Lugarcerto

O planeta agradece

Possibilidade de faltar água estimula sistemas de reuso e outras formas para economizar

A construção civil é um dos setores que devem contribuir para uma utilização mais consciente deste recurso natural, pensando em projetos que incentivam a gastar menos

Celina Aquino
- Foto: SXC.hu/Banco de Imagens
A falta de água na cidade de São Paulo e no interior de Minas acende o alerta em todo o Brasil: o que é possível fazer para economizar o recurso natural indispensável para viver? A construção civil é um dos setores que devem contribuir para uma utilização mais consciente, pensando em projetos que incentivam a gastar menos. O sistema de reuso de água torna-se mais uma solução para reduzir o consumo.

A engenheira civil Sibylle Muller trouxe há 13 anos um novo sistema da Alemanha. A água dos lavatórios é recolhida em uma tubulação separada e passa por uma estação de tratamento antes de ser direcionada a pontos de descarga, lavagem de áreas comuns, irrigação de jardim e sistema de ar-condicionado, tudo dentro do empreendimento. Normalmente, a central fica instalada no último subsolo do prédio, seja na sala de máquinas ou embaixo da rampa de acesso de veículos.

- Foto: Ilustração/LelisOs próprios micro-organismos da água participam do processo de tratamento, que termina com a adição de cloro. “A água é de boa qualidade, mas para ser considerada potável tem que atender a requisitos mais severos. Para ser usada em descarga de banheiro, por exemplo, não precisa ter grau de pureza, pois vai ser imediatamente contaminada”, destaca a diretora da AcquaBrasilis. Sibylle só não recomenda beber a água reutilizada.

O sistema resulta em redução de gastos para o condomínio e garante mais disponibilidade de água. De acordo com a engenheira civil, a economia depende do perfil de consumo de cada empreendimento e da quantidade de pontos que podem receber o conteúdo vindo da central de tratamento. Em teoria, é possível gastar de 40% a 70% menos. Sibylle acrescenta que os prédios conseguem ter o retorno do investimento em até dois anos e começam a pagar um valor mais baixo pela conta de água, um dos itens mais pesados da taxa de condomínio. Ainda existe a possibilidade de acrescentar o aproveitamento de água da chuva, sistema mais simples, para aumentar a economia
. “O mercado ainda é muito incipiente no Brasil, mas a possibilidade de que a água potável pode faltar se tornou realidade”, diz.

GARANTIA DE QUALIDADE

Para expandir no país o uso de água reutilizada, a diretora da AcquaBrasilis acredita ser urgente criar uma legislação para garantir requisitos mínimos de qualidade. “Isso é importante porque o sistema cria uma certa insegurança nas pessoas. Além disso, ficamos sujeitos a empresas não idôneas no mercado e não sabemos qual a qualidade da água que será fornecida”, avalia Sibylle.
- Foto: SXC.hu/Banco de Imagens A RKM Engenharia deve lançar no fim do ano o primeiro empreendimento com sistema de reaproveitamento de água. Até então, os equipamentos eram muito caros e exigiam altos gastos com manutenção, o que poderia desestimular o uso. Em estudos recentes, a empresa concluiu que o sistema é viável em condomínios maiores. O Edifício Kadosh, que será erguido no Vale do Sereno, em Nova Lima, terá 86 unidades. “Quem trabalha na construção civil deve ter consciência de que precisa cuidar do planeta. Por outro lado, apesar de o cliente ainda não reconhecer o sistema como argumento de venda, ele dá mais credibilidade à marca, principalmente quando vai comprar apartamento na planta”, comenta a diretora comercial e de relacionamento do Grupo RKM, Adriana Bordalo.

O sistema foi pensado desde a concepção do projeto arquitetônico do Edifício Kadosh para que os espaços dos equipamentos e das tubulações diferenciadas fossem previstos com antecedência. Mas, na opinião de Adriana, o reaproveitamento não deve ser a única solução para economizar água. Ela lembra a importância de reduzir o consumo durante as obras e utilizar outras tecnologias na construção, como vaso com descarga acoplada e automação da irrigação de jardins
. Além disso, tanto moradores quanto quem trabalha nos prédios deve pensar em um uso mais consciente da água.