“O que notamos é que hoje há uma carência de imóveis com área de lazer. O que temos são apartamentos muito restritos à condição de dormitório”, reconhece Henrique Moreira, diretor da Toninho Imóveis/Netimóveis Contagem. Atualmente, a maioria dos apartamentos à venda na cidade está limitada a áreas menores, com prédios de três a quatro pavimentos, dois a três quartos e uma vaga na garagem, quando muito, duas. “Em grandes áreas, onde se justificariam construções com área de lazer, foram construídos condomínios populares que têm como enfoque o baixo custo.”
A estimativa do mercado é de que a destinação de espaço para quadra, piscina e outras vantagens que contemplem a qualidade de vida elevem em cerca de 5% o preço do imóvel. A gerente de vendas da Wilma Netimóveis Contagem, Isabel Oliveira, calcula que a diferença entre aqueles que têm e os que não têm itens de lazer pode variar de R$ 2 mil a R$ 20 mil. “Se houver área gourmet, quadra e espaço verde, o valor tende a subir. Vai depender da quantidade de serviços oferecidos.”
Apesar do receio das construtoras menores, focadas geralmente no mercado de baixa renda, de que esse percentual possa ser um fator de perda de competitividade, as imobiliárias garantem que muitos clientes estão dispostos a bancar os custos mais altos. “Essa hoje é a grande oportunidade de negócio. Atualmente, não tenho nenhum apartamento em prédio individual que tenha essa característica, mas se tivesse, não levaria nem 30 dias para vender”, afirma Isabel.
NOVO CLIENTE
Grandes construtoras deram os primeiros passos no sentido de oferecer opções de condomínios com esse conceito de lazer, a exemplo da MRV Engenharia, que lançou recentemente o Parque Fontana de Biasca, e a Direcional Engenharia, que apresentou no ano passado o Condomínio Oásis. Lançamentos com esse diferencial começaram a chamar a atenção dos clientes. “Acreditamos que muitas outras construtoras virão com esse enfoque na área de lazer e na qualidade de vida. E é isso que o mercado quer”, reconhece Henrique Moreira.
Cliente-alvo determina os serviços oferecidos
Construtoras querem atender mercado em expansão e é o perfil do possível comprador e o do bairro onde está localizado o empreendimento que vão definir os "itens a mais" do projeto
Grandes construtoras são pioneiras na apresentação de projetos que integram quadra poliesportiva, churrasqueira, piscina, espaço fitness e área gourmet e atiçam o interesse das menores em seguir o mesmo caminho. A MRV integra um grupo ainda pequeno de empresas que valorizam oferta desse serviço e não abre mão de variedade mesmo em empreendimentos destinados à classe média baixa. “Acreditamos que isso é um diferencial que impulsiona as vendas e faz com que o cliente opte pela MRV”, diz o diretor comercial e de marketing da construtora mineira, Rodrigo Resende.
Na construtora AP Ponto, até imóveis enquadrados no programa Minha casa, minha vida – com valor limite de R$ 145 mil – estão sendo contemplados com algum serviço de bem-estar, mesmo que seja mínimo, como espaço fitness, área gourmet, playground e área de convivência. “Atualmente, nenhum empreendimento nosso sai sem algum elemento básico de entretenimento. Nos mais novos, em fase de lançamento, ainda incluímos salão de festas e quadra”, afirma a coordenadora de marketing da AP Ponto, Júlia Hubner.
Com dois lançamentos previstos até o final do ano, a AP Ponto faz uma avaliação minuciosa do mercado para determinar os itens de lazer adequados ao público-alvo. “Observamos o tamanho do terreno e os clientes potenciais e, a partir daí, escolhemos a área de lazer que será contemplada no projeto. Pensamos que se o terreno é menor e colocamos uma piscina, por exemplo, o custo de manutenção vai onerar muito o condomínio”, observa Júlia.
Sem contar que cada item adicionado amplia o custo da obra, gasto que fatalmente será repassado para o consumidor final na hora da venda. “Como os empreendimentos que lançamos são muito grandes, o impacto no valor final é reduzido, ficando entre 3% e 5% do valor do imóvel”, calcula Júlia. Mesmo considerando a pequena diferença, essa tem sido uma das razões para que muitas empresas ainda não se prontifiquem a incluir o diferencial nos projetos de engenharia.
Terrenos são condição para bons negócios
A Construtora Dez, há quase sete anos no mercado de Contagem, ainda não tem nenhum empreendimento com as características que valorizam a qualidade de vida, lazer e bem-estar. “Para contemplar esses itens, temos que ter acesso a terrenos grandes que justifiquem o investimento. Mas hoje há uma dificuldade de encontrar áreas que tragam essa viabilidade, principalmente pelo aumento dos preços dos terrenos”, reconhece o diretor comercial da Construtora Dez, Luís Gustavo Fonseca.
Isso não significa que a empresa tenha descartado completamente a possibilidade de ampliar a oferta do produto, ainda escasso na cidade. “Estamos fazendo um estudo detalhado de viabilidade de um prédio com essas características. Mas tem que ser uma área que se encaixe nesse perfil”, antecipa Luís Gustavo, sem dar muitos detalhes. A expectativa é de que o imóvel tenha mais de três quartos e que atinja um público mais familiar e com filhos, que exigem esse tipo de benefício. “Nosso maior cliente está em busca do primeiro imóvel e, por isso, na maioria das vezes, não faz essa exigência”, admite.
DE OLHO NO MERCADO