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O futuro chegou

Braços robóticos, impressoras 3D e drones começam a tomar os canteiros de obras

Setor da construção civil deverá passar por transformações importantes nos próximos anos, com a utilização de recursos tecnológicos que diminuem custo e duração da obra

Gustavo Perucci
O projeto da InovaHouse3D começou com uma simples impressora 3D que fazia objetos plásticos - Foto: InovaHouse3D/Divulgação
O setor da construção civil é um dos maiores incentivadores de pesquisas e avanços tecnológicos na história da humanidade. Das simples polias às gigantescas e modernas tuneladoras, o futuro passa pelos canteiros de obra de todo o mundo. O conceito de engenharia existe desde a Antiguidade, a partir do momento em que o ser humano desenvolveu invenções fundamentais como a alavanca e a roda. Entre tendências de materiais e técnicas construtivas, várias iniciativas apresentam novas formas e conceitos no segmento, visando à redução de custos, agilidade, aproveitamento mais eficiente de materiais e sustentabilidade.

Mas, o que o futuro nos reserva? Esse foi um dos assuntos abordados no Fórum Megatendências, parte da Minascon 2016, maior feira da cadeia produtiva da construção mineira, promovida pela Câmara da Indústria da Construção da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (CIC-Fiemg). Em sua 13ª edição, o evento aposta em alternativas sustentáveis e viáveis para o setor. Um dos destaques foi o painel “Fabricação digital: robótica na construção civil”, que contou com a presença do CEO da Rede Brasileira de Fabricação Digital (RBFD) e professor na Escola de Arquitetura da Universidade Internacional da Catalunha (UIC) e no Instituto Europeu de Design (IED), ambos em Barcelona, na Espanha, Affonso Orciuoli; da professora da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Campinas (FEC-Unicamp) Gabriela Celani; e do professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (FAU-UFRJ) Gonçalo Castro.

Orciuoli acredita que três tecnologias vão, aos poucos, tomar os canteiros de obra do Brasil e do mundo: braços robóticos, impressoras 3D de grande escala e os populares drones. “A impressão 3D está entrando com muita força no setor. Mas também temos a robótica – não um robô como vemos nos filmes, mas o braço robótico, como na indústria automotiva –, e os drones, que podem pegar um tijolo, levar para o alto do prédio e assentá-lo no lugar. São os três principais recursos que começam a ser utilizados no setor”, analisa.

Estande da startup brasileira InovaHouse3D, na Construction Summit 2016. CEO Juliana Martinelli apresenta o produto - Foto: InovaHouse3D/DivulgaçãoMesmo ainda pouco utilizados, países mais desenvolvidos já presenciam o uso desses novos recursos. Orciuoli acredita que os empresários do setor no Brasil são muito conservadores, mas vê um crescente interesse na área. O arquiteto afirma que, com a evolução e uso dessas tecnologias, a construção civil vai apresentar mudanças importantes
. “Brinco que robô não pede aumento, não fica doente, não falta ao trabalho depois de comemorar um título do Atlético... Mas, fora a brincadeira, isso vai ter um impacto grande na construção civil. Ainda não é tão utilizado, mas são tendências que, com certeza, vão ganhar espaço. Vai haver uma diminuição da mão de obra que trabalha com construção civil, assim como uma mudança de perfil desse trabalhador, que será mais parecido com o de um programador”, aponta.

PRECISÃO Além das vantagens de redução de custo, agilidade na construção e melhor aproveitamento de materiais, outro importante fator a favor da tecnologia é a precisão. “O braço robótico pode fazer qualquer ação que um braço humano faz. Consegue assentar um porcelanato, por exemplo, na parede, tranquilamente. Com uma precisão que nem mesmo o melhor dos pedreiros consegue”, completa.

Empresa chinesa Winsun New Materials chamou a atenção do mundo inteiro com a técnica que imprime 10 casas em 24 horas - Foto: Winsum/DivulgaçãoE o uso da robótica nos canteiros de obra está cada vez mais próximoda realidade. São muitas as iniciativas que apostam na utilização de impressoras 3D para a construção. Há pouco mais de um ano, a empresa chinesa Winsun New Materials chamou a atenção do mundo inteiro com a técnica desenvolvida que imprime 10 casas em 24 horas. Além do preço construtivo baixo, à época da apresentação do projeto na faixa de US$ 4.800, a companhia utiliza concreto reciclado.

Inspirados por esse projeto, um grupo de estudantes da Universidade de Brasília (UNB) criou a startup InovaHouse3D
. Idealizadora da empresa, a estudante de engenharia elétrica Juliana Martinelli conta como nasceu o conceito: “Nasceu no começo de 2014, quando li uma matéria sobre a impressão de casas na China. Nessa mesma época, meu pai estava servindo no Haiti e passei a acompanhar a realidade do país. Depois do terremoto (2010), eles não conseguiram reconstruir as casas. E vi que a tecnologia chinesa era justamente usada para cidades que haviam passado por algum desastre natural, em que eles aproveitavam os entulhos para reconstruir a cidade. Isso me despertou a vontade de levar essa tecnologia ao Haiti. Tentei pelo meu pai, por contato na ONU, mas não tive sucesso. Mesmo assim, segui pesquisando sobre a tecnologia e vi que surgiam várias iniciativas pelo mundo usando a impressão 3D aplicadas na construção civil. Depois de um evento em Brasília, criamos a InovaHouse3D”.

Para Affonso Orciuoli, CEO da RBFD, a impressão 3D entra com força no setor - Foto: Sebastião Jacinto Júnior/DivulgaçãoCusto reduzido, menos desperdício, agilidade nas construções. A expectativa da InovaHouse3D é que a impressora reduza em cerca de 40% o valor total da obra. O grupo, além da CEO Juliana, é formado por Eduardo Gonzalez, André Mitsuo, Lorena Tameirão e Bruna Figueiredo, todos oriundos da UnB. Após o desenvolvimento do protótipo, Martinelli tem a expectativa de ter o produto finalizado em um ano, para, assim, apresentá-lo a investidores. Ao participar da Construction Summit 2016, um dos grandes eventos do setor, a CEO se surpreendeu com o interesse de empresários do ramo pelo produto.