O consumo de gesso tem crescido ano após ano no Brasil. Um bom indicativo é o consumo de chapas para drywall, que de 2001 para 2011 apresentou um salto de mais de 300%, saindo de 11,8 milhões de metros quadrados para 39 milhões de metros quadrados. E o consumo se mantém em alta. No primeiro semestre deste ano, a Associação Brasileira de Drywall (ABD) registrou um crescimento de 10% sobre o mesmo período do ano passado.
A maior presença no canteiro de obras significa um aumento direto de resíduos de gesso. Pensando nisso, a ABD acaba de lançar o Manual de resíduos de gesso na construção civil – Coleta, armazenagem e reciclagem, que inclui todas as alterações da legislação brasileira. O objetivo é orientar as construtoras a adotar práticas corretas de coleta e armazenagem seletiva.
Toda aplicação do produto gera resíduo, seja nas vedações internas (paredes, forros e revestimentos), diretamente em paredes, como material de fundição, em placas de forro, sancas, molduras e outras peças de acabamento ou decoração. Ao contrário do que se imaginava até há bem pouco tempo, esses resíduos não são lixo, mas matéria-prima para a própria indústria de drywall e outros segmentos.
A gestão dos resíduos, da mesma forma que ocorre com outros materiais empregados nos canteiros de obras, passou a demandar atenção cada vez maior dos construtores, em razão das exigências da legislação ambiental brasileira. Uma boa gestão ambiental do canteiro de obras gera qualidade e produtividade, contribuindo para a diminuição dos acidentes de trabalho, além de reduzir os custos de produção dos empreendimentos e de destinação dos resíduos.
PROCESSO
O gesso é feito a partir da gipsita, minério que é um sulfato de cálcio bi-hidratado. Para virar o gesso, como conhecemos, a gipsita é desidratada. Na construção civil, ela recebe água novamente e se cristaliza. Esse processo pode ser repetido inúmeras vezes.
O local de armazenagem dos resíduos do gesso na obra deve ser seco. O material pode ser guardado em caixa com piso concretado ou em caçamba, desde que o local seja coberto e protegido das chuvas e outros possíveis contatos com água. Já estão em operação em vários municípios brasileiros as áreas de transbordo e triagem (ATTs), licenciadas pelas prefeituras para receber resíduos de gesso, entre outros materiais. “O desafio agora é levar essa mudança de classificação do gesso ao conhecimento das ATTs, para que aceitem e reciclem o gesso”, afirma o engenheiro.
A ATT Gramadus, em Contagem, recebe resíduos da Região Metropolitana de Belo Horizonte. De acordo com Júlio Alves Rios, diretor da ATT, há quatro anos ela recebe o gesso, mesmo antes da alteração do Conama. “Já encaminhamos mais de mil toneladas de resíduos de gesso para uma indústria cimenteira. Mas ela deixou de usar o resíduo em sua composição
Opção para economizar
Ao comprar o produto reciclado na própria região, as cimenteiras ganham, já que o gesso brasileiro é encontrado somente no Nordeste
Depois da separação de outros resíduos da construção, os restos de gesso readquirem as características químicas da gipsita. Desse modo, o material limpo pode ser utilizado novamente na cadeia produtiva. Desde o fim dos anos 1990, vêm sendo pesquisados métodos de reciclagem do gesso usado na construção civil e já se avançou de forma significativa em pelo menos três frentes de reaproveitamento desse material: na indústria de cimento, na agricultura e no próprio setor de transformação de gesso.
Na fabricação do cimento, o gesso é um ingrediente útil e necessário, sendo adicionado em pequena proporção (cerca de 5%). Ele atua como retardante de pega, ou seja, torna o cimento mais “trabalhável”. Caso contrário, endureceria muito rápido. Como há fábricas de cimento espalhadas por todo o país, sempre haverá unidades relativamente próximas às ATTs, facilitando o transporte do gesso até elas.
Segundo Carlos Roberto de Luca, engenheiro e consultor técnico da Associação Brasileira de Drywall, o uso de gesso no setor cimenteiro é particularmente econômico. “O gesso brasileiro é um dos melhores do mundo. Tem uma ótima qualidade. Mas temos um problema: ele só é encontrado no Nordeste, o que torna os custos de transporte elevados, mais caros até que o próprio gesso. Ao comprar o gesso reciclado, de ATTs mais próximas, as cimenteiras têm uma enorme economia”, explica.
APLICAÇÕES
De acordo com Carlos Roberto, os fabricantes de chapas de gesso para drywall, assim como os de placas de gesso e outros artefatos produzidos com esse material, podem reincorporar seus resíduos, em certa proporção, em seus processos industriais. Essa opção ainda é pouco utilizada na prática, mas é igualmente viável dos pontos de vista técnico e econômico, em especial quando a geração de resíduos ocorre em local próximo a essas unidades fabris.
O QUE DIZ A LEI
Embora os resíduos da construção civil não sejam incluídos no sistema de logística reversa, têm uma regulamentação específica elaborada pelo Conama que explica e determina o que pode e deve ser feito com cada tipo de resíduo. Trata-se da Resolução Conama 307, de 2002, alterada pelas resoluções 431, de 2011, e 448, de 2012. A obrigação pela destinação correta dos resíduos é de quem os gerou. Essa é a regra descrita tanto na resolução do Conama quanto na Política Nacional de Resíduos Sólidos. Ou seja, a construtora, o prestador de serviços ou até mesmo o próprio fabricante do gesso, se for ele o gerador do resíduo, será o responsável pela sua correta destinação.