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Orientação profissional na compra do terreno é aliada para construção sem risco

A contratação de um especialista para auxiliar na aquisição do lote ou imóvel pode evitar desgastes na obra e com a prefeitura

Júnia Leticia

O analista de sistemas Carlos Ferreira contou com ajuda no projeto da casa - Foto: Eduardo Almeida/RA Studio

Muitas pessoas que querem construir acreditam que basta comprar um terreno e começar as obras. No entanto, não é bem assim. Há uma série de aspectos que devem ser considerados e o não cumprimento deles pode fazer com que a construção seja considerada irregular. O resultado pode ser sua interdição. Para evitar esse tipo de problema, é preciso recorrer à orientação de um arquiteto ou engenheiro, de preferência na hora de comprar um terreno.

Aprovação do projeto arquitetônico, afastamento dos vizinhos de, no mínimo, um metro e meio e preservação de água permeável para captação da água da chuva são exemplos de algumas das exigências feitas pela prefeitura, como alerta o diretor de produção e engenharia da Construtora Carrara, Rodrigo de Castro.

Para atender a essas e outras normas legais, Castro diz que é essencial contar com a assessoria de um engenheiro, para otimizar os espaços e dimensionar a estrutura da obra. “Além disso, a orientação desse profissional proporciona economia, por identificar os pontos que atrasam o andamento e aumentam o custo da construção”, observa.

- Foto: Eduardo Almeida/RA Studio

Arquiteto e urbanista, mestre em construção civil e professor na Universidade Fumec, Jacques Alyson Lazzarotto destaca que a importância de contratar um engenheiro ou arquiteto antes de fechar a compra do terreno vai desde a orientação sobre o tipo de zoneamento até questões físicas do lote. “Tipo de zoneamento se refere ao quanto se pode construir no terreno e como fazer isso. São os parâmetros urbanísticos que estabelecem afastamentos frontal, laterais e de fundos, quanto se pode ocupar do terreno e quantos pavimentos são permitidos.”

As questões físicas se referem ao tipo de relevo e de construção que se quer erguer. “Edificações planas ou em desnível podem exigir grande movimentação de terra ou estrutura extensa se o relevo não é compatível com o tipo de construção que se pretende fazer. Outra questão pode ser a existência de vegetação relevante, o que vai exigir documentação específica para sua supressão”, acrescenta Lazzarotto.

DETALHES De acordo com a arquiteta Patrícia Guerra, várias características podem inviabilizar ou restringir a construção em um determinado terreno. Uma delas é o lote pertencer a uma área de proteção ambiental

. “Terrenos em grandes aclives ou declives, muito comuns em Belo Horizonte e região, podem inviabilizar ou encarecer a construção se o propósito do cliente não for uma casa com mais de um pavimento, por exemplo.”

"Averiguamos a topografia e observamos o solo. Assim, verificamos as despesas com fundação, um dos requisitos que vai dizer se é viável ou não a construção naquele lugar", informa Rodrigo de Castro, da Carrara - Foto: Eduardo Almeida/RA Studio

Para consumidores como o analista de sistemas Carlos Ferreira, poder contar com a assessoria de um profissional na hora de comprar o terreno e projetar uma casa é muito importante, para orientar a respeito da proporção dos cômodos, da composição dos acabamentos, das cores, da iluminação e das tendências. “Quando nos aventuramos no sonho da construção de um novo lar, desejamos, acima de tudo, ter um espaço de convivência familiar, harmonia e entrosamento com os amigos. Enfim, um local para curtir a vida, um lugar que nos dê prazer.”

Segundo o analista, construir sem a ajuda profissional pode dar muita dor de cabeça quando, depois de concluída a obra, percebe-se que o resultado não corresponde ao que se esperava. “Pior ainda, chegar à conclusão de que o sonho se transformou em pesadelo com o qual teremos de conviver por uns bons anos.”

No caso de áreas acidentadas, o projeto deve se adaptar às características do terreno, conforme alerta o engenheiro civil Dalmo Lúcio Mendes Figueiredo - Foto: Eduardo Almeida/RA Studio

QUANDO O CARO SAI BARATO

Contar com um projeto de engenharia ou arquitetura garante o sucesso da empreitada.
Alguns aspectos devem ser considerados, como edificações planas ou em desnível


Mesmo no caso dos terrenos que podem receber uma edificação, dependendo de suas características, o consumidor pode ter de despender quantias bem superiores ao que previa. Nesse momento, a ajuda profissional pode ser muito útil. No caso de áreas acidentadas, o engenheiro civil e coordenador do curso de especialização em construção civil da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Dalmo Lúcio Mendes Figueiredo, diz que é importante que o projetista da edificação procure desenvolver o projeto arquitetônico adaptando-o às características do terreno (topografia e solo).

