As obras ditas “verdes” têm que provar que são o caro que sai barato. Na tendência das construções sustentáveis, para além do termo da moda, as economias decorrentes da redução no consumo de água e eficiência energética são o principal atrativo de empreendimentos do tipo. Estima-se redução de até 50% no consumo de água, 30% em gastos com energia elétrica e até 9% no custo de operação durante toda a vida útil de prédios verdes.
Ao rol de certificados conquistados por empreendimentos na toada da economia verde, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) acaba de colocar em operação definitiva o próprio selo – o primeiro no mundo a ser outorgado por uma municipalidade. Até maio devem ser divulgados os primeiros bares, hotéis e restaurantes da cidade que terão passado pelo crivo da Certificação e Sustentabilidade Ambiental de Belo Horizonte (CSABH). Um nome melhor para o selo deve ser pensado nesse meio-tempo.
A empresa responsável pela aferição dos critérios técnicos de economia verde para os empreendimentos que se interessarem pelo selo da prefeitura é o Bureau Veritas. “O consumo de água, energia, a gestão dos resíduos sólidos e as emissões de gases que contribuem para o efeito estufa são os principais elementos levados em conta”, explica Weber Coutinho, gerente de planejamento da Secretaria de Meio Ambiente.
Diferentemente de outros selos mais tradicionais, como os do Green Building Council (GBC) e da Fundação Vanzolini, o selo da PBH também aceita os chamados retrofits – quando edifícios já erguidos passam por reformas para se adequar às exigências da certificação. O plano é munir os prédios de aparelhagem capaz de mensurar, por exemplo, qual será a redução de emissão de carbono durante a Copa do Mundo.
O tempo de retorno de investimento é ainda o principal entrave para que os empreendimentos verdes deixem de ser exceção, segundo Wagner Soares, gerente de Meio Ambiente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg). “O custo é maior porque envolve tecnologias que ainda não estão completamente assimiladas pelo mercado. E muitos empreendedores não acham a perspectiva interessante porque não têm esse capital inicial ou porque de fato não conseguem enxergar a longo prazo”, diz Soares.
Dos 43 empreendimentos que o GBC, que tem os selos mais respeitados do mundo, certificou no Brasil, só um fica em Minas. Em processo de certificação existem hoje 477 prédios – 10 deles estão no estado. O edifício mineiro certificado é o WTorre Águas Claras, que abriga há um ano as atividades corporativas da Vale, em Nova Lima
Comerciais ainda são maioria
A tendência da construção sustentável ainda é puxada por edifícios corporativos, segundo Manoel Carlos Martins, coordenador do Projeto Aqua, da Fundação Vanzolini, de São Paulo. Dos 54 empreendimentos que o Aqua já atestou desde que foi lançado em 2008, só 15 são habitacionais. O restante são shoppings, edifícios comerciais, escolas, prédios para escritórios, hotéis e parques.
De acordo com ele, a fundação acompanha e certifica cada uma das etapas de desenvolvimento de uma edificação: programa, projeto e execução são avaliados conforme 14 categorias que se dividem em mais de 100 objetivos como economia de energia e água – não há, contudo, quantificação mínima em porcentagem que defina critérios objetivos de redução de consumo. Se o sol é para todos, os amplos painéis de vidro dos croquis da sede da Federação do Comércio (Fecomércio) em Porto Alegre (RS), certificados pelo Aqua, são exemplo de como a luz solar é aproveitada para reduzir o consumo energético.
“Na área de edifícios para escritórios, por parte do mercado, já é quase exigência que haja atenção para esses valores. No campo habitacional, começa a aparecer exigência, mas não é ainda obrigação. Aspectos de conforto e de economia a partir de práticas sustentáveis serão priorizados por esse mercado no futuro”, destaca Martins. A valorização dos imóveis, em última instância, é avaliada como investimento. “A multiplicação das experiências vai servir de exemplo para consolidar a tendência”, acredita Soares, da Fiemg