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Participação feminina

Mulheres são 10% do total de trabalhadores na construção civil em Minas

Modernização do processo de produção explica aumento desse público no canteiro de obras

Augusto Pio
Welzeli Lana de Souza, líder de produção de fábrica na Precon Engenharia, com a sua equipe - Foto: Victor Schwaner/Divulgação

Com processos mais modernos e menos braçais, a construção civil tem registrado número cada vez maior de mulheres. Para se ter uma ideia, de acordo com levantamento do Sindicato da Indústria da Construção de Minas Gerais (Sinduscon-MG), com base em dados do 
Ministério do Trabalho e Emprego, feito em 2015, existem aproximadamente 27 mil trabalhadoras no setor. Assim, a participação feminina em relação ao total de empregados do segmento é de 10% no mesmo período. Além do aumento da oferta de empregos, que tem levado a mão de obra masculina para outros setores, a modernização da construção civil ajuda a explicar o crescente número da população feminina nos canteiros de obra.

A Precon Engenharia tem em torno de 30% de mulheres em seu quadro, com destaque para a linha de produção da fábrica. Isso devido ao processo produtivo ser mais rápido, ergonômico e não demandar muita força física. Welzeli Lana de Souza, de 41 anos, está há cinco na empresa e hoje é líder de produção de fábrica. “Iniciei na Precon como auxiliar de produção e logo comecei a substituir colegas em férias e aprender a função deles. Em apenas dois meses a empresa identificou meu perfil para liderança e me deu a oportunidade de ir para o cargo no qual estou. Hoje, lidero cerca de 40 pessoas, sendo 15 mulheres.”

Ela conta que logo que a Precon iniciou o processo de seleção de mulheres para a produção, candidatou-se. “Fui classificada e comecei no cargo de auxiliar de produção. Com o tempo, perceberam meu desempenho e me deram a oportunidade de um novo cargo, o de armadora
. Amo o que faço e fico muito satisfeita em trabalhar em uma empresa que reconhece meus valores e me oferece oportunidade de crescimento profissional. Ela oferece treinamentos em diversas áreas e tem um ambiente de trabalho que é difícil de ver no mercado”, garante a armadora Júnia da Cruz, de 47, há seis anos na Precon.

Supervisora do Departamento de Segurança do Trabalho do Seconci-MG, Andreia Kaucher Darmstadter diz que é cada vez maior o interesse de mulheres pelo setor - Foto: Seconci-MG/Divulgação
De acordo com a supervisora do Departamento de Segurança do Trabalho do Seconci-MG, Andreia Kaucher Darmstadter, na área operacional, o que contribuiu para o aumento da presença feminina foi a carência de mão de obra, além do advento de novas tecnologias produtivas, que reduziram a necessidade do emprego de grande força física. “É cada vez maior o interesse de mulheres pelo setor. Basta analisar a procura delas por cursos de almoxarife, eletricista, carpinteira e até pedreira, promovidos pelo Seconci-MG.”

Além da função na Seconci, Andreia representa a bancada patronal no Comitê Permanente Nacional (CPN) e Regional (CPR) de MG, sobre condições e meio ambiente do trabalho na indústria da construção. “Considero boa a atuação feminina, pois elas trabalham com dedicação, com esmero. O interesse por uma remuneração melhor e por uma atividade profissional definida faz com que as mulheres atuem com empenho, com aplicação, nas atividades que executam. Percebo um respeito da mão de obra masculina em relação à presença feminina”, observa.

RESPONSABILIDADE

Márcia Santos, gestora de Obras do Grupo EPO, foi a responsável por coordenar a construção do Residencial Terra, entregue recentemente, no Vale do Sereno, em Nova Lima, na RMBH - Foto: Divulgação/EPOMárcia Santos, gestora de Obras do Grupo EPO, foi a responsável por coordenar a construção do Residencial Terra, entregue recentemente, no Vale do Sereno, em Nova Lima, na RMBH. E contou com uma equipe que incluiu engenheira, arquiteta, técnica de segurança e eletricista, além de profissionais de serviços gerais
. “Trabalho na EPO Engenharia há 22 anos e sempre fui muito respeitada. Quando o cliente chega e vê que vai lidar com mulheres, percebemos uma expressão de surpresa. Mas, de repente, estamos todas resolvendo tudo. Afinal, somos mais detalhistas, criteriosas na elaboração e cumprimento dos projetos e ainda temos mais jogo de cintura para atendê-los.” O Grupo EPO conta hoje co m 35 mulheres em seu quadro de funcionários.

Cássia Ximenes, primeira mulher a se tornar presidente da Câmara do Mercado Imobiliário e do Sindicato das Empresas do Mercado Imobiliário de Minas Gerais (CMI/Secovi-MG), comenta sobre a participação das mulheres no segmento imobiliário. “Foi um grande desafio chegar à presidência da CMI/Secovi-MG, entidade com 43 anos de atividades, sempre comandada por homens. Encarei esse desafio com muita alegria, principalmente por perceber que o mercado estava muito mais preocupado com o desempenho profissional do que com o fato de ser ou não uma mulher. O mercado está preocupado em manter profissionais que tenham ética, transparência, conteúdo e que contribuam com o próprio desenvolvimento do setor, o que independe do gênero. A diferença é que nós temos mais argumentos e condições de conviver com os mais diferentes conceitos e preconceitos”, afirma.