Contagem acompanha esse ritmo do país. São poucas as construtoras que apostam em uma construção acessível. Segundo o vice-presidente da Rede Netimóveis Contagem, Leandro Alves Barroso, as empresas do ramo na cidade estão seguindo as normas municipais de acessibilidade. “Aqui é obrigatório, por exemplo, elevadores em prédios acima de quatro andares. Mas, fora isso, ainda há um atraso nesse assunto”, critica.
Há atualmente no país muitas legislações voltadas para o assunto, que estão em vigor há pelo menos uma década. Para Heloísa Negri Vieira Viana, coordenadora do Grupo de Trabalho de Acessibilidade do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Minas Gerais (Crea-MG), o grande problema é que as normas, na maioria dos casos, não estão sendo cumpridas. “A lei de acessibilidade é federal, a NB 9050, e está valendo desde 2004.” Naquele ano, houve a publicação do Decreto 5.296/2004, que regularizou todas as outras já existentes e estabeleceu normas gerais e critérios básicos para a promoção dos portadores de deficiência ou com mobilidade reduzida
Ela comenta ainda que, tanto em imóveis públicos ou privados, o problema é visível. “No caso dos prédios residenciais, qualquer pessoa tem o direito de chegar a um apartamento, seja por elevador, rampa ou corredor. Mas, dentro das casas, a lei não se aplica. Não se vê, por exemplo, imóveis com portas grandes, pela qual qualquer cadeirante não tenha dificuldades para passar. Muitos construtores acham que as adaptações podem aumentar custos, porém, o que se gasta com a acessibilidade é 1% do total da obra.
SHOPPINGS
Em Contagem, o ItaúPower Shopping, construído em 2007, firmou um termo de ajustamento com o Ministério Público Estadual e, nos anos seguintes, teve que refinar sua estrutura para se adequar às normas. “As regras evoluem ao longo do tempo e o ItaúPower Shopping teve o interesse de se adequar”, comenta o gerente de operações do Itaú, Roberto Henriques. Inaugurado em novembro de 2013, o Shopping Contagem diz atender todas normas. “Nossas entradas têm rampas, sinalização direcional e sinalização de perigo; os elevadores têm leitores em braile e comunicador interno; além disso, os banheiros contam com cabines individuais destinadas a deficientes e pessoas com mobilidade reduzida. O estacionamento tem vagas demarcadas para deficientes e para idosos”, diz o superintendente Eduardo Zucarel.
Oportunidade de negócios
Pensar em imóveis com melhor acessibilidade não deve ser apenas para cumprir a norma federal, mas uma preocupação do empreendedor em beneficiar um maior número de pessoas
No ano passado, conforme o vice-presidente da Rede Netimóveis Contagem, Leandro Barroso, um cliente cadeirante procurou a rede para comprar uma casa em Contagem que pudesse ser adaptável à sua condição. “Buscamos um imóvel para o qual as adaptações não teriam um custo tão alto”, lembra. É nesse cenário que Leandro acredita que se uma construtora abraçar a causa vai atender uma demanda grande. “Muitos que precisam dessas facilidades serão atraídos a esses imóveis. É uma boa oportunidade de negócio”, diz.
Na opinião de Ronchetti, a melhor acessibilidade está aumentando de forma gradativa, pois além de ser uma obrigação legal, “é uma ótima estratégia comercial para atrair uma grande fatia de consumidores, de mais de 45 milhões de pessoas no país.” Isso sem contar os atuais e futuros idosos. “O custo presente desde a elaboração do projeto é pouco se comparado com o valor das adaptações feitas no imóvel pronto”, observa.
Segundo a gestora de projetos da MRV Engenharia, Juliana Lopes, as normas variam entre as prefeituras. “Muitas não fazem nem menção a isso. É preciso considerar que a pessoa com deficiência pode não ser o morador, um parente ou visita ao imóvel. Então, as construções devem atender isso.” Para ela, o Brasil está engatinhando nesse tema. “Há muitas prefeituras focadas só no cadeirante, mas temos que pensar que há pessoas com problemas de visão, audição também.”
Governo dá exemplo
Desde 2012, o governo federal exige que todas as moradias do programa Minha casa, minha vida sigam um padrão de acessibilidade para pessoas com deficiência. Entre as exigências estão a instalação de portas com no mínimo 80cm de largura, maçanetas de alavanca, largura mínima dos banheiros de 1,5m e área de transferência para acesso ao vaso sanitário e ao box com previsão para instalação de barras de apoio e banco articulado. O programa exige também que interfones, interruptores e tomadas devam ser instalados a uma altura de 1m, para permitir o acionamento por cadeirantes.
O BÁSICO DO BÁSICO
Alguns cuidados básicos na hora de planejar o projeto do imóvel podem fazer a diferença quanto à questão da acessibilidade. Confira alguns pontos a serem observados:
Rampas - Em muitos edifícios, a fim de atender a legislação que prevê a instalação de elevadores ou rampas de acesso, muitos optam pelas rampas, construindo-as fora das normas da ABNT. Conclusão: os deficientes, muitas vezes, não têm força para vencer o percurso: ou é extenso demais, ou muito íngreme. As normas especificam um declíve de no máximo 8% e quando for longa, que haja locais para descanso. Rampas de ruas, de acesso às calçadas, devem estar devidamente desobstruídas de carros ou ambulantes. Para evitar maiores transtornas, a orientação é para que se opte pela instalação de elevadores ou plataformas de acessibilidade, dentro das exigências da ABNT.
Sinalização - Além das barreiras arquitetônicas, os deficientes, como os cegos, sofrem com o problema de comunicação. Elevadores mais antigos, por exemplo, não têm gravados nos botões o sistema braile. Isso dificulta ou impede que uma pessoa com deficiência visual tenha acesso sozinha ao andar desejado. No procedimento de reforma ou modernização dos equipamentosé preciso trocar painéis antigos pelos adequados.
Portas e banheiros - Outro erro comum é o do tamanho das portas e do planejamento dos banheiros.
A orientação é para que as portas tenham a largura adequada para a passagem de cadeirantes, além do cuidado com a altura de pias e vasos sanitários.
Barras de segurança e apoio - Devem ser instaladas em rampas, escadas e em banheiros de uso comum de um edifício (perto do vaso sanitário).