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Manutenção sem estresse

Supervisor predial deixa moradores e síndicos mais tranquilos

Considerado anjo da guarda particular, além de reparos, ele assume diversas demandas

Humberto Siqueira
O profissional Valério Aparecido dos Santos se orgulha em ajudar a manter a ordem no condomínio - Foto: Jair Amaral/EM/D.A Press

Tempo é uma moeda escassa e cada vez mais preciosa. Edifícios de luxo com área de lazer completa exigem bastante dedicação na manutenção e reparos. O morador, ou o síndico, não quer chegar em casa e se deparar com uma lista de tarefas a cumprir. Daí a importância cada vez maior do papel do supervisor predial, profissional que vai assumir essas demandas, poupando o síndico ao máximo de aborrecimentos e mantendo o edifício impecável.

O supervisor precisa ser dinâmico, capaz de coordenar diferentes atividades, ter perfil de liderança, jogo de cintura na resolução de problemas e no trato com as pessoas, agilidade e, ainda por cima, entender um pouco de elétrica e hidráulica. Os supervisores de prédios de alto luxo, também chamados de zeladores ou gerentes de condomínios, são profissionais que precisam apresentar uma infinidade de requisitos para atender bem o público da classe A.

No Edifício Zaidal, por exemplo, os moradores podem usufruir de quadras de tênis, de futebol e de squash, salão de jogos, boate, sala de cinema, academia, piscinas e mais uma série de comodidades. Para tudo estar em perfeito funcionamento, eles contam com dois supervisores, que se revezam em escala de 12 horas de trabalho por 36 horas de folga.

Valério Aparecido dos Santos é um deles e diz ser o para-raio dos problemas. “Este é o nosso trabalho: manter a ordem no condomínio, cuidar para que tudo funcione bem, filtrar os problemas e resolvê-los da melhor forma. Só levo para o síndico o que é de extrema importância”, comenta. Entre as funções, ele coordena os funcionários do condomínio, acompanha os serviços prestados internamente, controla o nível do gás e o pH da piscina. Tudo passa por ele, que tem o comando total do prédio.

GESTÃO

Segundo Valério, a maior dificuldade é aplicar algumas normas aprovadas em assembleias, quando alguns moradores que não concordam com elas. “Quando alguém vai entrar no prédio, precisa ser identificado
. Isso toma tempo e nem todos os moradores gostam.” Ele também precisa intermediar os interesses tanto de funcionários quanto de moradores.

A síndica do Zaidal, a funcionária pública Ana Cristina Marquito, diz que só é acionada quando o problema foge da alçada do supervisor. “Seria muito difícil cuidar da gestão dos 53 apartamentos e de tudo que envolve nosso prédio. Aqui temos uma estrutura gigantesca. O Valério, assim como o outro zelador, o Renato, controlam tudo.”

Ana Cristina conta que, quando se trata de despesas de até três salários mínimos, ela tem autonomia para resolver. Para gastos de três a seis salários, existe um conselho fiscal para aprová-los. Acima disso, é preciso convocar uma assembleia. “O supervisor é meu braço direito. Ele trabalha em sintonia com nossa administradora e sempre tem três orçamentos para tudo o que precisamos”, afirma.

Lazer estruturado
Condomínios gigantes com opções de atividades recreativas exigem acompanhamento minucioso, para garantir funcionamento impecável

Com o objetivo de oferecer aos moradores atendimento diferenciado e uma série de serviços, a Patrimar adotou o conceito de Convenience Service para o Edifício The Falls. São cerca de 30 estruturas de lazer, que demandam acompanhamento. O supervisor predial vai, além de assegurar que tudo esteja funcionando, organizar a agenda e a demanda dos moradores.

O condomínio tem quase 300 unidades e vai oferecer atividades esportivas e de lazer, espaço mulher para tratamentos estéticos, quadra de tênis, sala de spinning, lan house e ateliê, entre outros
. “Tudo isso será mantido pelo supervisor predial. Não só a manutenção, como a gestão do uso. Já imaginou o síndico ter que tomar providências para um prédio com tantas opções de lazer? Teria que se dedicar exclusivamente”, comenta Lucas Guerra, diretor comercial e de marketing da Patrimar.

Com proporções grandiosas, já que terá oito torres residenciais, o Condomínio Resort Cennario, da MasbDesenvolvimento Imobiliário, tem um administrador para gerenciar todas as demandas. “As dimensões são enormes. O terreno tem 34 mil metros quadrados (m²) e entramos numa fase em que estamos entregando parte do empreendimento, enquanto outra parte ainda está em obras. Então, além de fazer funcionar o que está pronto, temos que coordenar os trabalhos para que não causem transtornos aos atuais moradores”, reflete Luiz Carlos das Chagas Quintão, administrador do condomínio.

Em sua equipe, Luiz Carlos conta com zeladores que o auxiliam no trabalho. Ao todo, serão oito torres e 620 unidades. Cada uma delas terá um sub-síndico para auxiliar nas questões específicas. “Trabalhamos não para apagar incêndio, mas para evitá-los”, diz.

Supervisor predial do Edifício Karina Barakat, Júlio César dos Santos orienta um dos porteiros do prédio - Foto: Maria tereza Corrêia/EM/D.A PressJúlio César dos Santos, supervisor do Edifício Karina Barakat, da RKM, é um exemplo de eficiência na administração do prédio. Sempre sorridente e solícito, Júlio não poupa esforços para realizar bem seu trabalho. O residencial de 28 andares e 22 apartamentos conta com cinema, academia, sauna, spa, piscina aquecida, salão de festas e espaço gourmet. Em seu escritório, equipado com computador e 16 câmeras, impressora e fax, ele fica de olho em tudo o que ocorre ao seu redor. Júlio é responsável por supervisionar todos os funcionários, organizar a área administrativa, como boletos bancários e pagamentos de condomínio, balancete, orientar a organização das festas, realizar pagamentos e compras em geral.

PROFISSIONALISMO

Segundo ele, para atuar na profissão é preciso gostar e ter muito jogo de cintura. “É complicado ter que dizer não para um morador, quando você é funcionário do prédio. Mas com jeito e um sorriso no rosto, me faço compreender. Outro cuidado é não bater boca. Se preciso for, ouço calado e, em outro momento, procuro dar minha posição ao morador”, ensina.

Júlio, que trabalha no ramo há cinco anos, fala sobre os problemas mais comuns com os quais tem que lidar. “Este mês, a conta de água passou de R$ 9 mil para R$ 19 mil. Então, comecei a investigar as possíveis causas. Trouxemos bombeiro hidráulico, pessoal especializado em piscinas, fui na Copasa. E tudo sem incomodar o síndico. Quando tiver feito tudo, vou até ele e o coloco a par das providências, como a solução apresentada e os custos. Tudo mastigadinho. Preencho até os cheques para pagamento, só levando para ele assinar.”

Mas Júlio também enfrenta dificuldade quando o trabalho é fazer com que os moradores sigam o regulamento do prédio. “Depois do uso da esteira, por exemplo, o morador deve desligá-la e tirar a tomada da parede, o que muita gente não faz. Em festas, como temos todo o aparato, é preciso fazer uma conferência antes e depois, para ver se nada foi quebrado, estragado. Muitos não gostam disso”, salienta.

Mas, com jeitinho, Júlio lida com os problemas sem desagradar a ninguém. “Conheço todo mundo pelo nome, seja morador ou funcionário. E, independentemente de problemas pessoais, aqui tenho que ser profissional e tratar todos com um sorriso.”