Há cerca de 30 anos, quando o conceito surgiu em Belo Horizonte, comprar imóvel em um condomínio fechado era um luxo reservado a poucos. No início, a modalidade povoou primeiramente a Região Centro-Sul da capital, mas aos poucos difundiu-se para cidades vizinhas, como Nova Lima, Brumadinho e outras regiões da Grande BH. A partir desta migração para outras áreas e após o fenômeno conhecido como boom imobiliário, o que era inacessível transformou-se em opção para a classe média. “Hoje, comprar uma casa em um condomínio fechado é mais barato que investir em uma casa igual dentro da cidade”, garante o vice-presidente da área das loteadoras da Câmara do Mercado Imobiliário (CMI/Secovi-MG), Leonardo de Bessas Matos.
Entre 2008 e 2011, o mercado imobiliário em Belo Horizonte viveu sua 'era de ouro'. De acordo com a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), a valorização dos imóveis nesta época chegou a 30% ao ano. Os altos preços aliados à carência de áreas disponíveis para construção fez com que os condomínios fechados, antes concentrados na Região Centro-Sul da capital, migrasse para outros bairros e também para a região metropolitana. “Um lote de mil ou dois mil metros quadrados em Belo Horizonte é muito caro. Em um condomínio construído em uma cidade vizinha, a pessoa consegue ter sua casa dos sonhos”, garante Matos.
A fim de confirmar esta nova tendência do mercado imobiliário, a reportagem realizou buscas por imóveis dentro da cidade e em regiões mais afastadas. No Bairro Cidade Nova, uma casa com dois quartos, um banheiro, sala e cozinha é vendida por R$ 650 mil. A área possui 400 metros quadrados, mas nenhuma benfeitoria. Por até R$ 400 mil a menos, é possível morar mais distante do grande centro, mas com mais conforto
No Bairro Cabral, em Contagem, um apartamento de dois quartos, com vaga de garagem, piscinas adulto e infantil, salão de festas, espaço fitness, espaço gourmet, salão de jogos, playground e sauna sai por menos de R$ 180 mil. Dentro da cidade, no Bairro Eldorado, uma casa com 43 metros quadrados, dois quartos, sala, um banheiro e uma vaga de garagem é vendida a R$ 250 mil. Segundo Matos, essa diferença nos preços ocorre porque nem sempre as áreas onde são construídos os condomínios contam com infraestrutura urbana. “Mesmo com o acesso viário e transportes melhores, há carência de comércio, trabalho, escolas, hospitais, lazer, etc”, afirma. Assim, é preciso ter consciência de que apesar dos preços serem mais em conta, a maioria das regiões ainda estão em fase de crescimento e, por isso, antes de optar pela compra é necessário analisar se o acesso ao trabalho e as tarefas do dia a dia poderá ser facilitado.
Em 2010, o analista de sistemas Fernando de Souza Faria, de 31 anos, decidiu comprar um apartamento em um condomínio fechado de Contagem. Ele confessa que antes de optar pelo imóvel, pesquisou outras opções em vários bairros da cidade - todas muito caras. “Tinha um apartamento de dois quartos, 60 metros quadrados e uma vaga de garagem descoberta por R$ 200 mil”, conta
Na época em que Fernando realizou a compra, o local ainda estava em crescimento, com algumas casas construídas e comércio florescendo. Ele não contava com a sorte da construção de um shopping próximo ao condomínio fechado, que, além de valorizar seu imóvel, trouxe inúmeras benfeitorias, como melhorias no acesso, movimentação e coleta de lixo. “Melhorou muito a infraestrutura do lugar. Melhorou a questão da mobilidade urbana, do trânsito. Antigamente não passava caminhão de lixo, agora passa. Além disso, com o shopping, ficou mais fácil ir ao supermercado, à drogaria, à praça de alimentação”, conta.
Para Leonardo Matos, a distância da casa ao trabalho, à escola dos filhos, a lugares e serviços essenciais do dia a dia, são quesitos que precisam ser exaustivamente analisados, para não haver arrependimento. “A escolha pela região onde comprar o lote ou a casa é pessoal, depende do estilo de vida de cada um, mas passa por questões como o acesso ao trabalho, por exemplo”, explica. Para ele, não justifica investir no local como primeira moradia, se a infraestrutura ao redor não atender às necessidades rotineiras do comprador.
No caso de Fernando, a escolha foi acertada. “Eu não quero morar no centro. Não acho que a pessoa tem uma qualidade de vida boa. Gosto de sair para passear de bicicleta com a minha filha e aqui tenho tranquilidade para fazer isso. Quem procura qualidade de vida e praticidade, vale a pena”, conclui.