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Mercado imobiliário

Construtores voltam os olhos para o Centro de BH, agora mais atraente

Tendência é resultado da escassez de lotes vagos ou terrenos de maiores proporções

Celina Aquino
Depois de reformar a fachada, Teodomiro Diniz Camargos vai construir 62 apartamentos no Edifício Tupis, conhecido como Balança mas não cai - Foto: Euler Júnior/EM/D.A Press
Para uma cidade, crescer significa se desenvolver socialmente, ter melhor infraestrutura e atrair investimentos. Uma das consequências, no entanto, até para uma capital planejada como Belo Horizonte, é ter que lidar com a falta de terrenos para atender a demanda imobiliária. Estima-se que hoje restam menos de 5% de área para serem ocupados. Isso tem obrigado as construtoras que não querem extrapolar as fronteiras a buscar alternativas para enfrentar a dificuldade de encontrar lotes bons e disponíveis, como investir no Centro de BH.

No mercado há três anos, a Casa Mais conseguiu transformar a escassez de terrenos em negócio. A empresa se especializou em empreendimentos que cabem em áreas menores. “Assim já me livro da concorrência das grandes construtoras, que nem olham para esses terrenos, e dos construtores de bairro, que não trabalham com prédios de 20 ou 30 unidades”, pondera o diretor Peterson Querino. Os edifícios da Casa Mais não ultrapassam nove pavimentos e comportam até 40 unidades de 65 metros quadrados, dependendo da extensão do lote. Cada apartamento vale em média R$ 300 mil.

Querino destaca que a aprovação de projeto para esse tipo de lote é muito mais rápida, entre outros motivos, por não haver a necessidade de fazer estudo de impacto, o que antecipa o prazo de entrega. Outras vantagens que atraem os consumidores são a maior privacidade, melhor controle da segurança e a taxa de condomínio mais baixa, já que os prédios não têm área de lazer. A Casa Mais apostou nas regiões Leste e Noroeste de BH, onde ainda é possível encontrar terrenos de até mil metros quadrados com preço viável. “O que mais tem dificultado o trabalho nem é a escassez de terrenos
. A gente até encontra muito lote à venda, mas o preço não condiz com a realidade”, pontua.

O presidente da Câmara do Mercado Imobiliário e Sindicato das Empresas do Mercado Imobiliário de Minas Gerais (CMI/Secovi-MG), Ariano Cavalcanti de Paula, concorda que o momento é ruim para as construtoras. Mas a dificuldade de encontrar áreas disponíveis com valor justo intensifica um fenômeno que Cavalcanti considera uma boa oportunidade: o resgate do Centro. “A valorização do Hipercentro irradia uma onda de investimentos muito interessante tanto para o empreendedor quanto para a sociedade, que ganha um ambiente mais digno e tem oferta maior de imóveis”, opina.

O empresário Teodomiro Diniz Camargos foi um dos que encontraram na requalificação de prédios no Centro uma alternativa para a escassez de terrenos. A primeira experiência começou seis anos atrás, com a compra de um prédio comercial na Rua São Paulo, o Edifício Chiquito Lopes, que estava à venda havia mais de dois anos. A construtora Diniz Camargos transformou os andares corridos em 167 apartamentos, que foram vendidos a R$ 125 mil e hoje valem o dobro.

LISTA

Mesmo com toda a burocracia para levar o projeto adiante, o empresário viu que valia a pena investir no Centro. Por isso, em 2008, ele partiu para a reforma da fachada do Edifício Tupis, datado de 1947, popularmente conhecido como Balança mas não cai. Teodomiro conta que o prédio estava caindo aos pedaços, mas a estrutura estava intacta. A previsão é de que comecem no fim do ano as obras para construir 62 apartamentos de um ou dois quartos, e já existe uma lista de interessados em comprá-los. Enquanto isso, o dono da construtora Diniz Camargos negocia a compra de outros três prédios. “Quando comprei o Edifício Chiquito Lopes, assumi uma série de riscos que se mostraram bastante problemáticos ao longo do processo, mas como não acho lote vago, a requalificação do Centro se torna um bom negócio.”

