiliar de escritório Juliana Silva levou um choque ao recarregar o celular devido a defeito na tomada

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Andre - 02 de Janeiro às 11:10
Reportagem fala muito e não diz nada. Muito repetitiva.Parece matéria de criança no ensino fundamental.

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