Ao anunciar a queda de juros no financiamento da casa própria, na semana passada, a Caixa Econômica Federal provocou um rebuliço no mercado de imóveis. O setor vinha demonstrando certo desaquecimento e alguns empreendimentos já reduziam o ritmo das obras. De uma forma geral, o mercado e os consumidores receberam a notícia de bom grado e a esperança é que, como ocorreu com os juros bancários para empréstimos pessoais, outras instituições acompanhem a proposta da Caixa.
Entretanto, quem comprou imóveis antes da resolução, que vigora a partir deste mês, não poderá refinanciar seu débito, segundo o gerente regional da Caixa em Minas, Marivaldo Araújo Ribeiro. “Não há como reduzir a precificação nem romper contrato”, adianta.
Segundo o advogado da Associação Brasileira de Mutuários da Habitação (ABMH), Leandro Pacífico, a maior parte dos financiamentos da Caixa tem origem no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Ele acredita que essa mesma fonte de recurso deva ser utilizada para a redução de juros do financiamento da casa própria.
Com as novas condições de financiamento, os juros estão variando de 4,6% a 9% ao ano, conforme a modalidade de empréstimo. Essas taxas poderão ser obtidas nas agências da Caixa (em todos municípios) e nos feirões da casa própria, realizados a partir desta sexta-feira até o dia 10 de junho em 13 cidades. “O anúncio veio às vésperas da 8ª edição do feirão (que em BH vai até domingo), num momento em que o mercado está desaquecido. O governo quer que o mercado imobiliário volte a ser o carro-chefe do crescimento do país e, para isso, precisa de novos financiamentos. Se permitir a migração do contrato antigo para um novo, com juros mais baixos, será apenas uma troca de dívidas. É preciso esperar a publicação da resolução para ver sua abrangência.”
O Banco Central já havia decidido pela portabilidade de dívidas
OUTROS BANCOS
O presidente da Câmara do Mercado Imobiliário e Sindicato das Empresas do Mercado Imobiliário (CMI/Secovi), Evandro Negrão de Lima Júnior, vê o anúncio da Caixa de forma positiva para o mercado. “Essa redução inclui no mercado grande número de novos compradores de imóveis.” Ele acredita que haverá desdobramentos no setor bancário privado e será um fator que manterá esse mercado aquecido.
O diretor da Habitare diz que ainda é cedo para uma avaliação mais ampla, mas acredita que a redução deva atingir todas as classes sociais, inclusive os financiamentos fora do Sistema Financeiro de Habitação (SFH), aqueles com avaliação acima de R$ 500 mil. Ele se mostrou bastante otimista e diz que, de certa forma, os empreendedores já se preparam para o incremento no financiamento do crédito imobiliário.
Crédito para todos
Possível comprador pode acessar o site da Caixa e fazer uma simulação para ver o valor máximo de financiamento que poderá contratar
Marivaldo Araújo Ribeiro, gerente regional da Caixa Econômica Federal, explicou que quem fez financiamento anterior à resolução não poderá migrar para o novo sistema. De acordo com o gerente, atualmente há duas formas de financiamento de imóveis pela instituição: o Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimos (SBPE), para imóveis de valor mais elevado; e por meio do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), para imóveis de até R$ 150 mil, em Belo Horizonte, até R$ 100 mil, na região metropolitana e cidades com população acima de 200 mil habitantes, e de R$ 80 mil para os demais municípios, desde que a renda não ultrapasse R$ 5 mil mensais. Nesse caso, se enquadram no programa Minha casa, minha vida.
Nesse programa, o cliente pode financiar diretamente com a Caixa ou entrar na parceria entre a instituição e as prefeituras, que é o Fundo de Arrendamento Residencial (FAR)
Para fazer uma simulação, o possível comprador de um imóvel pode acionar o site da Caixa, onde encontrará um simulador. Depois, informar sua renda e a cidade onde quer adquirir o bem. Assim, saberá qual o valor máximo de financiamento oferecido pela instituição ou o valor do imóvel que poderá adquirir.
CHANCE
Em 25 de abril, a Caixa anunciou a redução das taxas de juros voltadas a financiamento imobiliário em até 21% pelo Sistema Financeiro de Habitação (SFH). Segundo o advogado Marcelo Tapai, especialista em direito imobiliário e sócio da Tapai Advogados, em São Paulo, um dos problemas que geraram o boom imobiliário e o desajuste de mercado, com epidemia de atrasos e descumprimentos contratuais das incorporadoras, foi uma grande injeção de dinheiro, com o lançamento do programa Minha casa, minha vida em 2008, e abertura das empresas na bolsa, em 2007.
“Apesar de ser uma excelente notícia para quem pretende comprar um imóvel financiado, há o risco de que a facilitação do crédito e maior oferta de dinheiro possam gerar ainda mais atrasos em um futuro próximo”, alerta Tapai. A preocupação é que as empresas poderiam aumentar o número de vendas além da capacidade de construção.