Na avaliação de especialistas, o Brasil não se estruturou para o boom no segmento da construção civil. Depois do estouro da bolha imobiliária dos Estados Unidos, em 2008, grandes investidores apostaram que a crise não atingiria o país e continuaram aplicando recursos aqui. Ao lado do crescimento exponencial no número de novos empreendimentos, os problemas se acumularam. “Fomos para um patamar de atividade muito superior. Além da falta de mão de obra, as prefeituras não têm capacidade de processar os projetos nem os cartórios de emitir os documentos. Nenhum dos atores do processo estava pronto”, ressalta José Carlos Martins, vice-presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic).
Apesar do atual cenário na entrega de imóveis, Hernani Varella, sócio-diretor da Tallento, estima que, em 2013, os atrasos vão chegar a, no máximo, 20 dias. Muito longe de ser uma boa notícia para a clientela, o cálculo considera o fato de as construtoras estarem revendo o seu planejamento e aumentando, já no contrato, o prazo de entrega dos imóveis
Perspectivas
No que depender do dinamismo da economia brasileira, os atrasos das empresas não vão acabar tão cedo. Nem mesmo a forte valorização dos imóveis nos últimos três anos — em capitais como Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Brasília, o valor do metro quadrado aumentou até 155% — nem a crise internacional vão dar um tranco no mercado imobiliário em 2012. A Cbic projeta que uma montanha de R$ 160 bilhões será oferecida em financiamentos para o setor este ano, 40% a mais que o valor concedido em 2011. Esses recursos vão financiar 1,6 milhão de unidades no país.
Octávio de Lazari Junior, presidente da Associação Brasileira das Entidades de Crédito e Poupança (Acebip), ressalta que, mesmo com um avanço tão expressivo na concessão de empréstimos nos últimos anos, o setor aposta em expansão. “No ano passado, a relação entre o crédito habitacional e PIB (Produto Interno Bruto, a soma das riquezas produzidas no país) fechou em 4,9%. Em países europeus e nos EUA, são próximos de 100%”, observa. Ele estima que, em 2014, esse índice no Brasil chegará a 10%.