No centro do trabalho da fotógrafa inglesa Gina Soden, está o percurso por estruturas e locais abandonados. No projeto batizado de Retrogression – The Art of Dereliction (Retrocesso – A arte do abandono, na tradução para o português), ela criou uma série de imagens que capturou durante dois anos em viagens por lugares não revelados na Europa. Mostrando edifícios em ruínas que foram esquecidos há pelo menos 30 anos, as fotografias experimentam as fronteiras da beleza, da decadência, da nostalgia e da negligência. A gênese de cada obra é predominantemente o caráter arquitetônico único de cada cenário, agravado pela transformação dolorosamente lenta após anos de abandono.
Ao invés de tomar uma abordagem documental, Soden leva às cenas retratadas um sentimento de vida, insinuando uma narrativa singular que se constrói a partir de composições muito bem planejadas. Cada imagem carrega, por si só, uma estética pictórica que, muito além do que se observa literalmente nas fotos, transmite uma significância lírica. Está ali, em proposta, um argumento sobre o caráter transitório e frágil das coisas.
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Direcionando o espectador a explorar conceitos como tempo e memória, as composições passam por asilos, casas de repouso, escolas, mansões, campus militares e estações elétricas, todos retratos de diferentes estágios de decomposição. O resultado é impressionante e comovente, despertando a emoção do olhar observador, que vai da aflição à nostalgia, salientando os efeitos da passagem do tempo. Apesar da sensação de colapso e devastação, a fotógrafa, na verdade, evoca uma reflexão estendida sobre noções mais românticas da beleza, que engloba também um tom de calma e inércia, contrariamente a uma certa melancolia que poderia surgir daí.
Com uma estética contemporânea, as fotos ganham formas de pintura, cheias de poesia e contradições. Geralmente desconhecidas, as locações destacadas estão longe de áreas urbanas e mostram, através do registro da arquitetura em decadência, que nada é eterno
Durante a produção do projeto, Gina adentrou sem autorização em vários terrenos em que ficam essas ruínas, mesmo que isso pudesse representar um risco. Nos dois anos de viagem, ela não encontrou luxo ou conforto e, quem sabe exatamente por esse motivo, tenha alcançado um ponto de vista privilegiado sobre a beleza do que já está gasto.