Lugarcerto

Prática deve ser acompanhada

Opinião: as pipas e a rede elétrica

O cerol e a linha chilena podem causar acidentes graves. Em 2016 essa brincadeira já foi responsável por 851 ocorrências de interrupção no fornecimento de energia elétrica, prejudicando 280 mil consumidores

Estado de Minas
Nesta época do ano em que os ventos são mais intensos, as pipas invadem os céus e fazem a diversão das crianças em todas as partes do país
. Contudo, essa prática tem que ser acompanhada de perto pelos pais e responsáveis para não gerar prejuízos nem trazer riscos à segurança da população. Este ano, essa brincadeira já foi responsável por 851 ocorrências de interrupção no fornecimento de energia elétrica, que prejudicaram cerca de 280 mil consumidores, conforme levantamento da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig).

Apenas nos primeiros cinco meses do ano, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), foram registrados 372 desligamentos provocados por pipas na rede elétrica.

O uso do cerol – mistura cortante feita com cola, vidro e restos de materiais condutores – é um dos principais causadores dos desligamentos, causando o rompimento dos cabos de energia, atuando como se fosse uma lâmina serrilhada, quando entra em contato com a rede elétrica. Além disso, muitos curtos-circuitos e choques elétricos são provocados pela tentativa de retirada de papagaios presos aos cabos.

Contudo, nos últimos anos, um tipo de linha cortante feita em escala industrial, chamado de "linha chilena", mais refinada e com materiais mais abrasivos que o cerol, vem agravando os problemas e os riscos. Esse tipo de material é muito mais perigoso do que o cerol comum, e infelizmente é possível adquiri-lo no mercado paralelo e até pela internet.

O cerol e a "linha chilena" podem causar acidentes graves com as pessoas que os manipulam e também ocasionar acidentes com terceiros, especialmente motociclistas. Vale ressaltar que a Lei estadual 14.349/2002 proíbe o uso de cerol ou de qualquer outro tipo de material cortante nas linhas de pipas, de papagaios, de pandorgas e de semelhantes artefatos lúdicos, para recreação ou com finalidade publicitária, em todo o território do estado de Minas Gerais.

A maioria dos acidentes acontece quando o papagaio fica preso na rede elétrica e as crianças tentam retirá-lo, utilizando materiais condutores como pedaços de madeira ou barras metálicas. O contato com a rede elétrica pode ser fatal, além do risco de queda em função da reação involuntária causada pelo choque elétrico. Nesses casos, as consequências mais comuns são traumatismos causados pelas quedas e queimaduras graves causadas por choques.

Além disso, muitas crianças amarram as pipas com arames e fios. Isso é um grande perigo, uma vez que esses materiais são altamente condutores de energia e acabam sendo energizados quando tocam os cabos. O uso do cerol pode, ainda, transformar uma simples linha de papagaio em um material condutor e provocar choque elétrico ao entrar em contato com a rede.

Alguns procedimentos devem ser adotados para que não haja risco à segurança nem ocorram interrupções no fornecimento de energia com a prática da brincadeira. As pipas devem ser empinadas em locais abertos e afastados da rede elétrica
. Jamais use fios metálicos ou cerol e, caso a pipa fique presa, não tente resgatá-la.

Por isso, é fundamental que os pais fiquem atentos e supervisionem as crianças para evitar acidentes entre as crianças ou terceiros, além de prejuízos em relação à rede elétrica.

Demetrio Venicio Aguiar, Engenheiro eletricista da Cemig
**Artigo publicado na seção Opinião do Jornal Estado de Minas de 11/8/2016