Expansão direcionada
O Vetor Norte é uma das regiões que estão atraindo investimentos imobiliários, principalmente depois da construção da Cidade dministrativa

Para o vice-presidente da área imobiliária do Sinduscon-MG, José Francisco Cançado, a falta de terrenos é um problema crônico - Foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press Um problema crônico
. É assim que o vice-presidente da área imobiliária do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG), José Francisco Couto de Araújo Cançado, vê a escassez de terrenos em Belo Horizonte. Diante da situação, as empresas começaram a derrubar casas e agora já se observa demolição de prédios pequenos, uma opção até então considerada extrema. Além disso, parte dos empreendimentos migrou para regiões em expansão, como o Vetor Norte, que se tornou atrativo depois que passou a abrigar a sede do governo estadual. “Onde o poder público investe em infraestrutura, a iniciativa privada se interessa em investir”, destaca.

Foi para a Região Norte que se voltou a atenção da Direcional Engenharia. A superintendente regional, Alexia Piana, diz que é natural a fuga das áreas consolidadas para os vetores de crescimento, não só para alcançar alto valor geral de vendas (VGV), índice que indica o valor estimado da construção pronta, mas para viabilizar os modelos de empreendimentos que são o carro-chefe da empresa e só cabem em grandes áreas: bairro planejado, em que é preciso criar um projeto urbanístico, ou residencial-clube, com área de lazer completa. A construtura prevê lançamentos no Bairro Granja Werneck, onde comprou um terreno de 4 milhões de metros quadrados, no Floramar, às margens da Linha Verde, e no Planalto.

Mas, para construir no Bairro Castelo, Região da Pampulha, a estratégia da Direcional foi comprar 11 pequenos lotes próximos uns dos outros. Os terrenos medem em torno de 3 mil metros quadrados, o que resulta em 33 mil m² e VGV de uma grande área. Alexia enumera as vantagens disso. “O processo de incorporação é feito para todas as áreas, a logística é facilitada, pois a equipe anda uma quadra e já está no outro prédio, os gastos são diluídos, pois um só engenheiro cuida de todas as obras, e pode-se trabalhar com lançamentos simultâneos, oferecendo mix de produtos ao cliente.” As primeiras torres devem ser lançadas no mês que vem.

LAGOINHA

O presidente da Câmara do Mercado Imobiliário e Sindicato das Empresas do Mercado Imobiliário de Minas Gerais (CMI/Secovi-MG), Ariano Cavalcanti de Paula, observa que, como ocorre em todo município que cresce, ao esgotar a ocupação nas áreas bem consolidadas as construtoras começam a resgatar áreas menos estruturadas. Ele acredita que a Região Norte despertou a atenção do mercado até por falta de opção, mas a área é a que ainda oferece disponibilidade de terrenos grandes e está preparada para receber os novos empreendimentos.

Cavalcanti destaca que o Lagoinha também é um bairro que passou a ser visto pelas construtoras e começa a se beneficiar do movimento do mercado imobiliário, assim como o Vetor Leste, que cada vez mais se aproxima da divisa com Santa Luzia, na Grande BH.

ENQUANTO ISSO...
... Região Sul continua a crescer

Por ser a área mais valorizada de Belo Horizonte, a Região Sul não vai deixar de atrair investimentos do setor imobiliário. Até porque a demanda por imóveis nessa área ainda é muito alta. Para o vice-presidente da Área Imobiliária do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG), José Francisco Couto de Araújo Cançado, a diferença é que a maioria das oportunidades está em terrenos onde é preciso substituir construções antigas. Cançado considera razoável o volume de ofertas no Vetor Sul, mas, por causa do Buritis, a Região Oeste é a campeã de vendas.