A pegada é vintage, mas jamais soará demodê. Afinal, as Garotas do Alceu, personagens criadas pelo desenhista e figurinista Alceu Penna que influenciaram gerações e falaram como ninguém sobre o comportamento e a emancipação da mulher brasileira, sempre serão lembradas com viés cultural. As histórias das Garotas deixaram de ser publicadas com a extinção da revista O Cruzeiro, em 1975, depois de 28 anos de sucesso ininterruptos quando pautavam tudo quanto era assunto. Antenadas, as Garotas desfilavam roupas em desenhos tão perfeitos que era possível identificar tecidos e cores da moda . Agora, muitos anos depois, dois dos sobrinhos do artista, Laís e Ivan Penna, debruçaram-se sobre a rica produção do tio para lançar linha de utilitários domésticos inspirados nas Garotas.
Artesanal e ainda bastante tímida do ponto de vista da produção comercial, a linha é composta por jogos americanos, porta-copos, aventais. “Já tivemos uma fábrica de camisetas, mas acabamos fechando. Com o tempo, surgiu a vontade de mudar de ramo. Assim, num clique de inspiração, criamos a linha de utilitários. Os produtos nem estão em lojas, mas têm feito o maior sucesso por meio da propaganda boca a boca”, comemora Laís.
A parceria familiar têm funcionado a contento. Enquanto Ivan é “mais criativo” para elaborar as linhas, Laís fica por conta da produção e comercialização. Além das imagens do acervo familiar dos Penna devidamente escaneadas e trabalhadas em parceria com Lívia Kot, designer gráfico, a matéria-prima é formada por tecidos remanescentes da antiga fábrica de camisetas - linho, gorgurão, oxford
Por enquanto, a dupla escoa a produção no esquema porta a porta. “Como ainda não procurei lojas para comercializar os produtos, os interessados me ligam e eu levo as peças na casa do cliente. É até bom porque muitas vezes a pessoa testa o que fica mais de acordo com sua decoração e/estilo”.
Produção frenética
Os irmãos Penna têm produtos em estoque, e também aceitam encomendas maiores (com antecedência de pelo menos 10 dias). O trabalho, conta Laís, tem a função de ganha-pão, mas também viés emocional. “Trata-se de uma tentativa de resgate da importância que o tio Alceu teve e ainda tem como artista do comportamento, da história brasileira. O traço dele foi único e carregou uma expressividade ímpar. Às vezes, fazia uma mulher em um traço só, com vários detalhes: na roupa, no olhar, nos sombreados
Além da inspiração na obra de Alceu Penna, os irmãos Ivan e Laís também produzem utilitários em outras técnicas. “Fazemos bordados e aplicações diversas para criar formas variadas”, discorre Laís. Mas não espere encontrar no acervo peças em técnicas manuais clássicas, como o ponto de cruz. “Nosso viés é mais contemporâneo, e nada linear. Geralmente, usamos fitas, filós e linhas diversas para criar figuras estilizadas, muitas vezes inspiradas em flores.”