Consagrado pela concepção de obras monumentais que incluem palácios, catedrais, museus e parques, Oscar Niemeyer deixou um legado importante que mostra, ao mesmo tempo, seu interesse por projetos menos grandiosos. Adepto das curvas e formas sinuosas que levaram o movimento modernista a um plano antes improvável, os traços do arquiteto também se fizeram marcantes em propostas residenciais, com liberdade e o característico tom revolucionário. Muitos dos conceitos foram o prelúdio do que surgiria algum tempo depois nos prédios públicos.
As publicações sobre o trabalho de Niemeyer são inúmeras. Lançado nos Estados Unidos há seis anos, o primeiro livro a falar apenas sobre as obras particulares do arquiteto há poucas semanas chegou ao mercado brasileiro. Com textos editados por Alan Hess e belas fotografias de Alan Weintraub, Casas foi por aqui publicado pela editora GG Brasil, comprovando o papel significativo das construções residenciais na trajetória do profissional. Construída para ser a própria moradia de Niemeyer, a Casa das Canoas, localizada no bairro de São Conrado, no Rio de Janeiro, é, entre elas, o projeto mais conhecido do arquiteto. A obra também fez com que ele fosse reconhecido internacionalmente.
A lista de residências assinadas por Oscar, porém, é maior, e os imóveis foram batizados conforme o nome dos proprietários: Juscelino Kubitschek, Cavalcanti, Francisco Pignatari, Darcy Ribeiro, Anne e Joseph Strick, Orestes Quércia. Segundo a GG Brasil, adaptados à topografia do terreno e conversando diretamente com o entorno, os projetos mostram as primeiras influências da arquitetura de Le Corbusier e Lúcio Costa, suas referências coloniais brasileiras e a evolução de seu estilo arquitetônico único, em que o arquiteto assumiu uma crescente liberdade formal fazendo uso da plasticidade do concreto armado. Muitos deles incluem painéis e jardins de nomes de peso, como Athos Bulcão e Burle Marx, tornando-se verdadeiras obras de arte, como ressalta a editora
Além destes projetos, o livro apresenta uma seleção de casas construídas de 1940 a 2005, que inclui exemplares pouco divulgados, como a Strick House, nos Estados Unidos, e a própria residência do arquiteto em Brasília, ainda de acordo com a GG Brasil, com mais de trezentas fotografias e croquis do próprio arquiteto. Com pendor para o comunismo, Niemeyer dava mais valor às construções públicas, considerando que obras coletivas são mais importantes do que as individuais. Mas, nesse terreno privado, há grande abertura para experimentar, e assim, o arquiteto construiu também seu estilo inconfundível, que valoriza a imponência do movimento curvo aplicado ao concreto.