Uma música soberana, cenários esmerados e imponentes, figurinos irretocáveis, e um tom de dramaticidade preponderante. Quem vai ao teatro assistir a uma grande ópera geralmente se depara com estes elementos, que caracterizam mais comumente este tipo de manifestação artística. Abrindo um novo ponto de vista sobre essas opulentas apresentações, um fotógrafo registrou este universo a partir do olhar observador do artista que está em cima do palco. No trabalho batizado Opera, David Leventi eleva ao patamar de ator principal, em imagens, um pormenor antes mais considerado um coadjuvante. Não as pessoas, nem a performance – nas óperas mostradas nas fotos, a arquitetura assume o papel central. E esta perspectiva se torna, certamente, tão profunda quanto as outras.
Em 2007, quando Leventi fotografou, em Bucareste, na Romênia, o Ateneu Romeno, o projeto começou quase que por obra do destino. Um detalhe é que esta é a única imagem que parte do fundo dos espectadores, e não pelo palco. Foi assim que o fotógrafo resolveu procurar e revelar esses locais magníficos. Na série, eles aparecem ecoando o vazio pujante da ópera antes ou depois de acontecer, quando a plateia não preenche seu lugar e os atores não estão em cena. Em destaque, apenas o esplendor arquitetônico pomposo dos teatros.
Ao mesmo tempo em que realizava o projeto, Leventi continuava a percorrer um velho sonho de seu avô. Anton Gutman, propriamente dito, foi um célebre tenor dinamarquês que figurava por muitas vezes entre os artistas que atuavam nas grandes Óperas do Estado em Berlim e Viena
Sem o auxílio de iluminação apropriada, além das já existentes nos teatros, e sem nenhum equipamento especial, a não ser uma antiga câmera 8x10, o fotógrafo apoiava a máquina exatamente no centro do palco, e iniciou um processo sistemático e incansável que gerou cliques incontáveis. Os registros de Leventi, documentos sobre a beleza epopéica da ópera também sobre o tablado, já alcançaram espaços históricos e consagrados pelo mundo, como o Teatro alla Scala de Milão, o Real Teatro di San Carlo em Nápoles e um dos mais antigos, o Palais Garnier em Paris.