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Green Buildings, antes tarde do que nunca

O futuro da construção civil já tem caminho traçado e a sustentabilidade não será apenas modismo. Com a sociedade engajada, revendo valores e atitudes, o setor serve como exemplo para formar uma verdadeira cultura sustentável

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postado em 20/02/2009 16:36 / atualizado em 25/04/2013 15:50
WTorre Nações Unidas, empreendimento comercial da WTorre, em SP, está em processo de certificação - GBC Brasil/Divulgação WTorre Nações Unidas, empreendimento comercial da WTorre, em SP, está em processo de certificação
*Marcos Casado

A onda de prédios verdes "Green buildings" chegou definitivamente no país. Conforme dados do Green Building Council Brasil, o número de empreendimentos registrados junto ao USGBC para obterem a certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) cresce exponencialmente, e o movimento da construção sustentável já faz parte da agenda mundial. Felizmente, não há mais como desprezar esse movimento. Ou as empresas do mercado se atualizam ou vão ficar obsoletas em um futuro próximo.

Hoje no país há quase 100 empreendimentos registrados em vários estados brasileiros buscando a certificação de desempenho ambiental para seus empreendimentos, com uma previsão de ultrapassar 200 empreendimentos no final do ano. E até 2010, a meta mundial é que 100 mil construções estejam em processo de certificação LEED.

Para receber a certificação, o empreendimento deve atender a pré-requisitos e recomendações que avaliam o tipo de terreno, a localização, a infra-estrutura local, o uso racional de água, eficiência energética, qualidade do ar interno, reciclagem e diversas outras medidas que garantam eficiência operacional ao usuário e preservação do meio ambiente, antes, durante e após a obra. Todos estes critérios começam a impulsionar e a transformar o mercado da construção civil e têm se tornado uma importante ferramenta educacional e de comunicação com o consumidor, além de criar parâmetros de qualidade para o mercado.

A sociedade está chegando à conclusão de que, embora tenha trazido o maior desenvolvimento tecnológico que a humanidade já experimentou, o século 20 também registrou a gênese daquele que vem sendo considerado o maior desastre ecológico do planeta. Quando acompanhamos os índices de poluição do ar, água ou solo, o consumo de recursos naturais e a capacidade do planeta de repor estas necessidades, temos realmente que nos preocupar.

O novo contexto global exige, cada vez mais, por parte das empresas, governantes e sociedade, a capacidade de levar em consideração fatores sociais, ambientais e econômicos de uma forma equilibrada em suas tomadas de decisão. Portanto, o desafio mundial para este século é conciliar o desenvolvimento tecnológico com a preservação dos recursos naturais, garantindo a aplicação de práticas sustentáveis por parte dos atores deste processo.

Os impactos que o mercado da construção civil deixa ao planeta são imensos. O setor é responsável por até 40% das emissões de gás carbônico diretas ou indiretas em todo o mundo; as edificações no Brasil consomem cerca de 21% de toda a água tratada, 42% da energia gerada e geram cerca de 70% dos resíduos.

A construção civil começa a demonstrar que está se adequando cada vez mais aos conceitos de sustentabilidade que estão sendo impostos em todos os setores da economia, e que a cada dia passam a ser uma exigência da sociedade, principalmente da nova geração. Os mais jovens estão começando a exigir de seus fornecedores uma postura mais correta em relação ao meio ambiente, desenvolvendo um dos maiores desafios corporativos deste milênio: o consumo consciente.

Consultores, grandes construtoras de imóveis, empreendedores e incorporadores, tanto comerciais quanto residenciais, fornecedores de materiais, insumos e tecnologias, estão aos poucos, desenvolvendo expertise nessa área, em um movimento que ganhou força nos últimos cinco anos e que hoje já começa a criar uma nova demanda no mercado da construção civil no Brasil.

Além da certificação, que com certeza tem um peso importante nesta transformação, mas por si só não será capaz de resolver todos os problemas, é muito importante o desenvolvimento de iniciativas educacionais para disseminar informações sobre as melhores práticas e tecnologias sustentáveis, a fim de capacitar os envolvidos na concepção, construção, operação e manutenção das edificações e espaços construídos. Toda essa nova visão começa a demandar cada dia mais especialistas em áreas como, por exemplo, de comissionamento de sistemas de energia, profissionais especialistas em softwares de simulação energética e profissionais capacitados em consultoria para green buildings que no caso do LEED são os LEED AP's.

Além disso, é imprescindível o engajamento do governo neste processo de transformação, por meio de incentivos, bons exemplos e políticas públicas focadas no desenvolvimento da construção sustentável. O governo, seja ele federal, estadual ou municipal, é detentor de um grande percentual das edificações construídas e também responsável por uma importante parcela das novas construções, podendo, além de praticar estes conceitos em suas construções, impulsionar o mercado para esta transformação, por meio de exemplos ou na criação de legislações que viabilizem e estimulam as novas construções ou reformas, atendendo esta nova realidade.

Um empreendimento sustentável pode reduzir em 30% o consumo de energia, 50% o consumo de água, 35% das emissões de CO2 e até 70% o descarte de resíduos. Se os clientes finais também mudarem sua postura e passarem a exigir das construtoras uma posição mais sustentável, certamente veremos um movimento muito maior do mercado nesta direção. O futuro da construção civil já tem um caminho traçado e a sustentabilidade não será apenas um modismo. As boas práticas do mercado devem ser disseminadas, assim como o maior número de informações possíveis sobre as soluções implantadas, experiências de sucesso e iniciativas em prol da sustentabilidade.

A construção sustentável veio para ficar, talvez um pouco tarde, mas, com o engajamento de toda a sociedade, revendo nossas ações e atitudes, certamente alavancará a formação de uma nova cultura baseada na visão sistêmica preconizada pela sustentabilidade.

*O engenheiro Marcos Casado é o Gerente Técnico do Green Building Council Brasil

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20 de fevereiro de 2009