Apesar disso, não é raro observar que o projeto é desenvolvido sem levar esse aspecto em consideração. “O projeto é feito e, posteriormente, procura-se adaptar o terreno a ele. Isso acarreta custos elevados devidos à terraplenagem, fundações e contenções. Além disso, aumenta o risco de escorregamento do solo”, alerta Figueiredo.

- Foto: Eduardo Almeida/RA Studio

O primeiro passo para iniciar a obra é executar um levantamento planialtimétrico e verificar a legislação vigente no local, conforme afirma a arquiteta Roziane Faleiro. “Esse estudo observa o levantamento frontal, lateral, taxa de permeabilidade e fundo do terreno, além da altura máxima permitida para a construção.” A informação é obtida por meio do documento denominado Informação básica, retirado na prefeitura, e que estabelece as primeiras diretrizes do terreno.

A arquiteta lembra que é preciso, ainda, verificar áreas mínimas de ventilação e iluminação

. “Belo Horizonte é dividida por zoneamentos em cada região, que estabelecem as diretrizes de construção. Devem ser verificados esses aspectos, o entorno construído e o programa de necessidades para a devida implantação da construção de acordo com a necessidade do cliente”, acrescenta Roziane.

- Foto: Eduardo Almeida/RA Studio

CARACTERÍSTICAS A fim de verificar o tipo de construção que o terreno pode receber, o profissional avalia as características do solo, considerando possibilidades de escorregamento devido às intervenções que serão realizadas no local, como explica Figueiredo. “Também cabe a ele avaliar a capacidade do terreno em receber as cargas da construção, a drenagem e a influência da água de chuva sobre o terreno, se o local admite o tipo de construção pretendida pelo cliente – considerando os códigos de postura e uso do solo, da municipalidade – e o impacto da construção com as edificações vizinhas e com a região.”

Foi o que ocorreu, por exemplo, nas obras realizadas no Bairro Buritis, na Região Oeste de Belo Horizonte. De acordo com Rodrigo de Castro, diretor de produção e engenharia da Construtora Carrara, o que houve nesses casos foi um corte no terreno abaixo, com a percolação (passagem lenta) de água fazendo o maciço de terra escorregar. “O problema não é estrutural e, sim, do terreno. Lá, temos construções de diferentes empresas que apresentaram o mesmo problema, que poderia ocorrer até no caso de uma casa.”

- Foto: Eduardo Almeida/RA Studio

ASSISTÊNCIA INTEGRAL

Para se ter uma ideia do trabalho envolvido na assessoria, o profissional elabora um estudo de viabilidade, juntamente com o programa de necessidades de acordo com a disponibilidade financeira do consumidor/cliente. “Isso apontará se haverá necessidade de grandes movimentações de terra ou grandes contenções”, diz Lazzarotto.

- Foto: O arquiteto explica que o estudo de viabilidade consiste no levantamento de dados e no programa de necessidades para arquitetura e de informações obtidas pelas demais atividades técnicas. A partir daí, tem-se a metodologia a ser empregada, soluções alternativas (físicas e legais), e chega-se às conclusões relativas à obra.

Na caso das construtoras, é imprescindível que seja realizada uma análise do terreno antes de iniciar a obra, a fim de verificar se naquele local é possível levantar o tipo de construção que se pretende. “Averiguamos a topografia e observamos o solo. Assim, verificamos as despesas com fundação, um dos requisitos que vai dizer se é viável ou não a construção naquele lugar”, informa Rodrigo de Castro, da Carrara.

O que é válido para as construtoras se aplica também para quem vai construir a própria casa. Segundo as arquitetas da Faleiro Guerra, Patrícia Guerra e Roziane Faleiro, além da análise da topografia do terreno é preciso, antes de tudo, obter a aprovação do projeto arquitetônico e, em alguns casos, da terraplenagem. “Só depois é que começa a elaboração dos projetos estrutural, elétrico e hidráulico. Depois disso, deve-se contratar um engenheiro, que será o responsável técnico da obra e iniciará os trabalhos”, esclarece Roziane.