Para a maioria da população que quer comprar a casa própria, a solução é recorrer a um financiamento. Atualmente, as linhas de crédito disponíveis nos principais bancos do país facilitam a concretização desse objetivo. Assim, conhecer as opções, taxas de juros e prazos de pagamento é fundamental para fazer a melhor escolha. De acordo com o professor de finanças da Faculdade IBS Business School/Fundação Getulio Vargas (IBS/FGV) Milcíades Morais, as linhas de crédito disponíveis mais utilizadas são a Price e o Sistema de Amortização Constante (SAC). “Quando o comprador faz a contratação do crédito imobiliário pelas instituições financeiras, normalmente é utilizado o SAC. Já em financiamento direto com a construtora é utilizada a tabela Price. As taxas de juros variam, em média, de 7,8% a 11% ao ano, para imóvel de até R$ 500 mil e o prazo de pagamento é em até 420 meses”, informa.
Como é a origem do dinheiro que define as regras do financiamento, o presidente da Associação Brasileira dos Mutuários da Habitação (ABMH), Leandro Pacifico Souza Oliveira, delimita as possibilidades de obtenção de crédito pela fonte dos recursos. “Um deles é o programa Minha casa, minha vida, do governo federal, voltado para famílias com rendimentos de até 10 salários mínimos e valor de imóvel até R$ 170 mil na cidade de Belo Horizonte.”
Outra possibilidade apontada por Leandro Pacífico é o financiamento com recursos do FGTS, que é aplicável para imóveis até R$ 500 mil. “Para esse patamar, a Caixa Econômica Federal tem as melhores taxas de juros, que variam de acordo com o valor do imóvel, da renda e do relacionamento com o banco. Pode chegar a até 6%.”
O presidente da ABMH aponta também o financiamento com recursos da poupança, utilizados pelos outros bancos que não a Caixa. “Atualmente, o mutuário deve pesquisar em vários deles e barganhar a taxa de juros
Há, ainda, o financiamento com recursos próprios do banco, que geralmente é feito para imóveis mais caros e têm taxa de juros mais elevada, em torno de 10%. “De qualquer forma, é importante lembrar que o mutuário deve ficar atento ao Custo Efetivo Total (CET) da operação. Muitos bancos fazem propaganda focando a taxa de juros praticada, contudo, suas taxas de administração do contrato e o seguro são mais caros que nas outras instituições. Assim, ao comparar, o mutuário deve questionar também sobre o CET”, orienta o presidente da ABMH.
Ao comprar seu imóvel, as linhas de crédito disponíveis não foram a primeira preocupação do representante de vendas Heleno Martins de Resende, que se concentrou na escolha de um imóvel de acordo com suas necessidades. “Durante essa fase de pesquisa, estive em várias imobiliárias, e entre uma visita e outra é que realizaram uma análise prévia da minha condição financeira e me apresentaram o meu cenário de financiamento pelo próprio site, que, no meu caso, foi da Caixa. Assim, foi me dado um norte a respeito disso.”
O que vale mais a pena
Prazos de pagamento e taxas de juros são apenas alguns dos itens a serem avaliados na busca pela linha de crédito mais adequada a cada perfil para a compra da casa própria
Apesar de não ter buscado informações sobre linhas de crédito antes de sair à procura pelo imóvel ideal, o representante de vendas Heleno Resende destaca a importância de pesquisar o assunto e até mesmo contar com assessoria especializada. “O próprio banco busca informar o comprador, mas, é claro, um pouco de conhecimento contribuiu para evitar problemas. Nesse ponto, a imobiliária me ajudou muito. Acho que até mais do que seria com um advogado”, diz.
Essa assessoria o ajudou a recorrer ao Fundo Garantidor da Habitação Popular (FGHab), cujos recursos são utilizados como garantia para o agente financeiro em contratos de financiamento habitacional para pessoa física, enquadrados no âmbito do Sistema Financeiro da Habitação, Conselho Curador do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço e programa Minha casa, minha vida (SFH-CCFGTS-PMCMV). “Milcíades Morais explica que, nesse sistema, as prestações iniciais são mais altas, mas as amortizações do saldo devedor são constantes
“Como as prestações são constantes ao longo do financiamento, a parte que cabe à amortização aumenta, enquanto o saldo devedor do juro diminui. Ou seja, nas primeiras parcelas o valor maior será correspondente ao juro e o restante será referente ao montante emprestado”, explica Milcíades.
O presidente da Associação Brasileira dos Mutuários da Habitação (ABMH), Leandro Pacífico, explica que, na tabela Price, a prestação no início é menor. Contudo, o valor pago a título de juros é bem maior do que o pago pelo sistema SAC. “No SAC, apesar de a parcela inicial ser mais alta, o valor de juros pagos ao longo do contrato é menor. Mas, ao contrário do que pregam as instituições financeiras, essa redução não será tão significativa, tendo em vista a correção monetária mensal do saldo devedor.”
Para ajudar a financiar o primeiro imóvel, o interessado pode recorrer ao uso do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), que pode ser utilizado por quem trabalha há mais de três anos sob esse sistema de recolhimento. Conforme Morais, o recurso pode ser usado para pagamento parcial ou total do preço do imóvel. “Ele pode ser aplicado, também, para pagamentos mensais de parte das prestações, desde que atendidas as exigências do SFH e do FGTS.”
APROVAÇÃO DO CRÉDITO
Concluída a avaliação, o professor diz que a instituição fará as análises finais e a agência providenciará o contrato para assinaturas do vendedor e comprador. “O prazo médio para a contratação é em torno de 45 dias e, caso haja utilização do FGTS, poderá ser prorrogado. Assinado o contrato, o comprador deverá pagar o Imposto de Transmissão de Imóveis (ITBI) para o registro do contrato no cartório de imóveis.”
Depois de efetuar o pagamento, é preciso realizar todos os trâmites necessários no cartório da região, que devolverá o contrato registrado em um prazo de sete a 10 dias, de acordo com Morais. “O contrato deverá ser entregue em sua agência, juntamente com a matrícula original – que consta no registro da garantia –, a cópia da alienação fiduciária e a cópia da guia quitada do ITBI para que haja a liberação do valor financiado ao vendedor. Além do ITBI, o comprador terá de pagar taxas de escrituração, de registro e cartório. O ideal é separar 5% do valor do imóvel para cobrir esses custos.”
Fique de olho
Documentação do comprador:
» Certidão de nascimento ou casamento
» Certidão conjunta negativa ou positiva com efeito de negativa de débitos relativa
a tributos federais e dívida ativa da União (www.receita.fazenda.gov.br)
» Declaração de Imposto de Renda e Recibo de Entrega
» Carteira de trabalho
» Último contracheque
» Extrato da conta vinculada do FGTS
» Declaração do empregador
» Solicitação de movimentação de conta vinculada ao FGTS
» Declaração negativa de propriedade do imóvel
» Declaração de isenção de Imposto de Renda
» Contracheque que contenha o local da ocupação principal/local onde trabalha atualmente ou declaração do empregador
» Comprovante de residência de que mora no imóvel há, pelo menos, um ano, com vencimento no mesmo mês
» Formal de partilha devidamente registrado, se for o caso
» Autorização de débito
» Requerimento para débito em conta
Fonte: Associação Brasileira de Mutuários da Habitação (ABMH)
Demonstrativo de financiamento tendo por base as tabelas Price e SAC
» Valor do financiamento: R$ 50 mil
» Período: 50 meses
» Taxa de juros: 1% ao mês
Financiamento Price
Valor da parcela: R$ 1.275,64
Total de juros: R$ 13.781,77
Total pago: R$ 63.781,77
Financiamento SAC
Valor da 1ª parcela: R$ 1.500
Valor da 50ª parcela: R$ 1.010
Total de juros: R$ 12.750
Total pago: R$ 62.750